Datos del trabajo


Título

IMPLICAÇOES DA VIOLENCIA OBSTETRICA PARA A MULHER E O RECEM-NASCIDO NO PUERPERIO

Introdução

A violência obstétrica é definida como todo ato ou omissão do profissional de saúde que leve à apropriação indevida dos processos corporais e reprodutivos das mulheres e que se expressem no tratamento desumano, no abuso da medicalização e na patologização dos processos naturais, fazendo com que a mulher perca a sua capacidade de decidir livremente sobre o seu corpo e sexualidade, impactando negativamente na sua experiência de gestação, parto, nascimento e pós-parto, bem como na qualidade de vida do binômio mãe-filho. Por ser praticada por agentes e órgãos públicos que deveriam estar voltados para a defesa do direito à cidadania da gestante e parturiente, é considerada um dos tipos de violência mais preocupantes. Estudos sobre a violência obstétrica de diferentes países demostram que os tipos de violência que prevalecem nas maternidades que são a violência por negligência; violência verbal ou psicológica, incluindo tratamentos grosseiros, ameaças, gritos e humilhações; violência física, incluindo a recusa deliberada da administração de anestésicos para aliviar o sofrimento das parturientes; e violência sexual. O puerpério, por si só, é um período no qual a autoconfiança da mulher encontra-se em crise. Tornar-se mãe é um ritual de transição e implica num esforço de reorganização dos papeis historicamente atribuídos ao sexo feminino dentro da sociedade patriarcal e, neste processo, diversos sentimentos irão aflorar no decorrer dos dias; entre eles a euforia, o medo, o alívio, a ansiedade, entre outros. A redução da violência obstétrica institucional no trabalho de parto e parto consiste num desafio, tendo em vista a sua invisibilidade e não reconhecimento como violação dos direitos humanos. Neste cenário, ampliar o conhecimento sobre o cuidado prestado às mulheres em trabalho de parto e parto torna-se uma ferramenta valiosa para a avaliação do processo de atenção no atendimento obstétrico nas maternidades. Desta forma, verifica-se a necessidade de promover mudanças na forma do cuidado das mulheres no trabalho de parto e parto, para que estas possam ter uma experiência positiva e seus direitos assegurados durante o trabalho de parto, parto e puerpério. Este estudo assumiu como pressuposto a ideia de que para mudar este tipo de cuidado, é importante identificar quais percepções os sujeitos envolvidos tem sobre ele.

Objetivos

Conhecer as consequências da violência obstétrica para a mulher e o recém-nascido durante o puerpério.

Método

Pesquisa exploratória, descritiva, de abordagem qualitativa, desenvolvida em um hospital público de uma cidade do Peru. Utilizou-se a Teoria das Representações Sociais como referencial teórico. Participaram do estudo 30 puérperas. Os critérios de inclusão abrangeram mulheres com mais de 18 anos que permaneceram internadas em trabalho de parto normal por pelo menos 6 horas, no Centro Obstétrico. Os dados foram coletados por meio de roteiro de entrevista semiestruturada no período de janeiro a março de 2015. Para análise dos dados, utilizou-se a análise temática de conteúdo. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sendo aprovado pelo parecer nº 872.447, e ao Hospital Regional de Loreto com aprovação pelo parecer nº 003-ID. As mulheres receberam todas as informações referentes à investigação, e formalizaram a decisão de participar do estudo através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Quanto às características sociodemográficas, a faixa etária das mulheres entrevistadas variou entre 18 e 45 anos, com a prevalência do intervalo de 21 a 29 anos. A maioria das mulheres viviam em união estável, possuíam ensino médio incompleto, tinham renda mensal inferior a um salário mínimo e declaravam-se totalmente dependentes financeiramente de algum membro da família. A partir da análise dos relatos das participantes, emergiram as seguintes categorias: 1) A dor da violência física no puerpério: a violência física foi representada como agressões, procedimentos violentos e que causaram dor no local lesionado, como a manobra de Kristeller e a episiotomia, trazendo desconforto e dor no puerpério e com implicações para o recém-nascido, uma vez que foram relatadas dificuldades para se sentarem e segurarem seus filhos no pós-parto. 2) O poder e a culpabilidade no puerpério: foram relatados abusos de poder praticados, principalmente, pela classe médica, como não informar a mulher sobre o que está sendo feito e não solicitar seu consentimento para a realização de procedimentos com ela e o bebê. Ainda, foi relatado que os profissionais atribuíam o desfecho negativo do parto unicamente à mulher. 3) A dor que cala por ser mulher: foi relatado que as agressões vinham acompanhadas de aspectos que diziam respeito ao ser mulher, como ameaças de que não será mais desejada por nenhum homem caso a sutura não fosse feita, pesadelos pelo tipo de cuidado que tiveram, dificuldades para dormir após o parto e medo de que os profissionais a reprimissem por não estar realizando corretamente a função de mãe.

Considerações Finais

Nossos dados permitiram compreender as implicações da violência obstétrica para a mulher e o recém-nascido no puerpério, que trazem, principalmente, sentimentos de culpa e de tristeza às mulheres. A violência obstétrica apresenta uma estreita ligação com a violência de gênero, pois transforma a mulher em um objeto de intervenção profissional, não a considerando como sujeito de seus próprios atos e decisões sobre o que lhe acontece. É necessário rever e melhorar os cuidados de enfermagem no atendimento às mulheres e recém-nascidos no puerpério, escutando suas vozes e dando significação às suas experiências neste momento importante das suas vidas.

Palavras Chave

Cuidado pós-natal. Parto. Percepção social. Período pós-parto. Trabalho de parto. Violência contra a mulher.

Area

Saúde da Mulher

Instituciones

Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina - Brasil

Autores

Claudini Honório De Pieri, Maria de Jesus Hernández Rodriguez, Evangelia Kotzias Atherino dos Santos, Marli Terezinha Stein Backes