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Título

PERCEPÇAO DE PUERPERAS SOBRE A ASSISTENCIA OBSTETRICA: FOI RAPIDINHO! CORTOU, COSTUROU, DEU TRES PONTINHOS!

Introdução

A institucionalização do parto trouxe consigo a medicalização como reflexo da sociedade moderna. A posição do parto se tornou litotômica de modo a favorecer o acesso de instrumentais e a dor passou a ser controlada através das anestesias (1). As mulheres foram se distanciando da autonomia sobre seu próprio corpo, sendo dominada pelos avanços tecnológicos e intervencionistas e colocada como incapaz de vivenciar o processo fisiológico sem o aparato mecanicista (2). Diante disto, ao longo de décadas os partos passaram a ser acompanhados de várias intervenções excessivas desfavoráveis e dolorosas e sem respaldo científico. Dentre elas se destacam a aceleração do parto com hormônio sintético, amniotomia, analgesia raqui e peridural, posição litotômica, manobra de Kristeller e episiotomia (3,4). O dano gerado por essa prática intervencionista tem retratado também a violência obstétrica (5) e as relações de poder-saber retratado por interações verticalizadas no cuidado em saúde.

Objetivos

Identificar a percepção de puérperas sobre a assistência obstétrica no Sistema Único de Saúde.

Método

Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva, de abordagem qualitativa, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, com protocolo de parecer nº 2.433.760 , atendendo aos aspectos éticos de pesquisa em seres humanos, conforme Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde6. Foram entrevistadas puérperas de um hospital e maternidade pública de Goiânia, Goiás que se encontravam internadas em Alojamento Conjunto, em período de pós-parto vaginal ou cirúrgico. Como critérios de exclusão considerou-se a história de morte fetal na gestação atual e complicação pós-parto que inviabilizasse a participação na entrevista. Foram utilizados dois instrumentos de entrevista semiestruturada para obtenção de dados sociodemográfico e obstétrico e

apresentadas perguntas abertas para nortear a identificação da percepção das puérperas sobre a assistência obstétrica no Sistema Único de Saúde. Os dados das entrevistas foram analisados a partir da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin7, atendendo as fases de pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação. De acordo com o método descrito, as temáticas evidenciadas das falas possibilitaram gerar inferências que remeteram às informações objetivas e subjetivas acerca do objeto de estudo. A partir das temáticas centrais, estabeleceu-se um diálogo com o referencial teórico.

Resultados

As 25 puérperas entrevistadas tinham em média 25 anos, a maioria vivia com o companheiro, tinha ensino médio, autodeclarou-se branca, era multípara, teve parto normal induzido, iniciou o pré-natal no primeiro trimestre de gestação, realizou oito ou mais consultas e chegou à maternidade por meio de recursos próprios. Três temáticas emergiram das falas das entrevistadas: 1) Pouca abertura ao diálogo no pré-natal: as puérperas evidenciaram lacunas relacionadas à comunicação insatisfatória dos profissionais de saúde e ausência de atividades educativas em grupos durante a assistência pré-natal. A privação de informação e comunicação prejudicada no pré-natal pode ter influenciado na tomada de decisão e planejamento de partos cirúrgicos por algumas das participantes. Frente a essa realidade houve predomínio de uma visão medicalizada e intervencionista por parte delas, com destaque em seus imaginários do parto cirúrgico como um desfecho seguro e positivo para o nascimento; 2) Peregrinação e desamparo no momento do parto: as puérperas revelaram peregrinação até definição da instituição de atenção ao parto e nascimento. Suas falas apontaram fluxos indefinidos ou mal utilizados na rede de atenção e a falta de vinculação da atenção primária com a maternidade. Isto reflete a fragmentação do cuidado e a necessidade da vinculação da rede de assistência a nível de gestão local. O sentimento de desamparo foi retratado pela falta da garantia do direito ao acompanhante e limitações para sua permanência; 3) Desconforto gerado por práticas intervencionistas no parto: foi evidenciada pelas puérperas uma quantidade elevada de intervenções relacionadas à condução do parto normal como os procedimentos de episiotomia, indução sintética do parto, uso de cateter venoso e ruptura mecânica da membrana amniótica.

Considerações Finais

Identificou-se que as puérperas apresentaram dificuldades para o acompanhamento adequado de pré-natal diante da comunicação insatisfatória dos profissionais de saúde, visão medicalizada do processo de parto e nascimento frente a prática excessiva de intervenções por parte dos profissionais de saúde e avaliação negativa da atenção obstétrica frente a falta de empatia e cuidado humanizado. Diante disto, aponta-se a necessidade de reorganização dos fluxos de atenção, assim como fortalecimento da rede de atenção ao pré-natal e parto e nascimento, afim de evitar a peregrinação e a prática intervencionista que configure violência obstétrica por interações verticalizadas no cuidado em saúde.

Referências: 1. VENDRÚSCOLO, C.T.; KRUEL, C.S. The history of childbirth: from homes to hospitals, Midwives to physicians, subjects to objects. Disciplinarum Scientia, v. 16, n. 1, p. 95-107, 2015.

2. LEÃO, M.R.C. et al. Reflexões sobre o excesso de cesarianas no Brasil e a autonomia das mulheres. Ciência & Saúde Coletiva, v.18, n.8, p.2395-2400, 2013.

3. ZANARDO, G. L. P. et al. Violência Obstétrica No Brasil: Uma Revisão Narrativa. Psicol. Soc. v. 29, e155043, 2017.

4. RODRIGUES, D. P. et al. A Violência Obstétrica no Contexto do Parto e nascimento. Rev enferm UFPE on line, v. 12, n. 1, p. 236-46, 2018.

5. ANDRADE, P. O. N. et al. Fatores associados à violência obstétrica na assistência ao parto vaginal em uma maternidade de alta complexidade em Recife, Pernambuco. Rev. Bras. Saude Mater. Infant., v. 16, n. 1, p. 29-37, 2016.

6.BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. 229 p.

7. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: Diário Oficial da União, nº 12, Seção 1, p.59, 2012. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf>. Acesso em: 21 mar. 2017.

Palavras Chave

Assistência pré-natal. Assistência ao parto. Serviços de Saúde. Violência contra a mulher.

Area

Saúde da Mulher

Autores

ISABELLA MAYARA CLEIDE DIANA MARIANA NEPOMUCENO DE SOUZA, NILZA ALVES MARQUES ALMEIDA, EDSAURA MARIA PEREIRA, Maria ELIANE LIÉGIO MATÃO, JAQUELINE RODRIGUES DE LIMA