Datos del trabajo


Título

ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS DAS MULHERES RURAIS QUE SOFREM VIOLÊNCIA

Introdução

A violência contra a mulher é um fenômeno antigo, porém silenciado ao longo da história. Atualmente tornou-se um problema universal e vem ganhando força nas discussões políticas e acadêmicas. Pesquisas realizadas apontam as proporções epidêmicas e o impacto que este problema desencadeia na qualidade de vida das vítimas, das famílias e da sociedade. Alguns estudos apontam que há grupos de mulheres que são mais vulneráveis à violência, entre essas, encontra-se as mulheres residentes do meio rural. Ao se pensar na violência contra essas mulheres, pode-se refletir sobre a intensificação em contextos adversos e de exclusão considerando o contexto de vida que as situam em territórios distantes dos grandes centros. Consequentemente, distante dos recursos sociais, políticos e comunitários que poderiam promover maior proteção.

Objetivos

Tenciona-se realizar uma pesquisa etnográfica sobre os itinerários terapêuticos de mulheres rurais que sofrem violência em uma cidade do oeste catarinense.

Método

A pesquisa é qualitativa e está baseada no método etnográfico. A opção pela investigação etnográfica se deve por sua relevância e atualidade nas pesquisas em saúde. A etnografia emprega um tipo particular de esforço intelectual que se descreve como uma descrição densa. Esta descrição será obtida por meio de imersão na vida diária do grupo de mulheres pesquisado. A pesquisa de campo será desenvolvida no município de Chapecó, localizada no Oeste Catarinense. A escolha do município se justifica pelo fato de Chapecó, dentre o estado de Santa Catarina, ocupar o 3º lugar no ranking das cidades mais violentas para as mulheres. Na primeira etapa da pesquisa, o público se dará pela equipe de profissionais das Unidades Básicas de Saúde, com intuito de verificar como os profissionais da saúde em seu cotidiano laboral identificam situação de violência contra a mulher rural, além de apontar se existem encaminhamentos a partir da confirmação ou suspeita de violência. Os dados serão coletados mediante a entrevista de grupo focal. O objetivo do grupo focal é coletar informações sobre um determinado tema específico por meio da discussão participativa, sendo realizado a partir de discussões focadas em tópicos específicos e diretivos. Já na segunda etapa, as participantes serão as mulheres rurais que sofrem violência e que são usuárias de Unidades Básicas de Saúde. Os dados serão coletados através de uma entrevista em profundidade. A entrevista se dará na forma de conhecer seu itinerários terapêuticos para compreender as trajetórias de cuidado. As entrevistas em profundidade são mais adequadas onde percepções detalhadas são necessárias a partir de pontos de vistas individuais. Elas também são particularmente apropriadas para explorar temas sensíveis como esse. O fechamento amostral se dará por saturação, ou seja quando os dados obtidos nas entrevistas passam a apresentar, na avaliação do pesquisadora, uma certa redundância ou repetição, não sendo considerado relevante persistir na coleta de dados.

Resultados

Os resultados preliminares apontam que além da questão cultural, a dificuldade de acesso aos serviços e apoio contribuem para a vulnerabilidade das mulheres rurais. Nesse meio, os agressores possuem mais facilidade para colocá-las em situação de cárcere, de separá-las do grupo familiar, de amigos e vizinhos, dos quais poderiam encontrar apoio. Assim, a violência é naturalizada na vida dessas mulheres. Esse cenário está profundamente arraigado nos hábitos, costumes e comportamentos socioculturais, de tal forma que as próprias mulheres encontram dificuldade em romper com situações de violência. As relações no meio rural revelam, predominante, o poder e a autoridade do homem como provedor. Essas mulheres são vista sob a ótica da relação de serviço, subordinação e obediência. Elas são consideradas responsáveis pela reprodução biológica, cuidadoras dos lares e dos afazeres domésticos, sem direito de expressarem e relatarem seus sentimentos e, com pouca ou nenhuma legitimidade para desconformidades. Outro elemento identificado é a limitação da rede de atendimento, sinalizando lacunas na articulação intersetorial e a falta de capacitação profissional. Nessas circunstâncias, quando as mulheres rurais chegam ao serviço, acabam construindo seus caminhos particulares de cuidados terapêuticos. De um modo geral, elas transformam o que deveria ser um itinerário terapêutico de proteção numa verdadeira peregrinação.

Considerações Finais

As mulheres rurais que sofrem violência fazem parte de um grupo que não chegam sequer às estatísticas, devido a inserção num contexto de anonimato e invisibilidade e sem acesso às redes de apoio. Nota-se que o serviços públicos, não estão atentos à vulnerabilidade dessas mulheres evidenciado pela ausência de informações oficiais. A atenção às mulheres em situação de violência tem se organizado de maneira fracionada e pontual, além de que alguns serviços não estão preparados para atender aos envolvidos de maneira integral. Percebe-se que a maioria dos serviços de saúde permanece o padrão de atenção à saúde centrado na doença, sem reconhecer a violência enquanto problema mais amplo da saúde e da saúde pública em particular. Nesse sentido o setor da saúde transfere a responsabilidade da violência conta à mulher para o setor da segurança. Essa transfe¬rência resulta na exclusão da violência em prioridades na saúde e incide no entendi¬mento de que a violência pertence a outra esfera, o que legitima a exclusão dos aten¬dimentos e intervenções às usuárias rurais ou não, que buscam acolhimento nos serviços públicos de saúde. Assim, as limitações da rede de atendimento são materializadas pela inexistência de uma política que integre os setores do governo. É visível a desarticulação dos serviços disponíveis, e nessas circunstâncias, são as mulheres usuárias dos serviços e as vítimas de violência que constroem seus caminhos particulares de cuidados terapêuticos e de intersetorialidade. Nota-se que a preservação ou recuperação da saúde das mulheres rurais vítimas de violência, mobiliza diferentes recursos, que incluem desde os cuidados domésticos para as agressões físicas até as práticas religiosas. Compreender o itinerário dessas mulheres contribuiu para uma atuação profissional mais convergente à situação vivenciada por elas e se mostra como importante ferramenta para avaliar a qualidade dos serviços de saúde, bem como, proporcionar a detecção e correção de falhas nas formas de organização dos serviços. O itinerário terapêutico pode ser um instrumento de compreensão dos recursos sociais disponíveis à produção e gerenciamento do cuidado.

Palavras Chave

Violência; Saúde; Mulheres Rurais.

Area

Violências e Saúde

Autores

Katiê Paula Caumo, Regina Yoshie MATSUE