Datos del trabajo


Título

ESTRATEGIAS DOS DENTISTAS PARA PROMOVER A SAÚDE BUCAL ENTRE IDOSOS NA ATENÇÃO PRIMARIA BRASILEIRA

Introdução

Nos países ocidentais, a iniquidade de acesso à saúde bucal entre os idosos é significativa; poucos países implantaram programas de saúde pública que permitem acesso dos idosos aos cuidados bucais sem barreiras financeiras. Ademais, a falta deste acesso resulta em diferentes condições, como dor, problemas alimentares, piores resultados clínicos registrados sobre doenças crônicas, impacto na autoestima e na comunicação, solidão, e mesmo exclusão social. No Brasil, uma política abrangente de saúde bucal foi instituída em 2004. Em um primeiro momento, alguns grupos foram priorizados (gestantes e crianças), pois não foi possível o acesso universal imediato. De maneira progressiva, houve um investimento em recursos humanos e estruturais, constituindo a rede nacional de serviços odontológicos. Em 2001, apenas 32 municípios ofertavam assistência odontológica na atenção primária à saúde, atualmente são 5.030 municípios, com 25.512 equipes de saúde bucal1. No entanto, o padrão de utilização dos serviços odontológicos pelos idosos na APS ainda é baixo, irregular e tardio. E a condição de saúde bucal destes idosos é precária.

Objetivos

Desta forma, exploramos estratégias de cirurgiões-dentistas para promover a saúde bucal em idosos na Atenção Primária à Saúde (APS) brasileira.

Método

Os dados foram obtidos em 2015 e 2017, por meio de entrevistas em profundidade com 18 cirurgiões-dentistas que atuam na Estratégia de Saúde da Família em Botucatu-SP. Utilizamos a Teoria Fundamentada nos Dados como referencial metodológico, e o capital social como referencial teórico. Todos os procedimentos éticos foram adotados, e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, parecer número 1.415.482.

Resultados

A partir da identificação de demanda odontológica de idosos inferior à esperada, os dentistas movem-se no sentido de elaborar estratégias para atrair e manter idosos na assistência odontológica preventiva. Neste processo, os dentistas reconhecem que idosos conferem baixa relevância à saúde bucal em comparação à saúde geral. Portanto, desenvolvem estratégias fundamentadas no modelo da odontologia preventiva e apoiadas pela equipe multiprofissional visando aumentar sua atuação na saúde geral. Para tal, quatro estratégias principais foram identificadas: (1) acordar com equipe o redirecionamento de idosos com acometimentos bucais para atendimento odontológico, por meio de encaminhamentos e interconsultas; (2) oferecer rastreamento de câncer bucal para idosos que aderem às campanhas de vacinação contra influenza nos centros de APS; (3) oferecer exames orais aos idosos vinculados ao programa nacional de controle das doenças crônicas não transmissíveis (HiperDia) que tenham agendamento com médico e enfermeiro nos centros de APS; (4) estabelecer parcerias com agentes comunitário de saúde visando melhorar captação de idosos. Inicialmente, os dentistas são recebidos com resistência pelos idosos, mas com o tempo passam a ser aceitos. No entanto, percebe-se que a demanda de trabalho é fator interveniente no processo de adoção de estratégias de busca ativa. Uma vez que, quando dentistas sofrem com sobrecarga de trabalho associada ao aumento expressivo da polução adscrita, abandonam as estratégias descritas, impõem algumas barreiras de acesso visando garantir certo controle sobre o processo de trabalho, e criam grupos prioritários de atendimento (crianças, gestantes e idosos) na tentativa de garantir o acesso aos mais vulneráveis, retornando ao modelo curativo de atendimento odontológico.

Considerações Finais

Dentistas de países ocidentais têm demonstrado fraca liderança dentro da própria categoria profissional e em nível governamental, fatores que podem dificultar a redução da iniquidade em saúde bucal entre idosos2. No entanto, observamos um movimento ativo dos dentistas brasileiros que lhes permite desenvolver estratégias aliadas às recomendações do Programa Mundial de Saúde Oral3 da Organização Mundial de Saúde (OMS) para promover a saúde bucal dos idosos, como por exemplo, a integração de exames bucais nas práticas gerais de saúde, por meio de colaborações com médicos e enfermeiros. Além disso, dentistas brasileiros avançam no sentido de promover e projetarem modelos de cuidado abrangentes, fundamentados na odontologia preventiva e gerenciamento de condições sistêmicas. Conseguem o apoio de toda a equipe multiprofissional no desenvolvimento destas estratégias, que avaliam como eficientes na medida em que colaboram com a captação de idosos. No entanto, estas ações são fundamentadas em abordagem paternalista, que reduz autonomia e auto-governança dos idosos, na medida em que aumentam o poder dos dentistas em controlar a saúde dos idosos. Por fim, o contexto municipal de gestão e organização dos territórios interfere na dinâmica laboral dos dentistas a ponto de inviabilizar o desenvolvimento destas estratégias e fortalecerem o modelo curativo de cuidado.

Rererências
1. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento da Atenção Básica. Cobertura da estratégia de Saúde da Família no Brasil [Internet]. Brasília: Portal da Saúde; 2017 [capturado em 20 jun. 2017]. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/historico_cobertura_sf.php.
2. Wright F. Social implications and workforce issues in the oral health of an ageing population. Aust Dent J. 2015;60 Suppl 1:114-24.
3. Petersen PE, Kandelman D, Arpin S, Ogawa H. Global oral health of older people-call for public health action. Community Dent Health. 2010;27(4 Suppl 2):257-67.

Palavras Chave

Atenção Primária à Saúde; Saúde Bucal; Idosos; Pesquisa qualitativa.

Area

Saúde Bucal

Autores

Suelen Alves Rocha, Joana de Almeida, Jonathan Gabe, Silvia Cristina Mangini Bocchi