Datos del trabajo


Título

FAMÍLIA E O PROCESSO GESTACIONAL: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO

Introdução

O processo gestacional é um evento familiar que está atrelado aos símbolos e significados1 constituídos pela cultura de cada família. Quando a mulher engravida, ela socializa esse evento com seus familiares, que reflete em mudanças e reorganizações para todos os indivíduos envolvidos, pois se trata de um período especial nas vivências familiares, com repercussões na constituição da família e na formação de vínculos afetivos entre seus membros2,3. Destaca-se que este processo é complexo, dinâmico e transformador, uma vez que a sua vivência significa entender que a gestação vai além da dimensão física, que é marcada por alterações corporais. Consequentemente, faz-se necessário entendê-la como um fenômeno estreitamente relacionado às dimensões socioculturais4.

Objetivos

Nessa perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo apresentar o processo de desenvolvimento de uma etnografia em pesquisa acerca dos significados culturais da gestação na vivência familiar.

Método

Trabalho consistiu de uma pesquisa etnográfica realizada com quinze informantes-chave, dentre os quais quatro eram gestantes e onze eram familiares, entre abril de 2016 e janeiro de 2017 em um município da região central do estado do Rio Grande do Sul. Adotou-se o modelo de Observação-Participação-Reflexão (O-P-R)5 que é composto por quatro fases que auxiliaram a compreender o cotidiano dos informantes-chave envolvidos na pesquisa, direcionando as etapas da coleta de dados e permitindo que a imersão no contexto natural dos informantes, de maneira gradual, e a permanência neste. As quatro fases do modelo O-P-R são: a observação, observação com alguma participação, participação com alguma observação e observação reflexiva. Como técnicas de produção dos dados, utilizou-se a observação participante e a entrevista, além de o diário de campo para registrar os dados. A análise de dados seguiu o guia de análise proposto pela etnoenfermagem5. Todos os aspectos éticos das pesquisas com seres humanos foram respeitados, segundo a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A coleta dos dados teve início após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos, sob Certificado de Apresentação para Apreciação Ética nº 52531616.0.0000.5346.

Resultados

O processo analítico resultou na identificação de como a família vivencia a gestação, seus símbolos e significados, a partir de seus valores e modos de vida, sendo estes agrupados como padrões culturais de acordo com cada trimestre gestacional. Estes dados disseminam que a vivência familiar relativa ao processo gestacional não é universal operando igual em todas as culturas, mas que se trata de uma experiência construída culturalmente em cada contexto e internalizada simbolicamente por cada indivíduo. Além disso, os informantes revelaram preocupações com a rotina da gestante, que o processo analítico identificou como outros quatro padrões culturais, citados a seguir: hábitos alimentares, atividade sexual, esforço físico e preparação para a chegada do bebê. Estes achados demonstram que as crenças, os saberes e as práticas de cuidado foram construídos socialmente e refletiram no fortalecimento da cultura familiar. Ademais, apontam que os profissionais de saúde, entre eles o enfermeiro ou a enfermeira, devem investigar e buscar aspectos relevantes da vida das gestantes e suas famílias, de forma que passem a conhecê-los a ponto de compreender as dimensões simbólicas presentes na cultura em que essas pessoas vivem, podendo, assim, organizar suas orientações e planejamentos quanto ao processo gestacional e o modo de viver das famílias.

Considerações Finais

Assim, a vivência da família no processo gestacional está imbricada na cultura, sendo a visão de mundo de cada indivíduo expressa no modo de pensar, agir e se relacionar. Logo, a perspectiva cultural, que possibilita que os profissionais de saúde compreendam como se dá a vivência do processo gestacional diante das singularidades na família, determina um cuidado mais qualificado e humanizado. Além disso, considera-se que a etnografia foi adequada para este estudo devido às possibilidades de interpretação da vivência da família no processo gestacional, pois se entende que a vertente antropológica deva ser utilizada, uma vez que está estreitamente vinculada com pesquisas que se preocupam com a relação entre os fatos, fenômenos e a cultura, objetivadas nos símbolos, valores e significados, decorrendo do conhecimento desenvolvido na antropologia. Assim por meio do método foi possível concluir que a cultura padroniza a família na vivência do processo gestacional e que dentro deste padrão cultural na vivência familiar há singularidades, uma vez que em cada família a gestação pode ser percebida de diferentes formas, de acordo com suas particularidades e contexto vivido.


Referências

1. Geertz, C. A interpretação das culturas. 1 ed. [reimpressão]. Rio de Janeiro: LTC; 2014.
2. Freitas WMF, Coelho EAC, Silva ATMC. Sentir-se pai: a vivência masculina sob o olhar de gênero. Cadernos de Saúde Pública. 2007; 23(1):137-45.
3. Silva LJ, Silva LR. Mudanças na vida e no corpo: vivências diante da gravidez na perspectiva afetiva dos pais. Escola Anna Nery Rev. de Enferm. 2009; 13(2): 393-401.
4. Camacho KG, Vargens OMC, Progianti JM, Spíndola T. Vivenciando repercussões e transformações de uma gestação: perspectivas de gestantes. Ciencia Y Enfermería. 2010; 16(2):115-25.
5. Leininger, M. Culture care diversity and universality theory and evolution of the ethnonursing method. In: Leininger M, Mcfarland MR. Culture care diversity and universality: a worldwide nursing theory. Second Edition. Jones and Bartlett: Sudbury MA, 2006.

Palavras Chave

Gravidez. Família. Antropologia Simbólica. Etnoenfermagem. Enfermagem

Area

Cultura e saúde

Autores

Laís Antunes Wilhelm, Eliane Tatsch Neves, Lúcia Beatriz Ressel, Graciela Dutra Sehnem, Luiza Cremonese, Lisie Alende Prates, Caroline Bolzan Ilha, Camila Neumaier Alves