Datos del trabajo


Título

VIOLENCIA(S) NA FORMAÇAO EM SAUDE: HA DIALOGO ENTRE O CONTEUDISMO DE “TEMAS” PARA REMEDIA-LA E CONSTRUÇAO RELACIONAL PARA PREVENI-LA?

Introdução

O debate sobre a violência na formação em saúde é uma recomendação frequente entre órgãos internacionais e estudos que abordam os impactos à saúde de suas diversas manifestações e tipologias. Na contramão dessa necessidade, a universidade e a formação em saúde têm se distanciado do seu papel primordial quanto à formação cidadã e de profissionais crítico-reflexivos e criativos. As experiências brasileiras no tocante à aproximação dos(as) graduandos(as) em saúde com o fenômeno da violência são cada vez mais presentes. Nota-se um esforço em inserir como tema ou conteúdo ao longo da matriz curricular obrigatória dos cursos de saúde, notoriamente da Enfermagem (a mais reportada em estudos nacionais) e um pouco menos da Medicina e Odontologia, sendo essa tríade certamente motivada por sua presença obrigatória na composição das Equipes de Saúde da Família, portas de entrada e pontos mais propícios para identificação precoce de situações de violência(1,2). Os conteúdos mais privilegiados nessas tentativas são a saúde da mulher, da criança e do idoso, focando as tipologias específicas desses grupos populacionais. Quando trabalhada em sala, fica restrita a aulas pulverizadas, bancárias/puramente expositivas, e que pouco dialogam com outros saberes em outros componentes curriculares, onde as fronteiras das disciplinas são cada vez mais enfatizadas em detrimento dos diálogos possíveis (e imperativos) demandados pelo caráter multifacetado desse fenômeno (3,4). Além disso, fica claro o quanto a inserção é conteudista e os sujeitos sociais investigados atrelam a presença da palavra “violência” à sua inserção ou não no currículo. Ou seja, sua inserção na graduação aparece centrada em disciplinas que enfatizam suas tipologias em grupos populacionais “prioritários” nos programas ministeriais, e insuficiente para um preparo adequado à uma prática humanizada.

Objetivos

Compreender como graduandos(as) em saúde, em espaço dialógico, significam e ressignificam experiências de ensinar-aprender sobre a(s) violência(s).

Método

Esse resumo é um recorte da Tese de Doutorado intitulada “Educação para paz na formação em saúde: Diálogos e utopias em Paulo Freire”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Trata-se de um estudo qualitativo, de abordagem participativa, baseando-se transversalmente nos pressupostos educativos de Paulo Freire(5,6) e que, metodologicamente, se inspira nos Círculos de Cultura, propostos pelo mesmo educador, aqui utilizado como itinerário de pesquisa. Foram realizados 05 encontros, com duração média de 03 horas cada um, e participação de 23 graduandos de 07 cursos diferentes da área de saúde, vinculados(as) a 03 instituições de ensino superior do oeste catarinense: 12 de Enfermagem, 04 de Medicina, 01 de Odontologia, 02 de Farmácia, 01 de Fisioterapia, 02 de Psicologia, e 01 de Educação Física. A investigação temática iniciou após deferimento ético pelo CEPSH UFSC, sob parecer de aprovação nº 1.354.895 (07/12/15), CAAE nº 51302415.1.0000.0121, respeitando assim as premissas éticas e legais das Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Os encontros foram planejados e mediados a partir das finalidades das três etapas dos círculos de cultura (Investigação temática, codificação, decodificação, e desvelamento crítico), e ao longo deles, questões disparadoras, textos interdisciplinares sobre violências e conceitos Freireanos nortearam os diálogos. Para análise dos dados, utilizaram-se além destes, textos que relacionam violência(s) e formação em saúde.

