Datos del trabajo


Título

A EXPERIENCIA DO ACOMPANHANTE DIANTE DA VIOLENCIA CONTRA A MULHER NO TRABALHO DE PARTO E PARTO

Introdução

Mulheres em todo o mundo sofrem abusos, maus-tratos e são desrespeitadas durante o trabalho de parto e parto, tendo seus direitos violados, provocando riscos à sua saúde, além da integridade física e psicológica. Tais fatos impulsionaram discussões sobre a violência no parto nas esferas jurídica, política e de práticas assistenciais. Ciente deste contexto, a estratégia de atenção à saúde da mulher, adotada pelo Ministério da Saúde e conhecida como Rede Cegonha, é fundamentada nos princípios da humanização e visa garantir às mulheres e aos recém-nascidos o direito à assistência segura e de qualidade. Assim, um dos componentes dessa estratégia menciona como prioridades a implementação do direito ao acompanhante, as boas práticas obstétricas, a ambiência adequada e o estímulo ao parto vaginal (1). A presença de um acompanhante de escolha da mulher durante o trabalho de parto e parto traz benefícios para a mulher, entre eles a segurança, a redução do medo, o empoderamento para parir (2) além de contribuir para a satisfação com a experiência(3). Embora as mulheres que possuam acompanhante tenham uma melhor percepção sobre o atendimento recebido e menor chance de sofrer violência verbal, psicológica ou física(4), a sua presença não é capaz de coibir totalmente a violência institucional.

Objetivos

Compreender como a violência contra a mulher no trabalho de parto e parto interfere na experiência do acompanhante de parto.

Método

Estudo de abordagem qualitativa, do tipo exploratório e descritivo, inserido em um macroprojeto com desenho metodológico misto (quantitativo e qualitativo). Foram realizadas 10 entrevistas com acompanhantes de parto entre os meses de outubro de 2017 a abril de 2018 por meio de contato telefônico, utilizando-se um roteiro semiestruturado. Os informantes foram os acompanhantes de parto que relataram a ocorrência de alguma forma de violência contra parturiente durante o trabalho de parto e parto. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas. A análise dos dados foi realizada a partir das seguintes etapas: pré-análise, com organização do material; exploração do material ou codificação; tratamento dos resultados, inferência e interpretação(5).

Resultados

A partir da análise dos dados foram depreendidas três categorias: “Ansiedade e nervosismo diante do sofrimento da mulher”; “Uma experiência traumática”; e “Sentir-se impotente diante dos profissionais”. Na primeira categoria, os acompanhantes relataram ansiedade ao perceber a agressão contra a mulher, sendo mencionado por um dos entrevistados, que já havia vivenciado o parto em outro momento, nunca imaginar que passaria por aquela situação de violência. Outros referiram nervosismo por não saber como reagir diante da violência contra a mulher – em alguns momentos identificada como tal somente após o parto. A experiência marcou de forma negativa e alguns relataram ser preferível a realização de uma cesariana a permitir o sofrimento que a mulher viveu no momento do parto. Na categoria “Uma experiência traumática”, os acompanhantes relataram atitudes que geraram constrangimento, ao serem ofendidos por profissionais ou até mesmo ignorados quando opinavam sobre procedimentos. Além do sentimento de medo de serem desrespeitados, caso se emponderassem diante da equipe no momento em que identificaram a situação de violência, as atitudes dos profissionais reprimiram a atuação do acompanhante. Alguns entrevistados sentiram-se humilhados, principalmente ao relatar que o parto que acompanharam estava muito distante do ideal da humanização, afirmando o quanto fora traumatizante vivenciar aquela experiência e reforçando aspectos negativos do parto. Na última categoria, “Sentir-se impotente diante dos profissionais”, ficou evidente o discurso disciplinador dos profissionais de saúde, limitando as posições que cada um deveria assumir no momento do parto, ignorando ou inferiorizando o acompanhante. Tais ocorrências foram detectadas por meio das falas em que o próprio acompanhante se reconheceu como ignorante e o médico - a autoridade. Dessa forma, as relações entre os profissionais de saúde e o acompanhante foram, por vez, conflituosas, especialmente, quando mencionado o dever de obediência aos profissionais que assistiam à mulher. As situações de violência contra a mulher, identificadas pelos acompanhantes, em um primeiro momento foram de difícil entendimento, principalmente por acreditarem se tratar de rotinas hospitalares, e, por fim, declararam sentirem-se de “mãos atadas”, impotentes, diante das atitudes dos profissionais de saúde. Houve um relato da realização da manobra de Kristeller e utilização do fórceps em que não foram esclarecidos os motivos e nem mesmo como seriam realizados os procedimentos, causando desconforto e sentimento de impotência no acompanhante.

Considerações Finais

A presença do acompanhante de parto nas maternidades é um direito da mulher, além disso, esta prática pode contribuir para uma experiência positiva e prazerosa. Dessa forma, espera-se que o acompanhante seja acolhido e orientado pelos profissionais de saúde para prover, principalmente, suporte emocional e físico no trabalho de parto, parto e pós-parto. Nesta investigação, as experiências de parto, relatadas pelos acompanhantes, diante da violência institucional, revelam, além do despreparo dos profissionais de saúde, a urgência de disseminar informações referentes aos direitos dos usuários dos serviços de saúde e à tomada de decisão compartilhada. A violência contra a mulher impacta de forma avassaladora na experiência do parto, provocando sentimentos negativos no acompanhante, pois ele se sente impotente para transformar a situação estabelecida.
Referências:
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Portaria nº 1.459/GM, 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS – a Rede Cegonha. Diário Oficial da União. Brasília (DF), 27 jun. 2011, seção 1, p. 109.

2. Brüggemann OM, Osis MJD, Parpinelli MA. Apoio no nascimento: percepções de profissionais e acompanhantes escolhidos pela mulher. Rev Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2007. 41 (1): 44-52.

3. Diniz CSG et al. Implementação da presença de acompanhantes durante a internação para o parto: dados da pesquisa nacional Nascer no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2014. 30 (supl. 1): S140-S153.

4. D'orsi,. Desigualdades sociais e satisfação das mulheres com o atendimento E et al ao parto no Brasil: estudo nacional de base hospitalar. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2014. 30 (supl. 1): S154-S168.

5. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.

Palavras Chave

violência, saúde da mulher, parto, trabalho de parto, apoio social

Area

Violências e Saúde

Instituciones

Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina - Brasil

Autores

Carolina Frescura Junges, Odaléa Maria Brüggemann, Marília Sabrina Nunes Ribeiro