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Título

CONTRIBUIÇÕES DA FENOMENOLOGIA NA BUSCA PELA COMPREENSÃO DO CUIDADO NA PERSPECTIVA DE MULHERES QUILOMBOLAS

Introdução

O exercício do cuidado remonta ao surgimento da vida que engloba desde a luta pela sobrevivência apreendida no reino animal, bem como as relações e interações existentes entre os seres humanos. Ao longo da evolução sociohistórica e política do mundo, as formas de se expressar e vivenciar o cuidado vem sendo comumente recriadas, a fim de que consigam abarcar as especificidades espaço-temporais que caracterizam cada grupo social envolvido. Logo, ao se refletir sobre os possíveis adjetivos que caracterizam tal ação, por vezes resgata-se uma concepção subjetiva do termo aludindo-o a uma conotação de proteção, de afago e de bem-querer. Neste sentido, é notório como o cuidado é fundamental para a geração, manutenção e promoção da vida, visto que compreende o constante processo de alteridade e solidariedade, a fim de zelar pelo o bem estar e pelo respeito com o próximo. A partir disso, o profissional de Enfermagem é aquele que detém o cuidado como a razão-fim de sua ciência e de sua prática cotidiana, sua formação advêm de uma essência humanista e libertária no cuidado dispensado as pessoas nas diferentes etapas da vida, a fim de alcançar o bem comum e a equidade sociocultural e política entre os indivíduos. Todavia, uma busca nos repositórios de revistas e eventos acadêmicos relacionados à Enfermagem revelam como a literatura correlacionada apresenta-se deficitária no que se refere a estudos que incorporem certas populações em vulnerabilidade, como é o caso das comunidades quilombolas, em especial às discussões sobre a Saúde da Mulher quilombola. A Constituição Federal de 1988 é considerada o principal marco na concessão de direitos à tais populações, em que destacam-se os artigos 215 e 216 relativos aos aspectos socioculturais e o artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) no que tange à titulação dos territórios quilombolas. Entretanto, é também a partir deste texto jurídico-normativo que institui-se o direito à saúde no Brasil, o qual tem como premissa à promoção de políticas sociais e econômicas além de assegurar a garantia do acesso universal e gratuito das ações e serviços ligados à saúde, sem que ocorram distinções devido a raça, sexo e etnia, isto é, prezando-se assim, pela equidade e justiça social entre os cidadãos brasileiros. O Censo Demográfico de 2010 aponta que 54% da população autodeclaram-se como pardas e negras, sendo que deste montante, 74% são usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso, por sua vez, evidencia a importância que o programa exerce na prática do direito à saúde por esses segmentos, transformando-se no principal meio de oferta do cuidado e do tratamento do processo saúde-doença junto a tais populações. Contudo, poucas são as pesquisas e iniciativas que, de fato, identificam o quantitativo de usuários do SUS que reconhecem-se como quilombolas, o que consequentemente, corrobora com a assertiva de quão escassas são as informações fidedignas relacionadas ao acesso e a promoção da saúde destes grupos sociais. Neste sentido, é imprescindível que intensifiquem-se as ações vinculadas a projetos de pesquisa e de extensão realizados com as comunidades quilombolas, a fim de que consiga-se abarcar, cada vez mais, as mais variadas realidades socioculturais, econômicas e políticas que definem nossa sociedade. Apesar de poucas referências, nota-se que a Enfermagem já vem caminhando para alcançar esses novos horizontes, tendo como principal aporte teórico-metodológico as contribuições oriundas das pesquisas qualitativas desenvolvidas a partir de diferentes vertentes como a Fenomenologia, a Representação Social, a Hermenêutica Dialética e a Etnografia, por exemplo.

Objetivos

Realizar uma revisão narrativa sobre a Fenomenologia com o objetivo de abordar suas possíveis contribuições no que tange à compreensão do cuidado quilombola no âmbito da prática da Enfermagem.

Desenvolvimento

Tal corrente/movimento/linha de pensamento, a Fenomenologia, surge em meados do século XX na Alemanha tendo como precursor Edmund Husserl, a fim de analisar os fatos em si a partir de uma compreensão do homem considerando todas as suas dimensões existenciais. Nesse sentido, nota-se que a Fenomenologia almeja alcançar uma interpretação baseada no como o fenômeno acontece ao invés do que e o porquê ele constitui-se, o que evidentemente tem colaborado para uma melhor compreensão sobre as ações a partir do vivido de cada um dos sujeitos envolvidos. Por conseguinte, o exercício do cuidado engloba diversas dimensões, sejam elas físicas, psíquicas, sociais, espirituais, econômicas, políticas e culturais, estando atrelado a elementos individuais e coletivos, como os valores, as crenças e as tradições que vão compor o decurso das diferentes etapas de vida dos indivíduos e dos grupos sociais correlacionados. As comunidades quilombolas, em especial, as mulheres destas populações são símbolos de força e determinação, haja vista suas histórias de luta e de resistência frente aos ditames do status quo. Sendo assim tornam-se imprescindíveis que se desenvolvam pesquisas fenomenológicas direcionadas a compreender o ato do cuidado como prática de provisão da saúde, visto que cabe aos profissionais da Enfermagem desenvolver ações de promoção da saúde dos indivíduos de forma integral e livre de discriminação. Assim, tais segmentos se deparam com o desafio constante de construir um olhar humanístico e integrado sobre os sujeitos, buscando a compreensão de seu mundo-vida e de como se desenvolve o processo saúde-doença, contribuindo assim com um cuidado para além de uma perspectiva imediatista-remediadora, mas prezando por um cuidado que abarque os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais que estão por detrás de tal transcurso.

Considerações Finais

A Fenomenologia é de suma importância para a prática e os estudos desenvolvidos no âmbito da Enfermagem, pois ao passo que permite uma melhor compreensão sobre as diversidades de modos de vida e de ser de cada indivíduo assistido, incorpora as próprias especificidades e singularidades que os caracterizam e os definem, promovendo assim uma prática cotidiana do cuidado pautado no contínuo processo de diálogo igualitário e solidário com o próximo. Logo, é imprescindível que a Enfermagem, enquanto campo do saber do ato do cuidado, cada vez mais se preocupe em incorporar outras formas de cuidar do indivíduo, como os das comunidades quilombolas, a fim de que consiga ser um ofício cada vez mais democrático, plural e justo.

Palavras Chave

Area

Saúde e populações vulneráveis

Instituciones

Universidade Federal de Juiz de Fora - Minas Gerais - Brasil

Autores

Lucas Roque Matos, Zuleyce Maria Lessa Pacheco