Resultados

Na etapa de identificação temática (a partir da questão disparadora “quais experiências de aprendizagem acerca do tema violências você vivencia ou vivenciou no seu itinerário formativo?”), foram elencados cerca de 60 temas geradores, focando-se aqui nos que abordam tal fenômeno ao longo da formação de graduandos(as) em saúde, onde eles(as) explicavam como se deu (ou não) a inserção da(s) violência(s) em seu processo formativo inicial. Os principais temas, extraídos ipsis litteris dos diálogos com/entre os sujeitos desse estudo, foram: “qual curso daria conta?”; “a nossa graduação em alguns momentos é bem superficial, o que é passado pra nós, sobre violência”; “a gente pensa (que o professor) vai mostrar tudo que eu vou precisar saber, e ele faz isso (pratica violências)”; e “a minha experiência com a violência eu tive no VER-SUS, e só, pelos corredores também... mas na sala de aula não”. Na codificação, os(as) estudantes significam que a formação inicial não aproxima o acadêmico com o tema da violência, sendo essa “aproximação” percebida como conteúdo, na perspectiva da competência em termos de conhecimentos e habilidades mensuráveis e tecnicistas, e esse fenômeno enxergado como agravo em seus sinais e sintomas. Já na decodificação, eles(as) ressignificam que a violência precisa ser abordada para além de temas específicos sobre seus tipos/modalidades/expressões. Apontam para o reconhecimento das limitações da formação, percebendo a necessidade em se transcender a lógica formativa restrita aos conhecimentos e habilidades, e considerar também as atitudes, de ambos os sujeitos no processo de ensinar-aprender: educador e educando, em uma relação não-violenta e dialógica(7,8). Como desvelamento crítico, indagam se não seria mais propositivo incluir a cultura de paz nas relações que perpassam a formação, ao invés da inserção disciplinar da violência como tema, e se implicam em uma formação que atente à prevenção de violências e estímulo à mediação pacífica de conflitos.

Considerações Finais

Inspirando-nos na proposta Freireana de pavimentar transformações para os sujeitos que participam das discussões pelo seu método, uma das principais contribuições dos círculos de cultura para os(as) graduandos(as) foi justamente a compreensão final, irônica ou não, sobre o desejo de que sua graduação em saúde fosse infalível, manifestada nos primeiros encontros, a qual foi aos poucos sendo (des/re) construída. A ressignificação deu lugar à visão, inspirada nos conceitos de Freire, de que a graduação será sempre uma formação de fato inicial. Ou seja, por mais que as graduações acolham a todas as angústias e sugestões que foram feitas nos encontros, chegando um dia a prepará-los “suficientemente” para acolher situações de violência como futuros(as) profissionais, ainda assim ela seria sempre inconclusa, incompleta e imperfeita. A cultura de paz, como estratégia para invertermos a lógica com que debatemos e praticamos a(s) violência(s) na graduação em saúde, se for compreendida de modo transversal e transdisciplinar, possivelmente, trará ganhos mais substanciais na retomada de valores formativos que previnam as violências, e não apenas lidem na formação com os seus efeitos.

Palavras Chave

Violência; Formação profissional em saúde; Conhecimentos, atitudes e práticas em saúde; Aprendizagem ativa; Pesquisa em Educação de Enfermagem.

Referências

(1) Souza ER de, Penna LHG, Ferreira AL, Tavares CMM, Santos NC. O Tema Violência Intrafamiliar em Currículos de Graduação em Enfermagem e Medicina. R Enferm UERJ. 2008; 16(1):13-9.
(2) Souza ER de, Ribeiro AP, Penna LHG, Ferreira AL, Santos NC, Tavares CMM. O tema violência intrafamiliar na concepção dos formadores dos profissionais de saúde. Ciênc. saúde colet. 2009; 14(5): 1709-1719.
(3) Baragatti DY. O tema da violência em currículos de cursos de graduação em enfermagem [disseração]. São Paulo: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2013.
(4) Bonfim EG. A temática da violência na formação da enfermagem: racionalidades hegemônicas e o ensino na graduação [tese]. Porto Alegre: Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2015.
(5) Freire P. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes; 1979.
(6) Freire P. Pedagogia do oprimido. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra;2016.
(7) Reibnitz KS, Prado ML do. Inovação e educação em Enfermagem. Florianópolis: Cidade Futura; 2006.
(8) Silva Filho CC da, Drago LC, Maestri E, Funai A, Backes VMS. Capítulo 8 - Da pirâmide para o círculo: em busca de práticas educativas participativas em saúde. In: Prado ML do, Reibnitz KS (Orgs.). Paulo Freire: a boniteza de ensinar e aprender na saúde. Florianópolis: NFR/UFSC; 2016. p. 99-116. Disponível em: <http://ebooks-saude.sites.ufsc.br/flipbook_PauloFreire/mobile/index.html#p=5>.

Area

Violências e Saúde

Instituciones

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó-SC - Santa Catarina - Brasil, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) - Santa Catarina - Brasil

Autores

Cláudio Claudino da Silva Filho, Marta Lenise do Prado