Datos del trabajo


Título

A VIOLENCIA OBSTETRICA SOB O OLHAR DE PROFISSIONAIS DE SAUDE

Introdução

Violência obstétrica refere-se a todas as formas de violência originadas durante a assistência ao ciclo gravídico-puerperal ou abortamento, perpetradas por profissionais de saúde em instituições de atendimento. Caracteriza-se por qualquer intervenção ou ato direcionado à gestante, parturiente ou puérpera sem o seu consentimento explícito ou com desrespeito à sua autonomia e integridade física, mental ou emocional. Também inclui assistência desumanizada, abuso de medicalização e patologização de processos naturais de gestação, parturição ou abortamento. Essa modalidade de violência também pode ser considerada institucional, uma vez que ocorre em instituições prestadoras de cuidados à saúde.

Objetivos

Identificar e analisar os significados atribuídos à violência obstétrica por médicos e enfermeiros obstetras com vínculos de trabalho na rede pública de assistência ao parto.

Método

Pesquisa social do tipo estratégica, de natureza qualitativa. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com 13 profissionais de duas instituições públicas de atenção ao parto em Goiânia, Goiás, entre setembro de 2016 e janeiro de 2017. O material proveniente das entrevistas foi analisado por meio do Método de Interpretação de Sentidos, gerando três categorias temáticas. A primeira, “Humanização da assistência à parturiente”, os profissionais relataram o significado e as práticas de humanização da assistência ao parto. A segunda, “Vivências da violência obstétrica”, diz respeito aos significados da violência, suas manifestações, sendo o cuidado indigno, abuso físico, cuidado não confidencial e a discriminação os mais expressivos para a ocorrência desses atos. A terceira, “Conhecimento sobre o período gravídico-puerperal”, os participantes relataram a falta de conhecimento das parturientes sobre a gestação, parto e puerpério, além da ineficácia do pré-natal para preparar as gestantes para o parto.

Resultados

De modo geral, os participantes significaram a Violência Obstétrica (VO) como um desrespeito à autonomia e aos direitos de escolha da mulher e reconheceram suas raízes culturais e organizacionais no sistema de saúde. A influência da área de formação profissional repercutiu na concepção de VO, transitando de incredulidade e negação da existência do fenômeno à percepção cotidiana das diversas formas de VO que atingem a parturiente. A disponibilização de conhecimento sobre o parto foi apontada como um elemento de empoderamento feminino e ferramenta de enfrentamento da VO. Entraves políticos, sobrecarga de serviço e falta de recursos financeiros e humanos foram mencionados como obstáculos à assistência qualificada ao parto. Alguns caminhos para a solução ou redução dessas barreiras foram verbalizados pelos participantes: contratação de profissionais habilitados para atuação em partos humanizados e cursos de capacitação profissional voltados para a melhoria do atendimento à parturiente e família. O significado da VO para esses profissionais assume ampla configuração, contemplando todo o período gravídico-puerperal, o que remete a uma desvalorização da autonomia das parturientes, ao desrespeito aos seus direitos de escolha, incluindo o direito de decidir sobre a via de parto, e aos maus-tratos durante a assistência obstétrica. Vimos que essa violência está pautada na intolerância ao próximo e na discriminação das mulheres que frequentam as maternidades públicas. Essas mulheres são discriminadas em função da sua classe social, de modo que os profissionais as julgam incapazes de decidir sobre seus processos fisiológicos, anulando suas vozes e sua autonomia. Nesse contexto, a VO é banalizada mesmo estando presente durante o cotidiano da assistência obstétrica, tal como reportado nas falas dos entrevistados. Observamos um ciclo em torno da banalização do sofrimento da parturiente, naturalização e invisibilidade da violência que não permite que os profissionais reflitam sobre sua prática. Dessa forma, a VO é velada, invisível aos olhos da equipe de saúde, gerando, ao seu redor, sentimentos de negação e hostilidade. Durante as entrevistas, percebemos que os profissionais se sentiam ofendidos na medida em que interpretavam que os questionávamos em sua autoridade e na legitimidade de suas ações, assumindo, por vezes, uma postura defensiva e hostil. Em nosso estudo, foi possível apreender que a VO se manifesta por meio do abuso físico, do cuidado indigno, da demora no atendimento e da falta de informação à gestante durante o pré-natal. Os resultados evidenciam a precariedade dos recursos materiais e humanos, a falta de informação da parturiente e do profissional, a rotina, a alta demanda e a descontinuidade do pré-natal, o que configura um espaço fecundo para a ocorrência da violência obstétrica. As vivências dos profissionais a respeito da violência obstétrica emergiram de suas falas quando mencionaram desrespeito aos direitos da mulher, incluindo o direito à escolha do tipo de parto, e maus-tratos durante o atendimento (desde o pré-natal até o período puerperal). Verbalizaram, também, algumas das principais manifestações da VO durante a rotina profissional, entre elas, abuso físico, cuidado indigno (por exemplo, abusos verbais, humilhações e falas desrespeitosas), demora no atendimento e falta de informação à gestante durante o pré-natal. Contudo, alguns entrevistados não conseguiram reconhecer a existência da VO durante a assistência em saúde à parturiente. Nas falas, também observamos que, sob suas perspectivas, os principais desencadeantes da VO eram a falta de médicos e enfermeiros obstetras capacitados para a atuação no parto humanizado, ausência de informação da parturiente e do acompanhante, falta de capacitação e atualização do profissional, rotina engessada das maternidades, que afastava os obstetras da realização do parto vaginal sem distócias, e sobrecarga de trabalho. Alguns profissionais identificaram raízes culturais que permeiam esse contexto e que podem contribuir para desestimular as parturientes a optarem pelo parto vaginal como desfecho natural para o parto. Os profissionais apontaram caminhos para o enfrentamento da VO, por exemplo, abordagem do tema, e de como lidar com situações estressantes durante a formação profissional, neste caso por meio de treinamento e capacitação específicos para a realização de parto humanizado, contratação de recursos humanos habilitados, maior fiscalização por parte da diretoria hospitalar, além da sensibilização do profissional quanto ao tema.

Considerações Finais

O estudo contribuiu para uma melhor compreensão dos significados atribuídos à violência obstétrica e forneceu subsídios para que ações concretas relacionadas a essa questão possam ser consideradas na elaboração de políticas públicas para enfrentamento deste fenômeno e melhoria da qualidade da assistência à parturiente.

Palavras Chave

Violência contra a Mulher; Saúde da Mulher; Saúde Pública; Parto;
Trabalho de Parto

Area

Violências e Saúde

Autores

Mayara Guimarães dos Santos, Marcelo Medeiros, Daiana Evangelista Rodrigues Fernandes