Datos del trabajo


Título

CIRCULO DE CULTURA NA PESQUISA E DIALOGICIDADE EM PAULO FREIRE: DILEMAS E IMPLICAÇOES PEDAGOGICO-METODOLOGICAS A PARTIR DO EXERCICIO DA MEDIAÇAO

Introdução

Paulo Freire desenvolveu e influenciou um pensamento pedagógico assumidamente político e comprometido com a justiça social(1). Para Freire, um dos objetivos prioritários da educação era/é conscientizar o(a) educando(a). Isso significa, em relação às parcelas mais vulneráveis socialmente da sociedade, levá-las a entender e atribuir significado(s) à sua situação de opressão e agir em favor da própria libertação(2). O Círculo de Cultura, ou método Paulo Freire de pesquisa, tem contribuído diretamente com os adeptos da pesquisa-ação-participante, como também tem influenciado a própria concepção de ensinar-aprender, tornando os processos em sala de aula e nos espaços de educação em saúde pelos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) mais dialógicos, horizontais, democráticos e participativos. O uso do Círculo de Cultura em pesquisas tem trazido achados relevantes frente à suas raízes críticas e compreensivas. Dentre as temáticas consideradas prioritárias para saúde coletiva, a violência é uma importante questão a ser pensada por diversos olhares, inclusive a partir do pensamento freireano. Contudo, tem sido negligenciada na formação profissional em saúde.

Objetivos

Refletir sobre o Círculo de Cultura e sua ancoragem teórico-epistemológica à luz da dialogicidade em Paulo Freire, trazendo os dilemas e implicações pedagógico-metodológicas a partir do exercício da mediação.

Desenvolvimento

Esse trabalho é fruto das reflexões oriundas da experiência de um Doutorando/Pesquisador em processo de Mediação de Círculos de Cultura, os quais integraram a Tese de Doutorado intitulada “Educação para paz na formação em saúde: Diálogos e utopias em Paulo Freire” defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Tratou-se de um estudo qualitativo, de abordagem participativa, baseando-se nos pressupostos educativos de Paulo Freire(2,3) e que, metodologicamente, utilizou Círculos de Cultura como itinerário de pesquisa(4). Foram realizados 05 encontros, com duração média de 03 horas cada um, e participação de 23 graduandos de 07 cursos diferentes da área de saúde, vinculados(as) a 03 instituições de ensino superior do oeste catarinense: 12 de Enfermagem, 04 de Medicina, 01 de Odontologia, 02 de Farmácia, 01 de Fisioterapia, 02 de Psicologia, e 01 de Educação Física. A investigação temática iniciou após deferimento ético pelo CEPSH UFSC, sob parecer de aprovação nº 1.354.895 (07/12/15), CAAE nº 51302415.1.0000.0121, respeitando assim as premissas éticas e legais das Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Os encontros foram planejados nas três etapas dos círculos de cultura (Investigação temática, codificação, decodificação, e desvelamento crítico), e ao longo deles, questões disparadoras, textos interdisciplinares sobre violências e conceitos Freireanos nortearam os diálogos. Esse processo permitiu identificar características necessárias à mediação nos círculos de cultura como estratégia de pesquisa. O mediador precisa se ancorar na humildade, baseada na premissa freireana de que somos seres em evolução, ou seja, necessariamente inconclusos. Logo, o “não saber” sobre determinado aspecto, não significa ignorância, mas oportunidade de construir as respostas, lapidar a pergunta e desdobrá-la em novas perguntas instigadoras de aprofundamentos coletivos; precisa superar o desejo, dos(as) outros(as) e em si, de presenteá-los/as com “palestras” sobre o tema de estudo; falar menos e escutar mais, de modo que, quando instigado a dar respostas, devolva com novas perguntas que propiciem o diálogo, e não soem como inquisição à mensurar se o conhecimento do outro está certo ou errado dentro de classificações oficiais sobre os temas debatidos. A escuta ativa é uma atitude valiosa para se desprender de verdades cristalizadas, pois ela demonstra, mais que um esperto e conveniente silêncio, uma permeabilidade para o novo. Descer do alto de sua expertise propicia a horizontalidade. Eis a ironia, e ao mesmo tempo, o brilhantismo desses espaços dialógicos, que permitem o privilégio de abandonar os pedestais socialmente construídos pela elitização do conhecimento titulado nas universidades. O não julgamento, independente de alguma percepção ser radicalmente contrária ao que se pensa, e buscar nas falas dos(as) presentes elementos para eles(as) próprios trabalharem, se mostram sementes potencialmente germináveis nesse solo fertilizado pela humildade. Sobre o dilema entre ser Mediador (em processo de pesquisa ou em espaços formativos) e ser Professor, não se deve demonizar o ofício da docência associando-o necessariamente à educação bancária ou pouco problematizadora, pois se muitos assim o exercem, não significa que a profissão seja sinônimo dessas práticas pouco dialógicas(5). A inter-relação dialético-didático-pedagógica entre o ser professor e o ser educador é tão relevante na busca constante por se constituir um mediador, do que uma binariedade entre o segundo como uma evolução do primeiro, sendo essa polarização pouco coerente aos sentidos de espaços participativos e ao pensamento freireano.

