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Título

A HERMENEUTICA E OS DIALOGOS EMERGENTES: ATINGINDO NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE RELACIONAMENTOS NO FINAL DE VIDA

Introdução

A hermenêutica é uma investigação reflexiva que se preocupa em compreender o mundo, os indivíduos e todas as diversas formas que podem se manifestar(1). Espera-se que o conhecimento possa emergir do diálogo sob a forma de uma descoberta imprevisível ao invés de um resultado controlado(2). Essa metodologia pode ser aplicada em situações em que os significados não são facilmente compreendidos e que esforços são requeridos para interpretá-los(3). Não existe um método descrito para o desenvolvimento de um estudo guiado pela hermenêutica filosófica de Gadamer. Mais especificamente, não há nenhuma "receita" para ser seguida na ordem exata, com precisão e clareza, para obter resultados. Isso não significa que a hermenêutica propõe um “anarquismo metodológico”, mas sim propõe ampliar o horizonte da interpretação, oferecendo uma maneira de conhecer e compreender o mundo e, portanto, o tópico em estudo(1). Para tanto, Gadamer propõe princípios fundamentais da hermenêutica, como preconceitos e fusão de horizontes que favorecem o diálogo constante durante a produção e análise dos dados.

Objetivos

Explorar os diálogos emergentes durante o processo de produção e análise dos dados de um estudo que buscou interpretar a experiência dos pais sobre os relacionamentos com os profissionais de saúde durante o final da vida da criança com câncer no hospital.

Desenvolvimento

Os conceitos advindos da hermenêutica, como preconceitos e fusão de horizontes, permitiram identificar novas concepções e alcançar diferentes perspectivas por meio da interpretação constante. Ao analisar o relacionamento no final de vida enquanto objetivo do estudo, esclarecer preconceitos foi fundamental para ajudar os pesquisadores a incorporar dinamicamente conceitos intra e interpessoais relacionados à morte, ao morrer e ao sofrimento. A fusão de horizontes permitiu a construção de visões normativas para ajustar o diálogo entre pesquisador e participantes, ajudando não apenas na interpretação dos resultados, mas principalmente na condução de entrevistas semi-estruturadas. Para a hermenêutica, chegar a um acordo significa estabelecer padrões de referências em comum e, desta forma, atingir a compreensão por meio da fusão de horizontes. Assim, novas definições do fenômeno foram consideradas ao longo da coleta de dados pela necessidade de deslocar o foco do estudo para adaptar a interpretação à natureza plural e atemporal das interações. Assim sendo, no caminho metodológico deste estudo, por diversas vezes, o horizonte do próprio intérprete foi deslocado pela fusão entre os preconceitos do passado e as novas acepções que foram surgindo em detrimento das observações realizadas no campo de coleta de dados, do envolvimento com os participantes nas entrevistas e, posteriormente, da interação com as narrativas transcritas. Portanto, o processo de fusão dos horizontes envolve a relação do próprio intérprete consigo mesmo, considerando o passado da tradição e o presente; bem como, do intérprete com o outro, ao produzir o texto por meio do diálogo(1). As entrevistas foram o fio condutor da fusão dos horizontes para que a compreensão do fenômeno pudesse ser estabelecida. Nesse processo, ainda que um roteiro semiestruturado tenha sido construído, para as observações e entrevistas, não nos limitamos a ele para a produção de novas perguntas e de notas de campo. A ideia de se permanecer aberto à possibilidade de estar errado e de pôr em risco as próprias ideias é a essência da hermenêutica filosófica e do ciclo hermenêutico(1). A verdade não pode ser definida por uma determinada técnica ou método de pesquisa, mas é algo que transcende os limites do raciocínio metodológico (2). Gadamer argumenta que a hermenêutica que procura entender as condições que tornam a verdade possível e o significado verdadeiro da linguagem transcende a interpretação metodológica. Segundo o autor, o pesquisador não deve procurar compreender adequadamente, por trás do texto, a intenção e a consciência do autor do texto, mas deve pensar que é possível recriar as possibilidades de significado e compreensão que o texto pode conter. Os dados deste estudo foram interpretados conforme a tradição hermenêutica. Recorremos à análise de cada observação e de cada entrevista separadamente, bem como, delas como um todo. O envolvimento com a temática, por meio da literatura científica, dos filmes, das obras de arte e da troca com pesquisadores e estudiosos da área de cuidado em final de vida, deslocou por diversas vezes esses horizontes. Desde o início da coleta dos dados até a escrita final, a interpretação foi modificada para que novas unidades de sentido fossem formadas. Nesse processo, concepções foram construídas e desconstruídas, conforme novas interpretações emergiram para a compreensão do objeto do estudo. Para ajudar encontrar novos horizontes interpretativos a produção e análise dos dados foi acompanhada e supervisionada por experts, uma psicóloga especialista em luto, uma enfermeira com experiência em pesquisa qualitativa com população enlutada e um médico pediatra de um centro oncológico. As discussões com esses especialistas foram essenciais para despertar consciência sobre o processo interpretativo: identificar preconceitos, aproximar-se da fusão de horizontes e engajar em um ciclo hermenêutico. Além disso, ajudou no rigor e qualidade durante a coleta e análise dos dados, para reduzir potenciais riscos aos participantes e pesquisadores devido a sensibilidade do tópico investigado(4).

Considerações Finais

Ao final do estudo, definiu-se relacionamento como um fenômeno amplo que envolve toda e qualquer interação estabelecida em função do atendimento das crianças e famílias ao longo da trajetória da doença, com ênfase especial no processo de fim de vida e luto familiar. Essa definição foi desmembrada, em contraste com as expectativas preliminares, já que o relacionamento não se concentra nem em um único binômio, nem em um tempo específico, como no fim da vida. Assim, a hermenêutica conduziu um diálogo preciso para capturar a magnitude e a complexidade das relações vivenciadas pelos pais de crianças com câncer no hospital.

Palavras Chave

Hermenêutica, Pesquisa qualitativa, Relacionamento profissional-família

Area

Outros

Autores

Maiara Rodrigues Santos, Natália Nigro Sá, Regina Szylit