Datos del trabajo


Título

REPRESENTAÇOES SOBRE SEXUALIDADE DE PESSOAS VIVENDO COM HIV E O DIAGNOSTICO ATRASADO DA INFECÇAO

Introdução

O problema do HIV/aids, além de sua inscrição como fenômeno epidemiológico, biológico e clínico, é um fenômeno psicossocial e cultural, inscrito na experiência social das comunidades, multifacetado e permeado por subjetividades, representações e formações ideológicas presentes no imaginário coletivo e nas introjeções psíquicas que os indivíduos têm e constroem sobre os acontecimentos. Estes aspectos, particularmente aqueles relacionados às representações da sexualidade, influenciam o percurso de pessoas acometidas desde o período anterior ao diagnóstico até a descoberta da infecção e vivência do tratamento. As dificuldades enfrentadas em suas trajetórias são variadas e se traduzem em atraso no diagnóstico da infecção pelo HIV, o que, em si, é um grave problema de saúde coletiva. A questão do presente estudo diz respeito às representações sobre sexualidade de pessoas vivendo com HIV, as quais são centrais no seu modo de pensar e agir e influenciam sobremaneira as suas trajetórias de vida, suas relações afetivossexuais e a busca por diagnóstico.

Objetivos

Analisar representações construídas por pessoas vivendo com HIV sobre sexualidade e sua influência na busca atrasada por diagnóstico.

Método

Trata-se de recorte de uma pesquisa qualitativa, que compôs estudo de abordagem mista, realizado com pessoas vivendo com HIV no Estado da Paraíba, localizado no Nordeste brasileiro. Utilizou-se como referencial teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais, a partir da abordagem crítica proposta por Giami e Veil (1997). A amostra foi obtida de forma intencional nos seis Serviços de Assistência Especializada do Estado, delimitada pela técnica de saturação teórica e constituída por dezoito participantes. Foram considerados como critérios de inclusão: pessoas com HIV acima de 18 anos de idade, em terapia antirretroviral, que apresentaram diagnóstico tardio ou muito tardio, segundo dados coletados na fase quantitativa da pesquisa, e que forneceram informação relativa a número de telefone fixo ou celular e anuência para contato ulterior. O critério para classificação do diagnóstico em tardio ou muito tardio foi a contagem de linfócitos T CD4+ no momento da descoberta da infecção, correspondendo a LT-CD4 > = 200 células/mm3 e < 350 células/mm3 e LT-CD4 < 200 células/mm3, respectivamente. A coleta dos dados ocorreu em agosto de 2017, por meio de entrevista aberta ou não estruturada. A saturação dos dados foi o critério para suspensão da coleta. Para a análise das entrevistas, foi utilizado o método da Análise Estrutural de Narração, segundo Demazière e Dubar (1997), e o Software MAXQDA 12®, este com as funções principais de organização dos textos e de codificação do material empírico. O estudo cumpriu as normas da Resolução CNS nº. 466/2012 e foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados

As ideias, concepções, discursos e ações relacionadas à sexualidade constituem-se em determinados contextos socioculturais e históricos em que vivem os sujeitos, que apreendem e introjetam as representações da sexualidade. A interpretação das narrativas dos entrevistados desvelou representações originais relacionadas à sexualidade de pessoas vivendo com HIV, tais como: relação sexual é natural; é na adolescência que se inicia a vida sexual; negação do risco para infecção de HIV. A representação de busca pelo prazer na relação sexual, independente do risco de infecções permeia todas as demais, revela-se na vivência da sexualidade e destaca-se pela forte ancoragem no imaginário social. Revelou-se a representação central de que a prática de relações sexuais é natural e integra as diversas fases de vida das pessoas. Derivada desta representação original, surgiu a representação periférica de que o desejo sexual é um impulso natural e incontrolável que, por sua vez, articula-se à representação também central da busca pelo prazer na relação sexual, independente das consequências. Desvela-se uma contradição entre a vivência livre da sexualidade nas suas várias formas e a preocupação com infecções e doenças sexualmente transmissíveis, o que influencia a não utilização do preservativo e, como consequência, ocorre a exposição à infecção pelo HIV, sem a consciência dessa vulnerabilidade. Emergiram também questões de gênero que interferiram na decisão de praticar relações sexuais desprotegidas, mais especificamente, referentes a comportamentos de masculinidade hegemônica. Evidenciou-se a representação periférica do “machismo”, revelado na recusa dos homens em usar o preservativo, tanto nas relações casuais, quanto nas relações com parceria fixa. Em relação à representação de que a vida sexual deve necessariamente começar durante a adolescência, pode-se afirmar que, desde o início de sua vida sexual, as mulheres vinculam a prática do sexo à vivência de relações amorosas e, nos discursos dos homens, revela-se uma naturalização do sexo em sua trajetória de vida, inclusive no começo da vida sexual. O início cada vez mais precoce da vida sexual favorece a exposição ao HIV e a outras infecções sexualmente transmissíveis, devido à imaturidade própria dos adolescentes, que trazem em seu âmago o desejo por novas experiências sem pensar nas consequências e a construção da autoidentidade. Soma-se a isto, a falta de diálogo com os pais sobre sexualidade e a abordagem insuficiente da temática na escola e nos serviços de saúde. A representação original de negação do risco para infecção de HIV ocupou a centralidade das trajetórias de vida de pessoas vivendo com HIV. O não reconhecimento da própria vulnerabilidade ao HIV está implicada em todas as demais representações e influenciou sobremaneira a busca atrasada por diagnóstico, tendo em vista que as pessoas se relacionaram sexualmente sem preservativo ao longo de sua vida, expondo-se à infecção, mas não cogitaram realizar o rastreamento após estas relações desprotegidas.

Considerações Finais

O complexo e imbricado sistema de representações originais e periféricas sobre a sexualidade de pessoas vivendo com HIV permanecem intensamente arraigadas no imaginário coletivo e possuem implicações para o diagnóstico tardio da infecção. Destarte, faz-se necessário compreender estas representações, para que sejam delineadas e implementadas estratégias de enfrentamento e políticas de saúde que visem o diagnóstico e tratamento oportunos da infecção.

Palavras Chave

HIV. Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. Sexualidade. Diagnóstico Tardio.

Area

Doenças Transmissíveis

Autores

Luana Carla Santana Ribeiro, Maria Imaculada de Fátima Freitas