Datos del trabajo


Título

IMPASSES NO PROCESSO DE ALTA DOS USUARIOS DE UM CENTRO DE ATENÇAO PSICOSSOCIAL SOB O OLHAR DOS FAMILIARES

Introdução

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são serviços estratégicos na rede de atenção psicossocial, pautados nos princípios da reforma psiquiátrica. Entretanto, a vinculação dos usuários deve ocorrer em momento específico, quando necessitam de atenção contínua em saúde mental. O processo de transferência de cuidados dos usuários1 dos CAPS para o território envolve um trabalho conjunto entre a rede de atenção à saúde mental, território, familiares e usuário onde a família tem um papel fundamental2. Em muitos casos, essa acredita que os usuários deverão ser atendidos pelo CAPS durante toda a vida, e percebem esse dispositivo como um local para passar o tempo. Um reforço para dependência do serviço pode se dar desde o acolhimento, quando o usuário e seu familiar não recebem a informação de que se trata de um serviço de permanência temporária e em algum momento poderá dar continuidade ao tratamento em outro local3. Neste sentido, destaca-se a importância da participação da família no cuidado e na corresponsabilização sobre o tratamento, facilitando a reinserção do usuário na comunidade e a retomada da rotina diária4.

Objetivos

Identificar os impasses no processo de alta dos usuários do CAPS sob o olhar dos familiares de usuários.

Método

Pesquisa qualitativa, com abordagem descritiva e exploratória, sendo um recorte do projeto de pesquisa “Avaliação dos Centros de Atenção Psicossocial da região sul do Brasil” desenvolvido em 2006 (CAPSUL I) e 2011 (CAPSUL II), sob financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Saúde. Foi desenvolvido em um CAPS II da cidade de Joinville, Santa Catarina. Participaram do estudo 23 familiares, sendo 10 do CAPSUL I e 13 do CAPSUL II. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, no âmbito do CAPS. Utilizou-se a Análise temática de Minayo5, e os participantes foram identificados pela ordem da entrevista, seguido da edição da pesquisa (F1C1: familiar 1, CAPSUL 1). Foram respeitados os princípios éticos da Resolução 466/20126, a pesquisa CAPSUL I foi aprovada no Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) (parecer 074/2005), e o CAPSUL II pelo CEP da Faculdade de Enfermagem da UFPel (parecer 176/2011).

Resultados

Como um dos impasses para o processo de alta identifica-se como resistência a insegurança com o fato de o familiar não saber lidar com o usuário sem o suporte do CAPS: “Então a hora que eles derem alta aqui onde que eu vou colocar eles? E quando é para eu ir ao médico, algum lugar, eu não vou pode levar eles junto [...] (F3C1)”. A família acaba reproduzindo o discurso da sociedade, ainda carregado de preconceitos, que é atrelado à sobrecarga que emerge do cuidado e necessidades do familiar, assim, o controle do sintomas e a institucionalização acabam sendo uma forma de aliviar o desgaste e sofrimento emocional7: “Aí eles transferem ele para o posto de saúde do bairro [...] Isso não deveria, porque eles não vão deixar de ser doente nunca [...] Isso é preocupante, teriam que nesse processo de alta do CAPS, mas ter sim um lugar onde pudesse chamá-lo, ver como ele está [...] Porque daqui eles não saem curados, eles estão vulneráveis a ter outras crises (F3C2).” Outra questão identificada foi a medicação, quando o familiar refere que o usuário não fará o tratamento em casa como no CAPS: “Porque depois ele chega em casa, aí ele não toma o remédio certinho como lá (CAPS)... ele ontem de manhã não tomou, aí hoje ele já foi e já tomou o remédio certinho (F10C1)”. O fato do familiar não concordar com a alta do CAPS, pode ser entendido como um desconhecimento em relação aos princípios norteadores do CAPS3, bem como, pode estar relacionado ao temor referente à recaída e a desestruturação familiar que a crise pode ocasionar7: “E aqui acaba sendo um mundinho que elas tem, um mundinho muito protegido, muito privilegiado, aqui elas não tem ninguém brigando com elas, não tem ninguém de mau humor, pelo contrário as pessoas são extremamente carinhosas são sempre na prontidão de explicar, ajudar, cuidar”. Destaca-se que o suporte familiar, além da autonomia e da independência, são aspectos fundamentais quando se pensa no processo de alta1, que demonstra a importância do trabalho e conscientização da família durante este processo, visto que os familiares ainda demonstram desconhecimento e resistências na aceitação e retorno do usuário a convivência familiar de forma integral.

Considerações Finais

A Reforma Psiquiátrica implementou mudanças nos modos de tratamento dos usuários, possibilitando cuidado em liberdade, almejando a reinserção social. No entanto, é necessária maior compreensão dos familiares para que possam entender o CAPS como uma ferramenta de suporte nesse processo de reinserção do usuário. Contribuir para a compreensão dos familiares sobre o processo de alta dos usuários pode auxiliar na transição para o território dos mesmos e tornar mais eficaz as prerrogativas inclusivas dos tratamentos em saúde mental atuais.

Palavras Chave

Alta; Centros de atenção psicossocial; familiares

Area

Saúde Mental

Instituciones

Universidade Federal de Pelotas - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

HELENA STRELOW RIET, Ariane da Cruz Guedes, Luciane Prado Kantorski, Agnes Olschowsky, Vinícius Boldt dos Santos