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Título

O QUE MOTIVA A ESTRUTURAÇAO DE UM REFERENCIAL TEORICO FILOSOFICO PARA O ENSINO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM? PERSPECTIVA DOCENTE

Introdução

O educador em enfermagem é desafiado permanentemente a ressignificar sua prática docente, com o objetivo de convergir com o que é almejado pelos indivíduos e sociedade no cenário da saúde. O desafio é tangível, ao se considerar uma práxis em enfermagem secularmente consolidada pelo paradigma positivista, claramente determinante de práticas em saúde curativas e tecnicistas, que fragmentam e objetificam pessoas, atualmente questionada por uma sociedade crítica e politizada. Sendo o Processo de Enfermagem (PE) o cabedal de conhecimento teórico prático que estrutura o cuidado em enfermagem, promover transformações no campo da saúde implica, necessariamente, ressignificar o ensino de PE a partir de um referencial teórico, filosófico e metodológico inovador, que reposicione, o enfermeiro/ profissionais de enfermagem, ética, política e tecnicamente, na direção de um conceito ampliado de saúde/ cuidado e de enfermagem. A Pesquisa Convergente Assistencial alinha-se às proposições metodológicas de pesquisa que almejam a transformação das práticas com base em concepções atuais sobre melhores práticas em saúde.

Objetivos

Conhecer a motivação que mobiliza enfermeiros professores na construção de uma proposta para o embasamento teórico e metodológico para o ensino do Cuidado/PE.

Método

Pesquisa qualitativa Convergente Assistencial (PCA) aprovada pelo CEP da Universidade Federal da Fronteira Sul CAAE 50701815.2.0000.5564. Foram realizados seis grupos de convergência, audiogravados, com 17 professores enfermeiros do Curso de Graduação em Enfermagem de uma Universidade Pública Federal da Região Sul/Brasil a respeito dos paradigmas atuais de saúde e ensino, referenciais teóricos contemporâneos da enfermagem e motivação docente para modificação das práticas de ensino em saúde. Operacionalmente, os encontros se estruturaram mediante atributos da PCA: dialogicidade; expansibilidade; imersibilidade; e simultaneidade, tomando-se como questões disparadoras: Qual é a razão de ser do profissional enfermeiro? Existe inquietude diante dos resultados da assistência de enfermagem encontrados no cotidiano? No cotidiano de trabalho, os professores são mobilizados para a transformação da práxis? A análise das informações foi desenvolvida a partir do processo de apreensão e interpretação da PCA, em três etapas: síntese, teorização e transferência1. A transferência finaliza com a “ressignificação” que as novas concepções propiciam ao profissional e a qualificação do processo de trabalho desenvolvido no âmbito de atuação da PCA2.

Resultados

As provocações dispararam o diálogo sobre referenciais filosóficos, teóricos e metodológicos que sustentam o cuidado/ PE. Os participantes alinhavaram, no coletivo, situações de assistência profissional no campo da saúde, hegemonicamente biomédicas e reducionistas, experenciadas em seu cotidiano de trabalho docente, os quais lhes deixavam indignados, perplexos, impotentes e reflexivos, sensações que constituíram pano de fundo para reflexões sobre a práxis em enfermagem e que pode representar o mote de potenciais transformações. A dialogicidade, assim conduzida, favoreceu a exteriorização da visão de mundo dos participantes, posicionando-os na direção dos paradigmas que, na atualidade, se engendram no campo da saúde: o paradigma positivista e o Materialismo Histórico e Dialético (MHD). Este posicionamento foi fundamental para estabelecer coerência entre princípios e pressupostos do Sistema Único de Saúde (SUS), que convergem com a visão de mundo do MHD, que emite um novo olhar para a atenção em saúde, transcendendo a herança positivista e inaugurando, assim, uma modernização paradigmática na saúde brasileira, bem como das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a saúde, considerando-se a pretensão de propor um referencial que embase o PE desse curso de graduação em enfermagem. A seguir, conduziu-se a fase da expansibilidade, que caracterizou o momento em que os professores ampliaram o debate sobre o MHD e referenciais teóricos que o coadunam, visando a coerência teórica entre o que se ensina para o PE e o que as políticas de saúde/educacionais sustentam, convergindo, finalmente, para a Teoria da Intervenção Práxica para a Enfermagem em Saúde Coletiva (TIPESC) (Egry, 1996), cuja inspiração filosófica consiste no MHD, contemplando inspirações da Saúde Coletiva e SUS. Posteriormente desenvolveu-se a imersibilidade e a simultaneidade, donde primeiramente se imergiu, visando o aprofundamento filosófico, teórico e metodológico necessários à aplicação do referencial TIPESC no ensino do PE, atingindo-se a simultaneidade, quando houve o alinhamento das ideias que desencadeariam a estruturação da proposta de operacionalização do referencial na prática do ensino do PE no curso, percebendo-se, a partir desta fase, que o processo construtivo seria contínuo e que as reflexões, capturadas até o presente, mostravam o desejo dos professores para compor a nova proposta de referencial para a assistência de enfermagem, de maneira a agregar os princípios e pressupostos da TIPESC com os do SUS. Dos grupos emergiram três enfoques temáticos: práticas profissionais dos enfermeiros na percepção dos professores; a insatisfação com o modelo de saúde vigente e a insatisfação com o modelo de ensino vigente, que revelam a motivação para superar práticas biomédicas/ cartesianas no ensino e na assistência de enfermagem, sustentando o desenvolvimento de uma proposta de referencial filosófico, teórico e metodológico para o ensino de PE, alinhado com os pressupostos do SUS e condizentes com uma clínica ampliada em saúde. A riqueza dialógica do grupo de convergência permite a interação, evidente entre os participantes, além da aproximação e vínculo, a partir dos quais fica notório que os professores mobilizam energia e esforços em compreender e empreender proposições no processo de operacionalização do referencial da TIPESC na prática do ensino do PE.

Considerações Finais

As motivações que mobilizam enfermeiros professores na estruturação de uma proposta para o embasamento teórico e metodológico da prática do PE em um curso de graduação remetem à impressão negativa que práticas de enfermagem, marcadas pela opressão, banalização e indiferença em relação às singularidades dos pacientes, causam nesses professores. A experiência foi singular ao favorecer a livre expressão de ideias, a reflexão crítica e o aprofundamento teórico filosófico, bem como promoveu vínculos em torno da ideologia do MHD, com potencial para transformar e ressignificar a aplicabilidade do PE. Ainda, metodologicamente, reforça-se o diferencial que se confere à PCA, considerando o incessante apelo ao aperfeiçoamento e qualificação das práticas de profissionais da saúde, o método favorece o debate, a elaboração de propostas, bem como sua aplicação. Os grupos de convergência, orientados pela PCA, propiciam desnudar/desvelar práticas, se mostrando essenciais para transformar realidades.

Palavras Chave

Formação em Saúde. Processo de Enfermagem. Saúde Coletiva. Materialismo Histórico Dialético.

Area

Políticas e processos de formação de profissionais e pesquisadores

Autores

Julia Valeria de Oliveira Vargas Bitencourt, Jussara Gue Martini, Marcela Martins Furlan de Léo, Andressa Reginatto Percisi, Priscila Biffi, Vander Monteiro da Conceição, Eleine Maestri