Datos del trabajo


Título

OS RISCOS A SAUDE DO TRABALHADOR: PERCEPÇOES DOS AGENTES COMUNITARIOS DE SAUDE

Introdução

Historicamente, a saúde do trabalhador é um desafio interdisciplinar do campo da saúde coletiva, compartilhado entre as mais diversas áreas, com o intuito de possibilitar processos e ambientes laborais calcados nos preceitos da promoção, prevenção, higiene e segurança do trabalho(1). Para a garantia dessas dimensões, diversos dispositivos legais chamados normas regulamentadoras foram criados nos últimos 30 anos. Contudo, observa-se a dificuldade de garantir condições mínimas de trabalho em todos os campos, sobretudo aos trabalhadores atuantes no SUS. A este despeito, remetemo-nos ao profissional Agente Comunitário de Saúde (ACS), cujo processo de trabalho é compartilhado entre o cenário institucional e também ao território, através de atividades externas.

Objetivos

Identificar sob a perspectiva do ACS, os riscos à saúde oriundos do seu processo de trabalho.

Desenvolvimento

METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo, exploratório transversal com abordagem qualitativa, desenvolvida em uma unidade de Clínica da Família, situada no município do Rio de Janeiro. Foram entrevistados 16 ACS e a respectiva análise das informações se deu a partir do referencial teórico-metodológico de Bardin. Ressalta-se que toda a pesquisa foi construída e realizada, respeitando os preceitos éticos e dispositivos legais em vigor. Resultados: Diante a análise das informações coletadas e baseando-se na classificação de risco(2), observou-se a existência de riscos ergonômicos e biológicos. O mais prevalente foram os riscos ergonômicos, presentes na percepção de 66% dos entrevistados. Os riscos ergonômicos estão associados à necessidade de adaptação do trabalhador à sua função laboral. Neste sentido, a NR17 estabelece parâmetros para a adequação do trabalho ao homem - e não o contrário - de forma a respeitar a integridade física e psicológica dos trabalhadores, com o objetivo de garantir-lhes segurança, desempenho positivo e condições satisfatórias de trabalho(3). Na perspectiva psicológica desses trabalhadores, ficou evidente o medo constante do desconhecido, como ficou relatado pelo ACS1 em “(...)paciente nos agredir(...)” e “(...)ir à rua(...)”. Nessa conjuntura, essas situações que acometem a integridade mental dos ACSs culminam no “(...)desgaste emocional(...)” que foi citado pela ACS2 e ACS10 e também em “estresse”, palavra utilizada por 25% dos ACSs. Outrossim, pode-se inferir que os danos físicos aos quais esses trabalhadores estão sujeitos podem ser de natureza física ou também psicológica, por meio de pressões que o trabalho impõe. Quanto à colocação desses trabalhadores no ambiente físico, foi percebido que o arranjo físico é deficiente, de forma que acomete e compromete - além do psicológico - o sistema osteomuscular desses trabalhadores. Os processos de atendimento à população executado pelos ACSs no acolhimento e nas visitas domiciliares são mais alguns desafios para a saúde do trabalhador. “Ficar muito tempo em pé(...)”, “(...)ficar muito tempo sentada(...)”, “(...)dor nas costas(...)”, “(...)andar, meu pé dói muito(...)”, definições similares ou idênticas à expressada pela ACS4 foram corriqueiras na análise de dados, como um reflexo do desconforto associado à dinâmica de trabalho que exige do trabalhador uma versatilidade além do suportado. Nessa perspectiva, o trabalhador ACS, ao ter uma rotina desgastante, é acometido por uma, sobrecarga física e emocional, o que culmina em desgastes para além do espaço laboral, como relatado pela ACS7 “Não consigo me desligar do trabalho(...)”. Não obstante a isso, observou-se a existência dos riscos biológicos em 66% das entrevistas. Os riscos biológicos são riscos originados de microorganismos que podem vir a provocar danos à saúde do trabalhador, como bactérias, fungos, protozoários e vírus(4) . Durante a coleta de dados, os ACS relataram tanto a exposição direta a microorganismos potencialmente perigosos para a saúde do trabalhador quanto a situações agravantes, como o manejo eventual de materiais perfurocortantes e as visitas domiciliares a ambientes insalubres, como exposto no relato do ACS1 “Paciente chega na clínica com alguma queixa de saúde grave, e ao se reportar ao ACS no acolhimento, que não tem um preparo para atender (...), já é um risco à saúde. Um material cortante, como nos procedimentos de vacina, pessoa se agitar e quebrar e contaminar todo mundo.” Além disso, o ACS10 ressalta sua vivência “(...) numa visita que fiz, (...) debaixo de um sol doido e o apartamento estava com todas as janelas fechadas”. Fica clara a percepção dos ACS sobre um potencial risco de contaminação por doenças transmitidas por vias aéreas, sobretudo em visitas domiciliares, já que a ingerência desses espaços não é de responsabilidade da equipe de saúde e, algumas vezes, isso pode se desdobrar em um possível processo de adoecimento ao trabalhador. Quanto à percepção dos agentes etiológicos citados pelos trabalhadores participantes da pesquisa, prevaleceu nas entrevistas a conjuntivite e a tuberculose. Os entrevistados também alegam estarem em risco permanente de contágio a diversos, pois trabalham diretamente com os clientes em busca de atendimento às necessidades de saúde, conforme indica a ACS2 “Pegar as doenças. Se eu tenho contato direto com os caras…” e a ACS3 “[...] você lida com pessoas que possam transmitir alguma coisa a você, tipo, você entra na casa das pessoas, agora com esse surto de conjuntivite, é um risco que você está correndo.”

Considerações Finais

Diante desses dados, percebe-se que o cunho do problema observado no trabalho dos ACSs está atrelado à disposição do ambiente que, a longo prazo, culmina em processos de adoecimento. Esse adoecimento pode exigir afastamento definitivo ou temporário do trabalhador ou submetê-lo ao trabalho desgastante, fazendo-o entregar-se às dificuldades do dia a dia de forma errônea, despercebendo o impacto de suas atitudes na preservação da integridade física. A exigência do trabalho em condições de adoecimento do trabalho não necessariamente vem por parte do empregador diretamente, mas da necessidade do trabalhador de manter sua renda e garantir a sua sobrevivência de, além de ter como parâmetro a dificuldade empregatícia atual.

Palavras Chave

riscos ocupacionais; saúde do trabalhador; atenção primária.

Referências:

1. Faria, MGA, Gallasch, CH, Martins, ADLX. Inserção de graduandos de enfermagem em serviços de saúde do trabalhador: relato de experiência. Cogitare Enferm. 2016; 21(4):1-7. [acesso em 01 maio 2018]. Disponível em:
http://www.saude.ufpr.br/portal/revistacogitare/wp-content/uploads/sites/28/2016/12/45245-191549-1-PB.pdf

2. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2012. [acesso em 02 maio 2018]. Disponível em: http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR09/NR-09-2016.pdf

3. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 17 – Ergonomia. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2012. [acesso em 02 maio 2018]
Disponível em: http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR17.pdf

4. Aquino, FNPM, Costa, LFLG. Riscos ambientais em uma sonda de perfuração de petróleo Onshore na unidade de negócio-RN/CE –Mossoró/RN. Holos. 2011; 27(3): 64-83. [acesso em 01 maio 2018]. Disponível em: http://dx.doi.org/10.15628/holos.2011.587

Area

Promoção da saúde

Autores

Rômulo Frutuoso Antunes, Mariana Crisostomo Custódio, Marcelo Nery dos Santos Júnior, Magda Guimarães de Araujo Faria