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Título

ENFERMARIA PSIQUIATRICA EM UM HOSPITAL GERAL: PORTAS QUE ABREM OU FECHAM?

Introdução

Após doze anos de tramitação no Congresso Nacional, em 2001, foi sancionada a Lei 10.216, Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira. À disposição da lei federal, os direitos das pessoas com transtornos psiquiátricos, implantação de serviços substitutivos em todo o país e a proposta de reverter as internações compulsórias. Em 2011, ao completar dez anos da lei, foi instituída a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) por meio da Portaria nº. 3.088, de 23 de dezembro de 2011, com o objetivo de ampliar o acesso aos serviços de atenção psicossocial à população, garantindo a articulação e integração dos pontos de atenção à saúde na comunidade. Na RAPS discute-se ainda a finalidade dos serviços prestados, identificando que tem direito a enfermaria especializada no Hospital Geral qualquer indivíduo com sofrimento ou transtorno mental ou em necessidades decorrentes do álcool, crack e outras drogas, como em casos de abstinências e intoxicações severas. Diante das internações necessárias, as mesmas devem ser de curta duração em situações que evidenciem comorbidades clínicas e/ou psíquicas. Para fundamentar a RAPS, no ano seguinte é sancionada a Portaria nº 148/12, que estabelece as diretrizes do Serviço Hospitalar de Referência para as pessoas com sofrimento mental e/ou com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, assim como sua estrutura física, atuação da equipe técnica multiprofissional, implantação e incentivos financeiros. O movimento de integração das enfermarias psiquiátricas em hospitais gerais constitui um importante serviço substitutivo ao hospital psiquiátrico. Com a integração de outras clínicas, o hospital geral possibilita ao usuário um cuidado que perpassa às questões psiquiátricas. Cabe ressaltar, que o hospital geral se torna uma parte essencial na articulação de diversos outros pontos da rede de atenção psicossocial. Porém, a fundamentação desse serviço se dá de maneira complexa e difícil, que demanda diversas manifestações sociopolíticas, por meios de debates ideológicos e científicos. Estudos apontam para as dificuldades apresentadas na inserção da enfermaria psiquiátrica em hospital geral, como por exemplo, a estrutura física insatisfatória, a capacitação insuficiente dos profissionais de saúde, o modelo de assistência biomédica, o estigma e preconceito que envolvem os usuários da saúde mental. O objeto de estudo desta pesquisa abordará a assistência pelos profissionais que atuam na enfermaria psiquiátrica em um hospital geral.

Objetivos

Descrever o funcionamento da assistência de uma enfermaria psiquiátrica de um hospital geral.

Método

Estudo do tipo qualitativo com enfoque etnográfico, realizado em uma enfermaria psiquiátrica de um hospital geral, situado na cidade do Rio de Janeiro. Para a compreensão do campo, participantes e seus significados foi necessário utilizar como procedimentos metodológicos a observação participante, a entrevista semiestruturada e a análise documental. A análise documental se deteve aos dados de prontuários e livros de ocorrência de registro da enfermagem, a partir de um roteiro produzido; a entrevista a partir de um roteiro semiestruturado com a equipe multiprofissional, onde utilizou-se como critério a permanência de, ao menos, três meses no setor como tempo hábil de adaptação. A observação do campo ocorreu durante todo o período de coleta de dados, com uso de diário de campo para as anotações e um guia com os principais pontos a serem observados. A coleta de dados foi realizada durante os meses de fevereiro a abril de 2018. Para a análise do material coletado realizou-se a análise temática de conteúdo nos dados provenientes da observação de campo e análise documental e, o uso do software Alceste, análise de conteúdo do tipo lexical, para o tratamento das entrevistas transcritas. Em cumprimento da Resolução nº 466/12, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, o presente estudo foi submetido e aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa das instituições proponente e coparticipante.

Resultados

Embora a enfermaria seja instituída como psiquiátrica, ocorrem internações das especialidades de neurologia e clínica médica. O espaço físico consiste, além de oito quartos individuais e duas enfermarias com leitos duplos, um refeitório para oficinas terapêuticas, posto de enfermagem, sala de eletroconvulsoterapia. Observa-se a atuação da equipe multiprofissional na assistência aos usuários, no cuidado beira-leito e nas discussões de casos, round multiprofissional semanal. Excetua-se na reunião a equipe de enfermagem, com número de profissionais reduzidos e demandas de cuidados recorrentes. As reinternações psiquiátricas variam de acordo com o diagnóstico do usuário, sendo as mais frequentes referentes as esquizofrenias e transtornos depressivos. Nota-se ainda o esvaziamento das áreas comuns da enfermaria, devido, em partes, a falta de incentivo dos profissionais à ocupação dos espaços comuns e interação dos usuários entre si.

Considerações Finais

Diante das breves análises realizadas, este estudo possibilita a discussão sobre os obstáculos que interferem a assistência integral do usuário, sejam estruturais, relacionais ou técnicos. A assistência de uma equipe multiprofissional mostra-se essencial para a possibilidade de desinstitucionalização. Assim como, possibilita o debate sobre o fenômeno revolving door (porta giratória), demostrando que as reinternações psiquiátricas são pontos importantes que envolvem o hospital geral. Os exercícios depreendidos para a reabilitação psicossocial dos usuários tornam-se, no hospital geral, fundamentais para a desestigmatização e socialização dos mesmos à comunidade.

Palavras Chave

Enfermagem em Saúde Mental; Unidade Hospitalar de Psiquiatria; Serviços de Saúde Mental; Hospital Geral.

Area

Organização da Atenção em Saúde

Autores

Tatiana Marques Santos, Maria Angélica de Almeida Peres