Considerações Finais

Pelo exercício da Mediação, construiu-se e validou-se dialogicamente que mudanças nas relações interpessoais, sobretudo entre educador(a)-educandos(as), educandos(as)-educandos(as) e educandos(as)-profissionais dos serviços, e a incorporação do modelo problematizador de abordagem da violência no currículo pavimentam o caminho para a construção de uma cultura de paz na formação em saúde em uma perspectiva transversal e transdisciplinar. As questões apontadas aplicam-se ao círculo de cultura, quer seja em espaços formais de educação, quer seja em processo de pesquisa participativa(6). Esse é um dos maiores legados do pensamento freireano: inspirar relações humanas mais solidárias, entre as pessoas. Os Círculos de Cultura, embora complexos, inspiram espaços dialógicos factíveis pedagogicamente em serem incorporados nas matrizes curriculares dos cursos de saúde, bem como se mostram alinhados à lógica da problematização do ponto de vista teórico, epistemológico e metodológico, em estudos qualitativos participativos.

Palavras Chave

Pesquisa participativa. Círculo de Cultura. Formação profissional em saúde. Violência e saúde.

Referências

(1) Heidemann ITSB, Dalmolin IS, Rumor PCF, Cypriano CC, Costa MFBNA da, Durand MK. Reflexões sobre o itinerário de pesquisa de Paulo Freire: contribuições para a saúde. Texto contexto - enferm. 2017; 26(4): p.2-8.
(2) Freire P. Pedagogia do oprimido. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra;2016.
(3) Freire P. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes; 1979.
(4) Silva Filho CC da, Drago LC, Maestri E, Funai A, Backes VMS. Capítulo 8 - Da pirâmide para o círculo: em busca de práticas educativas participativas em saúde. In: Prado ML do, Reibnitz KS (Orgs.). Paulo Freire: a boniteza de ensinar e aprender na saúde. Florianópolis: NFR/UFSC; 2016. p. 99-116. Disponível em: <http://ebooks-saude.sites.ufsc.br/flipbook_PauloFreire/mobile/index.html#p=5>.
(5) Reibnitz KS, Prado ML do. Inovação e educação em Enfermagem. Florianópolis: Cidade Futura; 2006.
(6) Silva Filho CC da, Garcia Junior CAS, Kovaleski DF, organizadores. VER-SUS Santa Catarina: itinerários (trans)formadores em saúde. Tubarão: Copiart; 2017. Disponível em: < http://online.fliphtml5.com/wskm/cbyq/#p=1 >

Area

Políticas e processos de formação de profissionais e pesquisadores

Instituciones

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó-SC - Santa Catarina - Brasil, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) - Santa Catarina - Brasil

Autores

Cláudio Claudino da Silva Filho, Marta Lenise do Prado