Datos del trabajo


Título

UM CASO DE DEPRESSAO NA CLINICA DE ABORDAGEM SISTEMICA

Introdução

O foco da terapia individual sistêmica é o indivíduo como um sistema em relação. No atendimento individual, o problema trazido é entendido influenciando nos demais integrantes da família, assim como as mudanças individuais refletem no sistema familiar. A terapia na abordagem sistêmica considera o pressuposto básico do pensamento sistêmico que entende o todo maior que a soma de suas partes, estando estas em constante interação. A leitura da dinâmica familiar deve considerar as influências advindas dos segredos, mitos e legados familiares, dos padrões de funcionamento e aqueles que dizem respeito ao estágio do ciclo de vida familiar. O desenvolvimento individual se estabelece no contexto familiar, sendo que a cada estágio do ciclo vital é esperado avanços e novas aprendizagens. Assim, o processo de autonomia e diferenciação da massa familiar se desenvolvem no relacionamento intergeracional, e envolvem responsabilizações de seus membros. Avaliar o estágio do ciclo de vida familiar é tão importante quanto conhecer a transgeracionalidade, ou seja, tudo que foi transmitido de uma geração para outra. As transmissões geracionais envolvem padrões relacionais repetitivos, expectativas e exigências de respostas e regras de funcionamento familiar. A forma como as pessoas se relacionam revelam a carga emocional concebida em relações anteriores, que são atualizadas sem que as pessoas percebam. O entendimento sistêmico da depressão é complexo por ser multifatorial, envolvendo aspectos genéticos/biológicos, emocionais e sociais.

Objetivos

O presente estudo de caso objetivou compreender os fatores em interação etiológicos e mantenedores do funcionamento depressivo, bem como conhecer os padrões relacionais disfuncionais que impedem o processo de novas aprendizagens.

Método

O estudo de caso é um método descritivo e exploratório que permite, a partir de um referencial teórico, compreender os dados de realidade identificados e ampliar o campo de visão do pesquisador. O estudo descreve o caso de uma mulher de quarenta anos, mãe de dois filhos, que apresenta sintomas depressivos e inadequação no atual ciclo de vida familiar. Por meio do genograma, procedeu-se o estudo transgeracional para conhecer a família de origem e os padrões relacionais que se repetem. Com base nas narrativas das histórias e eventos da família, obteve-se a compreensão dinâmica da família nuclear e do padrão de funcionamento que impede o desenvolvimento de novas aprendizagens. Os atendimentos terapêuticos foram realizados em uma clínica-escola de Psicologia de uma instituição de ensino superior do interior do Rio Grande do Sul. A paciente procurou o serviço de psicoterapia após avaliação na triagem da clínica-escola e por já fazer uso de medicação psiquiátrica indicada no sistema público de saúde. A mesma aceitou participar do estudo, assinou e teve plena ciência do inteiro teor do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que também permite a utilização de todas as informações para estudo científico, guardando total sigilo quanto a identidade do participante. As sessões foram gravadas, transcritas na íntegra e, posteriormente descartados os áudios. Totalizaram quinze atendimentos individuais, a partir de um plano terapêutico com o objetivo de possibilitar mudanças, adquirir autonomia e crescimento. O trabalho clínico na abordagem sistêmica não prioriza o sintoma, mas sim a mudança e a aprendizagem de novos padrões relacionais.

Resultados

: No início, a paciente procurava atribuir aos demais membros da família a responsabilidade pelos seus conflitos e angústias. Tinha uma visão negativa de si, sentimento de desesperança e desvalia. A família atravessava simultaneamente o estágio com um filho na infância e outro com uma filha adolescente em processo de autonomia e busca pela independência financeira. A paciente deparou-se com as questões de sua própria adolescência e sua dificuldade em se diferenciar da família de origem. Nesta, desempenhou papel de mãe dos irmãos mais novos, até casar e ir morar com o marido. Iniciou o processo de independência emocional e conseguiu visualizar outras possibilidades, a partir do entendimento dos papeis que exercia e do padrão de funcionamento com os filhos que impediam que se desenvolvessem. Quanto ao filho de nove anos, a paciente possibilitou seu desenvolvimento em todos os aspectos, uma vez que dificultava suas interações sociais, restringia experiências novas e, assim, novos aprendizados. A filha, com dezenove anos, foi estimulada a prosseguir seu caminho, construindo novos vínculos de forma mais saudável, a buscar possibilidades quanto a formação acadêmica e profissional. A vida conjugal tornou-se mais funcional a partir do entendimento dos diferentes papeis desempenhados na família. Conseguiu estabelecer uma comunicação adequada com espaço para o diálogo, para a vida sexual com maior qualidade e verbalizar sentimentos com mais leveza. As mudanças realizadas pela paciente refletiram em todo sistema familiar, abrindo para trocas de experiências e enriquecendo as relações. A paciente passou a investir em si com foco no seu autodesenvolvimento, gerenciando sua vida e desempenhando novos papeis com melhor adequação emocional ao ciclo de vida atual. Os sintomas depressivos foram gradativamente atenuando, a paciente aprendeu identificar sinais que a desestabilizavam e conseguia se manter estável e funcional. A filha, “rebelde” e “desobediente”, passou a ser uma adolescente buscando se desenvolver e construir seu próprio caminho. O filho, “hiperativo”, pôde vivenciar experiências próprias da idade, desenvolver a criatividade e, simultaneamente, diminuíram as queixas escolares.

Considerações Finais

A leitura sistêmica com relação a depressão, permitiu identificar as áreas de tensionamento nas relações familiares que desestabilizou o sistema e as forças envolvidas que contribuíam para o sintoma. Por meio do genograma, foi possível conhecer a estrutura e configurações das famílias de origem e nuclear, promovendo reflexões acerca dos vínculos afetivos, dos legados e repetições de uma geração para outra. O caso demonstra um estágio do ciclo de vida vivenciado de forma disfuncional, pode se atualizar e interferir no desenvolvimento natural da família.

Palavras Chave

Depressão; transgeracionalidade; terapia sistêmica; ciclo de vida familiar

Area

Saúde Mental

Instituciones

Faculdade Meridional IMED - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Rosângela Andreoli Ortiz, Cláudia Mara Bosetto Cenci, Danielle Doss Damo Martins Silva