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Título

MOVIMENTOS SOCIAIS E ATRAVESSAMENTOS DA ORIENTAÇAO GAY E LESBICA NA CONTEMPORANEIDADE

Introdução

A realidade contemporânea traz inúmeros aspectos sociais de transformação que uma perspectiva sócio-histórica permite observar. Dentre esses aspectos estão evidentes os processos singulares passados pela temática da diversidade sexual, que se modificou enquanto fenômeno em diversos momentos e caracteriza-se na atualidade como o modo de vivenciar os aspectos afetivos/ sexuais dos sujeitos (Dinis, 2011). Dentro desse contexto, a construção de uma orientação homossexual passa por inúmeros atravessamentos, que serão micropolíticas fronteiriças entre o ser e o não-ser, entre espaços emaranhados de interditos. Trajetórias que significam batalhas cotidianas, incluindo um desmapeamento do entendimento de relação que partirá de uma lógica heterossexual. A busca pela singularização enquanto possibilidade de estar no mundo permite o acesso às potências desejantes, rompendo com as fronteiras da institucionalização das normas vigentes (Paiva, 2007). O rompimento das normativas via processo de singularização vai disparar uma reordenação de espaços dentro de uma sociedade já definida. Nesses espaços, outras instâncias estarão implicadas, dentre elas a aquisição de direitos de gays e lésbicas enquanto cidadãos e cidadãs, a homofobia, a constituição enquanto família, as relações com a escola, entre outras. Logo, o processo de singularização passa do interno para o externo, tornando o privado, público e da ordem do território social. Para tanto, fronteiras disciplinares necessitam ser atravessadas, que supõem outras categorias e objetos conceituais que permitam que outras possibilidades sejam legitimadas enquanto existentes e passíveis de direitos. Na leitura e releitura dos aspectos subjetivos introjetados via práticas sociais, nessa ordenação e reordenação do “eu”, não pode ser pensado um indivíduo que se desprende das relações e obrigações sociais que são apresentados nos papéis sociais em que se reconhece. Está presente uma crise da individualidade no sentido de romper-se enquanto unidade, enquanto sujeito. Romper-se no sentido de chegar a uma singularidade, que nada terá a ver com as manobras das normativas sociais, menos ainda com a fragmentação do “eu’. Neste caso então, ser gay ou lésbica é estar nesse espaço de ruptura, de singularização, de redefinição de subjetividade e de “eu”. O corpo passa a ser um território marcado por agenciamentos da potência desejante e não mais um corpo dócil submetido (Foucault, 2014). Sem negar o aspecto sócio-histórico, a noção do sujeito e subjetividade constituídos historicamente (Bock e Gonçalves, 2009), mas desconstruindo representações identitárias calcadas nas referências binárias e disjuntivas, que dizem da lógica falocêntrica ocidental (Souza e Langaro, 2011).Logo, gays, lésbicas e transexuais representam um importante papel de transgressão, de refutação de papéis femininos e masculinos, principalmente nas instâncias relacionadas ao matrimônio com sua função principal de reprodução e na representação social de família. Além disso, também ampliam a imagem das condutas sexuais, pois possibilitam que outros modos de exercer a sexualidade sejam possíveis dentro dos agenciamentos relacionados ao sexo (Touraine, 2010). A manutenção das fronteiras existentes nos corpos, fronteiras delimitadas nos processos de singularização, visibiliza fenômenos que aparecem na contemporaneidade ainda enquanto sistemas definidores das práticas sociais.

Objetivos

Conhecer e compreender como o rompimento com a heterossexualidade incide na constituição das subjetividades de gays e lésbicas na sociedade.

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo e exploratório, no intuito de investigar como o rompimento com a heterossexualidade incide na constituição das subjetividades de gays e lésbicas na sociedade. Participaram do presente estudo 8 homens e 8 mulheres que se identificam como gays e lésbicas, com idades entre 18 e 50 anos. O critério de inclusão dos/as participantes foi a identificação como gay ou lésbica e o local de residência sendo Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. A seleção das/os participantes foi realizada pela técnica Snowball Sampling. Entrevistas narrativas Foram utilizadas como instrumento para coleta de dados. Os dados foram analisados através de análise de discurso, sob a ótica das teorias feministas dos estudos de gênero. O estudo foi conduzido de acordo com os preceitos éticos estabelecidos para pesquisa com seres humanos.

Resultados

As entrevistas narrativas conseguiram expressar os modos de ser e viver de gays e lésbicas na contemporaneidade na relação com os movimentos sociais. Permitiram, ainda, compreender como o circular e o permanecer nestes espaços constituiu e constitui a subjetividades destas pessoas, fortalecendo os seus processos de singularidade de viver a sexualidade. Foi possível organizar os discursos das/dos participantes do estudo nos seguintes emaranhados: visibilidade e construção de subjetividade, resistência, pertencimento, preconceito, participação política e família. Circular e participar de movimentos sociais de diferentes naturezas, foi destacado como um ponto de marcada construção de visibilidade e ocupação de espaços da sociedade. Isso permitiu reconstituir as histórias de vida e de relações das/dos participantes no sentido de tornar pública o exercício de seus direitos. Ao mesmo tempo, foi sublinhado por estas pessoas que a participação em movimentos sociais é um espaço de resistência, marcado pelo desafio de constituir outras subjetividades e efetivar um direito garantido na forma da lei, mas que ainda carece de avanços no seio das relações construídas na sociedade. No que se refere à participação política e à militância, as pessoas entrevistadas demarcaram que fazer parte destes espaços permitiu pensar e se repensar sobre as questões da sexualidade. Nesse sentido, visibilizar a sua forma de ser e viver a sexualidade no mundo, com o cenário dos cenário dos movimentos sociais contribui para a desconstrução da heteronormatividade enquanto única forma de se relacionar.

Considerações Finais

Assim, nestes espaços de luta percebe-se a possibilidade de singularidade, passando à existência de corpos desejantes. A participação e
vivência de gays e lésbicas nos movimentos sociais constituem-se como espaços de discussão referente ao rompimento com a heterossexualidade. Permitem ampliar a compreensão sobre o entendimento dos atravessamentos e nuances de gays e lésbicas no exercício de suas sexualidades. Finalmente, desenvolver este processo de investigação ao discutir a subjetivação dos sujeitos, considerando a questão sócio-histórica e os jogos de forças existentes no tecido social, permite tecer reflexões sobre as dimensões de atuação da Psicologia, colocando-a a serviço da construção de uma sociedade que conviva com as singularidades de modo mais saudável e legítimo.

Palavras Chave

gênero; sexualidade; subjetividade;

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Autores

Marina da Silva Sanes, Yáskara Arrial Palma, Jaciane Pinto Guimarães, Caroline de Souza Aguirre, Mariana Ziani de Tolla, Jordana Martins, Vitoria Braga Padilha