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Título

ESTUDO DE CASO: REFLEXÕES SOBRE A APLICABILIDADE DO MÉTODO EM PESQUISAS NA SAÚDE GINECOLÓGICA

Introdução

O Estudo de Caso difundiu-se a partir de 1994 pela obra de Robert Yin, que utilizou esse método em suas pesquisas na área das Ciências Sociais Aplicadas. No decorrer dos anos, este método tornou-se uma estratégia para condução de pesquisas, cujos resultados são apresentados nas produções científicas em todas as áreas do conhecimento. O estudo de caso permite desvelar processos sociais, propiciando a construção de novos conceitos e categorias durante a investigação, não conseguidas plenamente por um levantamento amostral e avaliação exclusivamente quantitativa. Ainda, destaca-se que a investigação qualitativa aplica-se ao estudo das relações, representações, percepções, valores, crenças e hábitos, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem e relacionam-se. Assim, o estudo de caso é uma abordagem metodológica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do contexto da vida real e, como toda a pesquisa qualitativa, trata do fenômeno numa perspectiva subjetiva, não generalizando, mas oferecendo exemplos situacionais, buscando sua compreensão.1 Os estudos de caso utilizam estratégias de investigação para mapear, descrever e analisar o contexto, as relações e as percepções a respeito da situação, fenômeno ou episódio em questão, objetivando apreender a totalidade de uma situação, compreendendo e interpretando a complexidade de um caso concreto, mediante mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado. Tais características justificam a escolha da abordagem qualitativa para pesquisas na área da atenção ginecológica.

Objetivos

Evidenciar o emprego do estudo de caso na produção de dados de uma tese de doutorado sobre atenção à saúde ginecológica e a produção da integralidade em saúde.

Desenvolvimento

Pesquisa qualitativa e exploratória, adotando-se procedimentos metodológicos do estudo de caso. Como tal, pode contribuir para o conhecimento dos fenômenos individuais, sociais, grupais, organizacionais, políticos e relacionais, nas situações em que as questões a serem respondidas são do tipo “como?” ou “por quê?”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos inseridos no contexto da vida real. Como referido na literatura, o estudo de caso é realizado a partir da utilização de várias fontes de evidências, que precisam convergir, oferecendo condições para afirmar fidedignidade e validade dos achados da pesquisa, através da triangulação dos dados.1 No presente estudo utilizou-se três fontes de produção de dados: entrevista semiestruturada, observação direta e grupo focal. Assim, as consultas ginecológicas foram estudadas a partir percepção das usuárias, profissionais, diretor municipal e dos coordenadores dos serviços de saúde que compõem a rede pública de saúde de um município do oeste de Santa Catarina nos três níveis de atenção. Com base nos achados da pesquisa, destaca-se que a oferta de serviços na lógica da integralidade ainda é uma meta a ser atingida representando os limites que a rede de atenção apresenta para reconhecer necessidades que extrapolam o que a epidemiologia define como prioridade – colo do útero e mamas. Os projetos de pesquisa propostos na perspectiva de um estudo de caso são compostos por cinco componentes fundamentais, dentre eles: as questões do estudo, as proposições, as unidades de análise, a lógica que une os dados às proposições e os critérios para interpretar as constatações.1 Os dois primeiros componentes (as questões e as proposições de estudo) apresentaram-se na introdução do estudo, sugeridos na forma da questão de “como” e “por quê” (como as consultas ginecológicas apresentam-se na rede pública de atenção em saúde do Oeste de Santa Catarina e, por que as mulheres buscam por esse atendimento). Cada proposição dirige a atenção para um componente a ser pesquisado no escopo do estudo. O terceiro componente do estudo de caso, a unidade de análise, relaciona-se com o problema da pesquisa, o “caso” a ser estudado, o qual tem a ver com o objetivo do estudo. Neste estudo, a unidade de análise – consultas ginecológicas realizadas na Rede de Atenção à Saúde do Oeste de Santa Catarina – está configurada a partir da questão de pesquisa “Como se organiza a atenção à saúde ginecológica na rede pública de saúde do Oeste de Santa Catarina e qual o seu potencial para produzir integralidade em saúde?”. A presente pesquisa caracteriza-se como estudo de caso holístico, ou seja, utilizado quando não é possível identificar nenhuma subunidade lógica à teoria em questão subjacente ao estudo de caso é ela própria de natureza holística. A triangulação utilizou-se com a finalidade de possibilitar a complementação das informações geradas por cada uma das estratégias de pesquisa, aprofundando o conhecimento e a compreensão do caso em estudo. Ademais, a triangulação possibilitou a identificação de similaridades e diferenças entre as possíveis conclusões da análise dessas informações. Assim, para aumentar a fidedignidade, confiabilidade e a credibilidade das informações da pesquisa, utilizaram-se quatro critérios.1 O primeiro, corresponde à validade do construto, ou seja, à utilização de múltiplas fontes de evidências e estabelecimento de um encadeamento das evidências. O segundo, validade interna da pesquisa, ocorreu através da saturação teórica dos dados e, o terceiro, a validade externa, deu-se pela identificação de algum grau de generalização das descobertas do estudo, comparando-se os resultados com conclusões de outras pesquisas, também desenvolvidas sob o mesmo marco conceitual aqui utilizado. O último critério é o da confiabilidade, ou seja, a partir da descrição clara dos procedimentos utilizados para desenvolver a pesquisa e das escolhas teórico-metodológicas realizadas, onde afirma-se que ao conduzir o mesmo estudo de caso outro pesquisador chegará a conclusões similares. A interpretação das informações obtidas foi orientada pela análise de conteúdo, utilizando-se como guia os objetivos da pesquisa e o referencial teórico que a embasa.

Considerações Finais

As reflexões acima destacam a importância do estudo de caso que, oriundo das ciências sociais, muito tem contribuído com as pesquisas no campo da saúde. O referido método evidenciou que, apesar da retórica ênfase presente nas Políticas e Programas dirigidos à saúde das mulheres, a saúde ginecológica segue sendo praticada de modo restrito e simplificado, ainda é majoritariamente contemplada na perspectiva da capacidade reprodutiva e no controle de doenças de relevância epidemiológica, contrapondo-se à lógica da integralidade em saúde.
Referências:
1. Yin, RK. Estudo de caso: planejamento e métodos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman;

Palavras Chave

Enfermagem; Estudo de caso; Saúde da Mulher.

Area

Saúde da Mulher