Datos del trabajo


Título

FLUXOS ENTRE DIFERENTES SERVIÇOS DE ATENÇAO A SAUDE DO IDOSO: ARTICULAÇOES E RUPTURAS

Introdução

O envelhecimento populacional é apontado como uma das maiores conquistas da sociedade contemporânea, figurando como uma realidade incontestada em todo o mundo1. Esse processo tem fomentado reflexões sobre as transformações e repercussões na área da atenção à saúde, em especial, a necessidade de organização dos serviços de saúde e de novas práticas que contemplem as especificidades da população idosa, em especial na Estratégia Saúde da Família (ESF) como principal porta de entrada das redes de atenção à saúde. No âmbito das políticas públicas específicas para os idosos, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa2, delimitou que a atenção à saúde da população idosa tem como porta de entrada a APS/ESF, tendo como referência a rede de serviços especializada de média e alta complexidade, por considerar que nem todas as necessidades de saúde dos idosos podem ser atendidas na ESF. Nestas circunstâncias, torna-se relevante considerar as possibilidades de acesso dos usuários idosos a diferentes serviços de saúde de forma que receba um cuidado contínuo e integral, através da compreensão dos fluxos estabelecidos entre diferentes serviços de atenção ao idoso. Michel de Certeau leva-nos a pensar nas relações conceituais entre mapas e percursos, o que nos permite uma análise destes fluxos. O mapa trata de uma descrição de traços e as trajetórias a serem seguidos, prescrevendo ações3. Para além de oposições ou justaposições, o mapa é estruturado, delimita fronteiras, indica certa ordem dos lugares, delineando um quadro com traçados geográficos4. O percurso diz respeito às descrições de caminhos, sendo, portanto, variável3. Neste estudo, os mapas correspondem aos fluxos estabelecidos a priori (normatizados) para o encaminhamento de idosos, a partir da ESF, para outros programas e/ou serviços de saúde. Os percursos sinalizam rupturas nos fluxos previamente definidos.

Objetivos

Compreender os fluxos estabelecidos para o encaminhamento de idosos (mapas), a partir da ESF, para outros serviços de atenção ao idoso e rupturas nestes fluxos (percursos).

Método

Trata-se de um estudo de caso único, de abordagem qualitativa, fundamentado nos estudos do cotidiano de Michel de Certeau, nele inseridos os conceitos de “mapas e “percursos”3,5. Participaram do estudo 21 profissionais de equipes de Saúde da Família (médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde) e três ocupantes de cargos estratégicos na secretaria municipal de saúde do município de Montes Claros, Minas Gerais. Os dados foram coletados por meio de entrevista com roteiro semiestruturado, no período de maio a julho de 2016. Os dados foram analisados segundo a técnica de Análise de Conteúdo Temática6. A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais.

Resultados

Os profissionais revelaram os fluxos estabelecidos a priori para o encaminhamento de idosos, a partir da ESF, para outros programas e/ou serviços de saúde (são os mapas) e as rupturas nos fluxos inerentes aos mapas (sinalizam os percursos). O encaminhamento do idoso a outros serviços ocorre quando a ESF não oferece o atendimento especializado que ele necessita, sendo comum o encaminhamento para o Centro de Referência em Atenção à Saúde do Idoso Eny Faria de Oliveira (CRASI-EFO) e o Programa Melhor em Casa. A Universidade Estadual de Montes Claros sedia o CRASI-EFO, que atende como anexo às instalações do Hospital Universitário e é vinculado ao Governo do Estado de Minas Gerais. O CRASI-EFO presta assistência a idosos em situação de alto risco e/ou frágeis, referenciados por equipes da ESF ou outro serviço. Na consulta médica na ESF, o idoso é avaliado quanto à presença de critérios que indicam condição de fragilidade e requerem o encaminhamento para o CRASI-EFO. O Programa Melhor em Casa também foi apontado como serviço de referência para o encaminhamento de idosos que apresentam situações nas quais o serviço de atenção domiciliar é indicado. Este Programa não é específico para o atendimento aos idosos. Os profissionais não informaram a existência de documentos que normatizavam referência, fluxos e critérios para atendimento do usuário no Programa Melhor em Casa. É fundamental o mapeamento da rede de serviços e a definição de fluxos e de critérios para o atendimento de usuários idosos nos diferentes pontos de atenção à saúde7. As rupturas nos fluxos decorrem do desconhecimento, por parte dos profissionais da ESF, dos atendimentos ofertados no CRASI-EFO e dos critérios para o referenciamento do idoso a este serviço; da falta de informações sobre como viabilizar o atendimento do usuário no Programa Melhor em Casa; da demora no envio ou a não realização da contrarreferência pelos serviços de referência. A interrupção no cuidado ao idoso devido às dificuldades das equipes em executarem as orientações contidas no plano terapêutico enviado pelo serviço de referência também foi revelada. Diante desse cenário, é necessário que a gestão municipal reconheça a necessidade de adoção de estratégias para a organização da assistência na perspectiva de rede de atenção à saúde do idoso, na qual haja articulação entre as equipes de Saúde da Família e demais serviços, para que se obtenha atenção qualificada e resolutiva aos idosos. Adicionalmente, os profissionais dos diversos serviços de atenção ao idoso necessitam estabelecer formas compartilhadas de cuidado, permeada pela corresponsabilidade entre os atores envolvidos.

Considerações Finais

A delimitação de fluxos formais de encaminhamento do idoso pela ESF para outros serviços de referência não assegura a articulação entre os serviços, pois os percursos sinalizam rupturas, notadamente na contrarreferência, ao que se associa a desarticulação entre os serviços e a descontinuidade do cuidado aos idosos. Este estudo, embora desenvolvido em um contexto específico, o que configura-se como limite, avança na construção do conhecimento ao trazer para análise dificuldades de articulação entre diferentes serviços de atenção à saúde e sinaliza a premência de organizar e consolidar uma rede de atenção ao idoso, adequando a oferta de serviços à demanda apresentada pelos idosos, e tendo a ESF como coordenadora do cuidado ao idoso.

Palavras Chave

Envelhecimento da população. Saúde do idoso. Estratégia Saúde da Família.

Area

Saúde do Idoso

Autores

Doane Martins da Silva, Moema Santos Souza, Marilia Alves