Datos del trabajo


Título

Saúde mental das mulheres que sofrem violência

Introdução

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada quatro pessoas no mundo desenvolverá algum tipo de psicopatologia que comprometerá a saúde mental de forma significativa. Prevê-se que, até 2020, a depressão passe a ser a primeira causa de doença em mulheres em idade reprodutiva. As mulheres apresentaram maior incidência de transtornos de humor e de ansiedade do que os homens. A maior susceptibilidade feminina aos transtornos mentais deve-se às alterações no sistema endócrino que ocorrem no período pré-menstrual, pós-parto e menopausa, bem como, às desigualdades de gênero, a sobrecarga de trabalho doméstico e às altas taxas de violência contra a mulher. Considerando esses agravos, torna-se fundamental refletir sobre a saúde mental das mulheres que sofrem violência, visto que, a vulnerabilidade torna-se ainda mais intensa. A violência é um fenômeno social e historicamente determinado, e não pode ser reduzida as suas dimensões psicopatológicas, mas sobre ela, o campo da saúde mental tem muito a contribuir. É incontestável que as marcas da violência não se limitam as feridas visíveis, tendo em vista o reflexo sobre a saúde mental dessas mulheres. Falar em saúde mental exige considerar questões sobre marginalização, pobreza, gênero, envelhecimento e violência. A saúde mental não é um produto limitado ao mundo interno das pessoas, e sim um processo de interação dinâmica entre fatores pessoais, sociais, econômicos, históricos, culturais, que só pode ser compreendido mediante sua contextualização. O impacto da violência significa uma carga negativa resultando numa vivência traumática em virtude da incapacidade do aparelho psíquico para enfrentar cotidianamente atos de violência. Através dessa situação traumática, pode-se compreender a precariedade de elaboração psíquica das mulheres violentadas, apresentando dificuldades de representação e simbolização, resultando muitas vezes em somatizações ou até mesmo psicotização. Com isso, muitas delas se tornam inabilitadas psiquicamente, destituindo-se de sua subjetividade, desejo e singularidade.

Objetivos

Levando em consideração a importância do reconhecimento da violência contra as mulheres como epidemia e seu impacto sobre a saúde mental, bem como a inexpressiva presença dessa temática nos currículos de graduação dos profissionais de saúde, esse estudo tem como objetivo realizar uma reflexão teórica sobre o que versam as publicações científicas a respeito da violência contra a mulher e a saúde mental.

Desenvolvimento

Mulheres que sofrem violência chegam onze vezes mais aos serviços de saúde do que outras mulheres. No entanto, a falta de diálogo e de denúncias por parte das delas e dos profissionais, faz com que, atualmente, ainda não conheça números aproximados de vítimas mascarando a complexidade desse grave problema. A violência contra as mulheres repetem-se em todos os aspectos de suas vidas. Começam devagar, como abdicar de um desejo para atender ao desejo do outro. Depois, submetem-se às agressões psicológicas e em seguida agressões físicas, e nos piores dos casos, o limite chega a ser a morte literal. Essas mulheres não conseguem amar, se divertir, estudar, cuidar dos filhos, pensar e nem mesmo falar. Não falam, mas expressam um vazio de um extremo desamparo. Desse modo, intensificam-se os riscos em desenvolver sintomas, comorbidades ou diagnóstico de depressão, síndrome de estresse pós-traumático, ansiedade, fobias, desânimo, irritabilidade, síndrome do pânico, sensação de perigo iminente, ideação suicida, tentativa de suicídio, baixa autoestima, sentimento de culpa, inferioridade, insegurança, vergonha, hábito de fumar, uso de álcool, falta de concentração entre outros. Alguns autores expõe sobre a dificuldade dos profissionais que tratam da saúde mental em reconhecer a violência como possível causa para diversos sintomas. A justificativa parece estar associada ao desconhecimento epidemiológico acerca dessa questão, que gera uma dificuldade de reflexão sobre o problema, tratando apenas sinais e sintomas. Cuidar da saúde mental é ouvir além do discurso verbalizado, é ler nas entrelinhas o pedido de ajuda, visto que, as dores físicas se confundem com as dores psíquicas, o acolhimento de mulheres que sofrem violência implica em abrir espaço para a reflexão, buscar a escuta dos conteúdos latentes, que na maioria das vezes, não têm espaço nas consultas médicas. Uma das questões mais alarmantes, no que se refere à problemática das mulheres em situação de violência, diz respeito à manutenção na condição de violência. Na maioria dos casos, por mais que os sistemas jurídicos e de saúde tentem retirar essas mulheres dessa condição, as estratégias de abordagem acabam fracassando e essas mulheres permanecem sendo violentadas. Dessa maneira é fundamental instituir um diálogo profícuo entre profissionais da saúde mental, saúde e da segurança pública e não tratar o problema como se fossem universos paralelos.

Considerações Finais

Identifica-se que estudos com abordagem sobre a violência e a saúde mental da mulher ainda são incipientes no Brasil e pesquisas desta natureza tornam-se importantes por suprir lacunas de conhecimento. Nota-se que a violência ainda é vista sob a ótica biológica, esquecendo dos importantes impactos sob a saúde mental dessas mulheres. Dentro desta lógica, um aspecto merece destaque na discussão é a questão da integralidade. O atendimento integral considera o ser humano como uma integralidade e não como a fragmentação da visão biomédica. Entende-se que, para proporcionar cuidados mais adequados às vítimas de violência, é necessário pensar em estratégias que incluam um atendimento interdisciplinar a fim de prestar um atendimento integral e humanizado. Assim, a mudança desse cenário implica numa importante estratégia em dar voz às mulheres em situação de violência, para que, com base em seu conhecimento, valores e vivências, traduzam as suas reais necessidades ao buscar por apoio e suporte das instituições. Na construção desse estudo, percebeu-se que, apesar da existência de políticas que garantem os direitos das mulheres, ainda há muito que ser feito, visto que, o número de violência e feminicídio crescem em proporções alarmantes. Nesse sentido a atuação dos profissionais e da sociedade em geral não se deve limitar aos momentos de crise, quando o fenômeno da violência já ocorreu ou está acontecendo. O ideal é que, além dos atendimentos realizados, haja intervenções numa perspectiva preventiva abordando as questões da saúde mental e violência contra a mulher numa interlocução entre estado, educação e sociedade.

Palavras Chave

Saúde mental; Mulher; Violência; Violência Contra a Mulher.

Area

Saúde Mental

Autores

Katiê Paula Caumo, Regina Yoshie Matsue