Datos del trabajo


Título

COMO O ADOLESCENTE INTERPRETA AS RECOMENDAÇOES DO GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇAO BRASILEIRA?

Introdução

Guias alimentares são ferramentas de Educação Alimentar e Nutricional cujo foco é voltado para a promoção de estilos de vida saudáveis e a prevenção das doenças relacionadas à alimentação. Sua estrutura e conteúdo devem prezar pela facilidade na compreensão, praticidade, aceitação cultural e flexibilidade do texto. Esse arranjo deve ser considerado em todas as etapas de construção, inclusive, nas fases de divulgação e implementação para que seja possível alcançar resultados positivos no âmbito da saúde O Guia Alimentar para a População Brasileira é um instrumento de apoio e incentivo às práticas alimentares saudáveis, cuja implementação deve adotar metodologias que favoreçam o diálogo e o entendimento sobre o comportamento alimentar. Adolescentes são públicos para os quais estratégias educativas e motivadoras de promoção da saúde são necessárias. Contudo, entende-se como desafio adaptar as recomendações para incentivar mudanças efetivas na alimentação destes indivíduos.

Objetivos

Conhecer a interpretação das mensagens do Guia Alimentar para a População Brasileira por adolescentes.

Método

Estudo qualitativo com adolescentes do Distrito Federal e arredores, selecionados por conveniência, abrangendo 141 participantes divididos em 32 grupos de discussão, de maio a setembro de 2016. Os encontros foram conduzidos por nutricionistas treinados, com duração média de 50 minutos. Inicialmente, foi realizada uma apresentação verbal sobre a classificação de alimentos descrita no Guia Alimentar para a População Brasileira, a partir de figuras e embalagens, tendo como exemplo o processamento do milho. Em seguida, os grupos foram instruídos a: I) Ler os “Dez passos para uma Alimentação Adequada e Saudável” e conceitos relacionados, buscando a compreensão e interpretação do coletivo sobre os temas e; II) Elaborar material com a interpretação do grupo para cada passo, com linguagem e formato atrativos. Foram disponibilizados artigos de papelaria, figuras e embalagens de alimentos, brinquedos, itens festivos e outros. Ao final, cada grupo fez sua apresentação, sendo o material fotografado e as falas gravadas. Não foi realizada qualquer explicação adicional por parte das pesquisadoras, nem foram agregados conteúdos ou opiniões pessoais. Realizou-se análise de conteúdo do material, numa busca pela expressão de significados e sentidos relativos à alimentação adequada e saudável na ótica dos adolescentes. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB.

Resultados

Os adolescentes produziram encenações (n=14), textos com nova redação (n=12), músicas (n=4), fotografia (n=1) e roteiro para vídeo (n=1). De um modo geral, as apresentações dos materiais produzidos enfatizavam a necessidade de mostrar o protagonismo dos participantes, sua participação efetiva, a dinamicidade e a inovação criada pelos adolescentes em suas estratégias. Sobre a linguagem adotada, observou-se a ausência de formalidades, a inclusões de jargões próprios da faixa etária e dificuldades com a semântica, pronúncia e o desconhecimento de algumas palavras, como “minimamente processados” e “ultraprocessados”. O termo in natura foi entendido a priori, por parte dos adolescentes, como relativo a alimentos “não naturais”. Emergiram três núcleos de sentido: I) Modelo de classificação e escolha dos alimentos: Observou-se que a classificação dos alimentos foi pautada na explicação sobre o processamento empregado na produção, o qual determinou o perfil de nutrientes, sabor e outras características relativas à qualidade do produto final. Pelas narrativas foi perceptível que houve compreensão das diferentes formulações de alimentos associados a seus impactos na saúde, exceto para o iogurte. Contudo, adotaram-se outras terminologias, como “naturais” “plantas”, “frescos”, e “natureba” para os in natura, e “industrializados” para os demais. Alimentos ultraprocessados foram expressos como “besteiras” e descritos pela presença de “gordura, sódio, muito açúcar e corante artificial” e “substâncias industriais”. Ao representar a composição de uma alimentação saudável, os grupos limitaram-se a mencionar o consumo quase que exclusivo de frutas e hortaliças e escolhas alimentares mutuamente excludentes isto é, o que se pode ou não comer. II) Ambiente e práticas alimentares: O ambiente foi caracterizado como favorável ou não a uma alimentação saudável e feiras livres foram reconhecidas como espaços para “comprar alimentos mais saudáveis e ter uma alimentação mais balanceada”. Criar preparações culinárias, ou comer “alimentos feitos em casa”, foi avaliado como uma opção acertada, vinculando-se a pratos frescos, saborosos e saudáveis, e também como uma habilidade especial que precisa ser compartilhada. Exemplificam esse núcleo: “[...] Cozinhe que é melhor! Escolha alimentos saudáveis” e “Se você sabe cozinhar, use esse dom para ajudar!”, respectivamente. A concentração e o prazer no momento de comer, o envolvimento com o planejamento das refeições e atividades posteriores (lavar e guardar as louças, entre outras) não foram mencionadas nas apresentações. III) Bem-estar individual e coletivo relacionados à alimentação: Consequências do consumo de alimentos não saudáveis foram vinculadas ao bem-estar físico e emocional, como “O alimento processado não é natural, não vamos comer para não ficar mal; vamos comer o natural pra subir o nosso astral”. Destacaram-se preocupações sobre a utilização dos recursos naturais e agrotóxicos para indivíduos e ambiente. Relações econômicas e sociais da produção de alimentos também foram enfatizadas: “quando a gente está cuidando das pessoas que estão produzindo nosso alimento”.

Considerações Finais

O estudo apontou que o processo de interpretação e apropriação das mensagens do Guia Alimentar para a População Brasileira, por parte dos adolescentes, se fez a partir de adaptações em relação à linguagem das mensagens sem, no entanto, prejudicar a compreensão das diferentes formulações de alimentos e seus impactos na saúde. Destacou-se como essencial considerar o protagonismo dos adolescentes na construção da estratégia educativa e de materiais mais dinâmicos e ilustrativos sobre o tema. Além disso, os resultados indicam a necessidade de maior investimento na discussão ampliada quanto ao entendimento sobre a composição e práticas envolvidas na alimentação saudável incluindo, especialmente, o ato de cozinhar e suas etapas. Esses fatores podem facilitar a compreensão dos adolescentes e favorecer a adoção de uma alimentação saudável. Futuros estudos devem ater-se à exploração de estratégias inovadoras para adolescentes, contemplando seu entendimento sobre uma alimentação saudável, bem como investigar sua compreensão sobre a influência da propaganda no consumo alimentar. Espera-se que este estudo possa oferecer subsídios para a elaboração de outras intervenções educativas com adolescentes.

Palavras Chave

Alimentação saudável; Grupos de discussão; Análise de conteúdo;

Area

Promoção da saúde

Autores

Carolina Martins dos Santos Chagas, Raquel Braz Assunção Botelho, Natacha Toral