Datos del trabajo


Título

REPRESENTAÇOES E MEMORIAS PROFISSIONAIS DA AIDS POR ENFERMEIRAS BRASILEIRAS

Introdução

A epidemia da AIDS apresenta importância inquestionável para a saúde pública, haja vista seus impactos epidemiológicos e nas relações sociais. As representações sociais acerca do HIV/AIDS e de seus atingidos influenciam a atitude das pessoas e são, frequentemente, marcadas pela discriminação.

Objetivos

Descrever as memórias profissionais e as representações sociais das enfermeiras em relação à epidemia da AIDS.

Desenvolvimento

Metodologia: Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, orientado pela teoria de Representações Sociais(1) e pelos pressupostos da memória social desenvolvidos por Sá(2-3). O grupo estudado foi composto por 20 enfermeiras atuantes em hospitais e em unidades básicas de saúde, em dois contextos epidemiológicos diferentes - Rio de Janeiro e Santa Catarina. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, cuja produção discursiva foi analisada por meio da técnica de análise de conteúdo lexical, com o auxílio do software ALCESTE (Análise Lexical por Contexto de um Conjunto de Segmentos de Texto). Resultados: A caracterização sócio demográfica do grupo estudado demonstra, em relação à variável unidade federativa de coleta de dados, observa-se distribuição equivalente, com 10 enfermeiras no Rio de Janeiro e Santa Catarina(4); 6 (31,6%) eram da primeira geração, ou seja, atuaram com clientes com HIV/AIDS na década de 1980, nos anos iniciais da epidemia, e 13 (68,4%) eram da segunda geração, com a entrada no mercado de trabalho a partir de 1998 (uma entrevista foi descartada por problemas de gravação). A idade dos sujeitos oscilou entre 25 e 53 anos, com média de 35,9 anos (dp 9,4). Pela análise de conteúdo lexical foram identificadas 1.636 unidades de contexto elementares, distribuídas em seis categorias ou classes. A classe mais expressiva foi a classe 6, com 29,34% do corpus, correspondendo a memória das enfermeiras sobre a AIDS. Essa classe é constituída pelas formas reduzidas com maior valor de qui-quadrado: era, lembro, epoca+, tinha+, foi. As primeiras lembranças relacionadas à AIDS verbalizadas pelas enfermeiras fazem referência a forma de infecção e, principalmente, a culpabilização dos sujeitos homossexuais, visto que não havia, ainda, casos entre mulheres no Brasil. Os relatos referem: “Então, eu só ouvia dizer naquela época que era uma doença, que geralmente pegava, era contraída... que era passada pelos homossexuais. O que eu ouvia daquela época... naquela época eu não ouvia dizer que nenhuma mulher tinha. Geralmente, eram homens e são as pequenas recordações que eu tenho”; “Isto tinha muito preconceito e era a doença do homossexual, naquela época era considerada a doença do gay, ele era o grupo de risco. Só que a gente depois começou a ver pessoas que, aparentemente, não tinham nada a ver com o homossexualismo e aí a coisa foi tomando outro rumo”. No início da epidemia, os homossexuais foram considerados os principais, e talvez únicos, culpados pela disseminação da doença; isto porque nos Estados Unidos da América, disseminou-se a ideia que a transmissão heterossexual era praticamente rara e improvável, como se os casos heterossexuais na África não existissem(5). Este fato lançou sobre os homossexuais uma imensa carga de culpa, o que acarretou estigma, preconceito, discriminação e se reflete, ainda, na violência sofrida pelos homossexuais associada a sua orientação sexual. Os contextos semânticos indicam que as memórias das enfermeiras sobre a AIDS estavam pautadas nas informações veiculadas pela mídia e, posteriormente, à prática da enfermagem no ambiente profissional, como pode ser observado nos seguintes relatos: “A lembrança mais antiga, eu acho que é da época daquele envolvimento sobre o Cazuza, foi o que expôs mais a AIDS na mídia”; “Era a AIDS. Tinha até uma certa associação com macacos, eu lembro disso. Depois veio o Cazuza, todo magro, e falaram na televisão que ele tinha AIDS”; “Nós não éramos esclarecidas, cada um falava uma coisa diferente. Depois de, acho que mais de dois anos, talvez em mil novecentos e noventa, a gente começou a ter consciência do que que era a doença”. Os primeiros pacientes apareceram no Brasil em torno de 1982, em meio a uma ausência total de conhecimento da doença e do tratamento, da mesma forma que nos outros países onde o vírus se desenvolveu. Esses primeiros pacientes foram, na sua imensa maioria, compostos por homens, o que reforça os depoimentos exemplificados. Após a segunda metade dos anos 1990 as enfermeiras se encontraram em uma situação diferente marcada, de um lado, pela presença de mulheres e de crianças entre as pessoas doentes e, de outro lado, pela disponibilização dos tratamentos antirretrovirais a partir de 1996, o que impactou e levou a um processo de mudança representacional da AIDS.

Considerações Finais

O presente estudo apresenta, a partir de duas perspectivas temporais, as representações dos enfermeiros sobre a AIDS e as pessoas soropositivos, com destaque para as necessidades de cuidado em cada período histórico. Além disso, vale destacar que o perfil epidemiológico e as representações sofreram mudanças e, atualmente, não é possível restringir a AIDS ao público masculino, uma vez que a síndrome tem atingido os diversos grupos sociais.

Referencias:
1. Jodelet, D. As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ. 2001; 420p.

2. Sá, CP. Estudos de Psicologia Social: história, comportamento, representações e memória. 1 ed. Rio de Janeiro: EdUerj; 2015. As memórias da memória social: Estudos de Psicologia Social. p. 315-342.

3. Sá, CP. Estudos de Psicologia Social: história, comportamento, representações e memória. 1 ed. Rio de Janeiro: EdUerj; 2015. Para uma psicologia social da memória. Estudos de Psicologia. p. 343-350.

4. Oliveira DC, Erdman AL, Giami A, Vargens OMC, Oliveira SAD, Gomes AMT, et al. Representações e memória profissional da AIDS de enfermeiras no Brasil: estudo bicêntrico Rio de Janeiro/Florianópolis. Psicologia: teoria e prática, 2007; 9(1): 114-118.

5. Sontag, S. Doença como metáfora, aids e suas metáforas. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.

Palavras Chave

enfermagem; hiv/aids; pesquisa qualitativa; saúde coletiva.

Area

Doenças Transmissíveis

Autores

Rômulo Frutuoso Antunes, Hellen Pollyanna Mantelo Cecilio, Sergio Correa Marques, Yndira Yta Machado, Antonio Marcos Tosoli Gomes, Denize Cristina de Oliveira