Datos del trabajo


Título

OS SABERES QUE ATRAVESSAM O PARTO E NASCIMENTO ATRAVÉS DE DOULAS E ENFERMEIRAS OBSTÉTRICAS

Introdução

Os saberes são construções sociais, não são neutros, são políticos e possuem sua gênese em relações de poder (FOUCAULT,2017,1987). O parto, como qualquer fenômeno social e histórico, é produto de sua época (TORNQUIST, 2004, CARNEIRO, 2015). Na conjuntura brasileira, a maioria deles ocorrem em instituições hospitalares (TESSER, 2017). Nestes espaços, há pessoas mobilizadas para assistir à parturição, à mulher-parturiente e ao parir. Tal cenário promove o encontro de diversos saberes-poderes, corporificados e protagonizados por sujeitas/os que são portadoras de conhecimentos empíricos e/ou sistematizados teoricamente. Esses saberes podem ser classificados, especialmente, como: acadêmicos e/ou científicos; religiosos e/ou espiritualistas; filosóficos; de movimentos sociais; experiências compartilhadas entre gerações e entre mulheres. Em suas complexidades, cada um desses saberes possuem ramificações, posições, orientações, contradições, e contribuem para a fluidez, tensão, construção e desconstrução de saberes.

Objetivos

Identificar a produção de conhecimento sobre os saberes que atravessam o parto e nascimento através de doulas e enfermeiras obstétricas

Método

Considerando os conflitos entre os saberes na assistência ao parto, propomos analisar a produção de conhecimento sobre o parto na sua relação com os saberes de doulas e enfermeiras/os obstétricas, particularmente nas revistas qualis A1 dos estudos feministas e de serviço social, e nas plataformas Plataforma Scielo; Banco de Teses e Dissertações da Capes; Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações e Biblioteca Virtual em Saúde. A motivação para o recorte nas narrativas de doulas e enfermeiras obstétricas se deve a seis razões: a) participarem da assistência ao parto e à mulher-parturiente; b) no âmbito hospitalar, o ‘cuidado’ à parturição é historicamente atribuído às mulheres, antes às parteiras, agora às enfermeiras e, recentemente, em Santa Catarina e em outros estados, compartilhado com as doulas; c) representarem profissões eminentemente femininas e associadas ao ‘cuidado’ da mulher-parturiente; d) viabilizarem políticas públicas (Rede Cegonha, 2011) e recomendações internacionais (OMS, 2018) que contemplam a superação dos modelos obstétricos ‘mais intervencionistas’; e) as doulas, com propostas de acompanhamento da mulher e promoção do seu protagonismo, passam a partilhar um espaço por excelência intervencionista e atravessado por narrativas intervencionistas; f) por estas profissionais - doulas e segmentos da enfermagem - terem uma formação que problematiza o modelo biomédico. Para tal, realizamos um levantamento bibliográfico on-line, em julho de 2017, com os seguintes grupos de descritores: descritores A: ‘parto’ e ‘saberes’; Descritores B: ‘parto’, ‘saberes’, ‘doulas’, ‘enfermeiras obstétricas’. A seleção dos textos se ateve aos resumos, títulos ou palavras-chaves, sem períodos cronológicos e/ou idiomas.

Resultados

A pesquisa evidenciou um número total 351 trabalhos sobre o tema ‘saberes e parto’, todavia, esse número é nulo quando aplicamos o conjunto de descritores B. Realizada a leitura dos títulos identificados na plataforma Scielo, constatamos que os artigos são publicados principalmente em revistas do campo da enfermagem (10 trabalhos), da saúde pública e coletiva (08) e das ciências sociais e humanas (04), e apontam para discussões ancoradas na perspectiva do movimento do parto humanizado. Segundo a plataforma do Banco de Teses e Dissertações da Capes, dos 139 trabalhos localizados com os descritores A, 99 são dissertações, 31 são teses de doutorado, oito (8) de mestrado profissional e um (1) profissionalizante. É a partir do ano de 2010 que se registram mais produções anuais sobre o tema, antes desse período haviam apenas 38 trabalhos. As áreas de conhecimento mais representadas por esses 139 trabalhos são: enfermagem (49 trabalhos); educação (14 trabalhos); saúde coletiva (13 trabalhos); antropologia (09 trabalhos); história (06 trabalhos). Na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), dos 131 trabalhos encontrados com os descritores A, 90 são dissertações e 41 são teses. As instituições que mais se destacaram com produções a respeito do tema foram a Universidade de São Paulo (USP), com 20 produções; Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com 16. Constatamos que dos 60 arquivos levantados pela Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), com o conjunto de descritores A, 49 são artigos, seis (06) teses e cinco (05) monografias. Os artigos foram mais publicados em revistas de enfermagem (30 artigos), da saúde pública e coletiva (12) e das ciências sociais e humanas (07). O período com maior número de publicações foram 2012 (08 trabalhos) e 2003 (06 trabalhos). Desse grupo de trabalhos, seis (06) são em inglês e sete (07) em espanhol, os demais em português. É oportuno registrar a publicação do Dossiê ‘Parto’ da Revista Estudos Feministas, em 2002, nele, o artigo de autoria de Maria Lucia Mott (2002), intitulado “Bibliografia comentada sobre a assistência ao parto no Brasil (1972–2002)”. A autora apresenta o resumo de 76 trabalhos multidisciplinares sobre assunto entre 1972 até 2002. São de autoria de 50 autoras diferentes e discutem, em ordem crescente, os seguintes temas: parteiras; parto; maternidades; corpo e saúde mulher; enfermeiras obstétricas; humanização do parto e modelos de assistência ao parto; casas de parto; campo médico-obstétrico; medicalização do parto; pré-natal; mortalidade materna; participação masculina no cenário do parto. Destacamos, através de levantamento bibliográfico online nas duas revistas qualis A1 do Serviço Social (Revista Katálysis e Revista Serviço Social e Sociedade), a ausência de qualquer produção (dossiê ou artigo) sobre o tema ‘parto’. O que nos chama a atenção, visto que historicamente a área da saúde é a que mais emprega assistentes sociais (KRÜGER, 2010). Tal dado sugere que outros temas têm sido privilegiados na produção acadêmica do serviço social, principalmente aqueles ligados às discussões marxistas, que tem sido problematizado como 'cegueira ideológica' (LISBOA e OLIVEIRA, 2015).

Considerações Finais

Dentre os pontos que chamaram atenção no levantamento bibliográfico, destacamos três. Primeiro, nenhum trabalho teve como sujeitas/os cognoscentes enfermeiras e doulas concomitantemente, portanto, não foram localizadas qualquer produção acerca do objeto de estudo em tela. Chama a atenção a ausência de artigos com o conjunto de descritores B, o que sugere a inexistência de produções de conhecimento sobre esse objeto. Segundo, os trabalhos não foram publicados em revistas de estudos feministas, de gênero ou do serviço social, sendo a protagonista do debate a enfermagem. Terceiro, somente dois (02) trabalhos referem em seus resumos o ‘feminismo’ e os estudos de gênero como referencial teórico.

Palavras Chave

Parto; Saberes; Doulas; Enfermeiras Obstétricas

Area

Saúde da Mulher

Autores

Carla Klitzke Espíndola, Luciana Patrícia Zucco