Datos del trabajo


Título

REFLEXÕES SOBRE INTERVENÇÕES EM FAMÍLIAS EM SOFRIMENTO PSÍQUICO: A EXPERIENCIA DO PROJETO CONVIVER

Introdução

Este trabalho apresenta algumas reflexões sobre a experiência do Projeto Conviver, desenvolvido como atividade de extensão do Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB). Desde a processo de luta pela mudança do modelo manicomial muito se tem discutido e refletido sobre práticas de cuidado e atenção em saúde mental. O projeto baseia-se nos pressupostos da Reforma Psiquiátrica da autonomia do sujeito, da liberdade e da integração da família nas práticas de atenção e cuidado. As atividades do projeto tiveram início em 2017, a partir da necessidade identificada entre pessoas que procuram o Serviço de Psicologia da Clínica Escola Iesb. Muitas pessoas enfrentam dificuldades de adesão ao tratamento terapêutico clínico por diversos motivos. A iniciativa do projeto de ir até as casas das pessoas foi bem recebida pela maioria das famílias, o que proporciona uma maior interação da equipe com as pessoas e resultados mais qualificados em relação ao tratamento e a convivência com pessoas em sofrimento psíquico. O projeto utiliza-se de métodos de abordagem mistos, que perpassam a desde a narrativa, a teoria das representações sociais e estudos de caso. A região na qual o projeto se insere apresenta alto grau de vulnerabilidades e riscos sociais, agrados pela ausência de serviços da rede de atenção em saúde mental.

Objetivos

O projeto tem por objetivo geral desenvolver atividades de capacitação em saúde mental para estudantes e comunidade em geral, associadas ao atendimento e acompanhamento de famílias de pessoas em sofrimento psíquico.
Constituem-se como objetivos específicos:
1) Ofertar formação continuada em saúde mental para estudantes, profissionais e comunidade;
2) Orientar famílias de pessoas em sofrimento psíquico sobre causas e formas de conviver com efeitos do sofrimento psíquico/adoecimento pelo qual a pessoa e a família estão passando;
3) Estimular relações que estabeleçam vínculos familiares e sociais capazes de funcionar como agentes de proteção e cuidado em saúde mental;
4) Construir conjuntamente com a pessoa em sofrimento psíquico e o núcleo familiar estratégias de emancipação e autonomia crítica nas escolhas de cuidado e tratamento;
5) Contribuir para a melhoria da convivência familiar e comunitária estimulando o fortalecimento de vínculos familiares e sociais;
6) Estimular a organização coletiva, política e social de pessoas e familiares em torno da luta pela garantia dos direitos das pessoas com transtornos mentais.

Desenvolvimento

O desenvolvimento do projeto conta com a participação de estudantes e egressos voluntários e professores dos cursos de Serviço Social e Psicologia no papel de supervisores. Os integrantes são organizados em equipes de até quatro componentes cada, sempre privilegiado a presença das duas áreas de conhecimento envolvidas. Todos passam por um período de capacitação em saúde mental, a partir do pressuposto da abordagem psicossocial e do trabalho social com famílias. As atividades de capacitação contemplam a leitura, o debate e a discussão sobre textos, documentários; visitas técnicas a instituições e serviços da rede de atenção em saúde mental local; participação e realização de oficinas terapêuticas com grupos específicos. Após o período de capacitação as equipes passam à fase de atendimento às famílias, as quais são pré selecionadas com base em indicadores qualitativos registrados em prontuário de atendimento que apontem para o perfil do público do projeto. Escolhidas, as pessoas são contactadas e convidadas a participar do projeto. Em caso de concordância, elas passam a ser acompanhados pelas equipes, por meio de encontros semanais e/ou quinzenais, na casa ou em outro local combinado previamente. A família participa e se integra aos poucos, a partir do momento que percebe a necessidade e/ou se sente a vontade para participar. O vínculo com a equipe vai se constituído e possibilita o desenvolvimento de uma relação de confiança, de presença, de referência, que vem a assegurar suporte nos momentos de crise. Nos encontros são abordadas questões relacionadas ao processo de atenção, cuidado e convivência familiar, social e comunitária, estimulando-se a autonomia e emancipação. Nas intervenções, procura-se utilizar técnicas e abordagens da escuta ampliada/qualificada, da observação, da narrativa. As famílias são acompanhadas durante o período de um semestre, podendo esse prazo ser estendido para até um ano, a depender da situação e do interesse da família. As equipes se reúnem uma vez por semana para discutir as intervenções em supervisão, com os professores das áreas envolvidas. Nas supervisões são relatadas as situações vivenciadas nos encontros e a partir das intervenções coletivas são resignificados aprendizados e técnicas de intervenção em saúde mental.

Considerações Finais

Os resultados parciais alcançados apontam para ganhos significativamente mais rápidos e consistentes na evolução terapêutica em relação ao tratamento adotado pela clínica tradicional do tipo ambulatório. A melhora da convivência familiar e social contribuem para a emancipação da pessoa em sofrimento e da família. A compreensão sobre o sofrimento coletivo do núcleo familiar possibilita que as pessoas desenvolvam maior empatia e busquem soluções coletivas de melhorar a convivência e a qualidade de vida. Nos encontros situações que, possivelmente, não poderiam ser captadas na clínica tradicional, através da escuta da queixa trazida pela pessoa, são percebidas a partir do olhar multidisciplinar da equipe que visita. No plano metodológico, a experiência do projeto nos possibilita vislumbrar possibilidades de uso de métodos mistos no desenvolvimento de novas práticas de atenção e cuidado. Práticas essas que assegurem a liberdade e a autonomia de escolha do sujeito pela forma como deseja ser cuidado. O respeito às diferenças e a integralidade das formas de saberes são balizadores das intervenções realizadas. Concluímos que o projeto possibilitou o acesso a uma formação profissional ampliada para os integrantes da equipe, considerando a vivência adquirida nas atividades, nas discussões das reuniões de supervisão e no aprofundamento teórico sobre saúde mental.

Palavras Chave

Saúde mental, Famílias, Abordagem Psicossocial

Area

Saúde Mental

Instituciones

Universidade de Brasília - Distrito Federal - Brasil

Autores

FERNANDA SCALZAVARA