Datos del trabajo


Título

HISTÓRIAS DE MULHERES QUE VIVENCIARAM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Introdução

A violência contra as mulheres ocorre em todos os países do mundo como uma violação dos direitos humanos e como um impedimento a conquista da igualdade de gênero. Trata-se de grave problema de saúde pública, pois afeta a integridade física, psicológica, social, moral e sexual das mulheres. A pior forma da demonstração da existência da violência contra as mulheres são os óbitos; estima-se que cerca de 13 a 14 mulheres vão a óbito por agressão diariamente no Brasil. A violência doméstica, ainda em nosso país, ocorre em muitos lares de forma explicita ou velada, causando vários transtornos decorrentes da situação de trauma, como o estresse pós-traumático. De acordo com o Mapa da Violência 2012, duas em cada três pessoas atendidas no SUS em razão de violência doméstica ou sexual são mulheres; e em 51,6% dos atendimentos foi registrada reincidência no exercício da violência contra a mulher. Pretende-se com este estudo desenvolver maneiras de evitar e de abordar mais adequadamente as mulheres que sofrem maus tratos dentro de seus lares e que desenvolveram uma reação patológica ansiosa desencadeada pelo choque emocional, gerando impedimentos e dificuldades psíquicas decorrentes do trauma vivenciado.

Objetivos

O estudo tem como objetivo analisar a história de vida de mulheres afetadas pelo estresse pós-traumático após terem sofrido violência doméstica e propor intervenções a partir das demandas que emergiram desses relatos.

Método

Trata-se de pesquisa descritiva, biográfica, de abordagem qualitativa. Participaram do estudo dez mulheres com diagnóstico de estresse pós-traumático por violência doméstica, atendidas no Centro de Referência da Mulher de um município do estado de São Paulo. Foram coletados dados da história de vida, narrados de forma oral, em entrevistas individuais de livre discurso; gravadas em áudio. Além disso, foi aplicado um formulário contendo dados sociodemográficos para caracterização das participantes. Para análise do material colhido nas entrevistas orais foi adotado o método de análise de conteúdo, modalidade temática.

Resultados

Os resultados mostraram que seis participantes estão na faixa etária entre 21 e 49 anos, portanto a maioria delas; apenas duas são casadas atualmente, cinco possuem o ensino médio e quatro completaram o ensino superior. Sete são trabalhadoras. Em nove narrativas, o agressor foi o companheiro ou ex-companheiro; em uma, era o irmão. As dez participantes relataram violência física e psicológica; nove apontaram violência patrimonial; cinco sofreram também violência sexual. Alguns determinantes da violência que apareceram nas narrativas foram: ciúme exagerado e imotivado; sentimentos de posse em relação às vítimas; agressividade em suas várias formas de manifestação; metade dos agressores fazia uso de álcool e ou drogas; alguns foram descritos com algum tipo de distúrbio mental. As participantes experimentaram diversos sentimentos, entre os quais medo, pânico, sensação de perigo, vergonha, culpa, desesperança, depressão. Essas mulheres tiveram suas vidas marcadas indelevelmente, perderam a autoestima, algumas conviveram por muitos anos com o agressor; todas lutam para superar o trauma e retomar suas vidas. Elas contam sua história: ... "O tempo inteiro ele me ameaça, ele fala que só vai ficar feliz o dia que eu estiver num caixão..." "Vinte um anos de tortura de agressões físicas e verbais eu não tinha vida, nunca fui feliz....'' ''Ele meu deu muitos socos, muitos tapas no meu rosto..." "No outro dia eu fui ao hospital, eu estava toda cheia de hematomas, o meu filho tirou todas as fotos..." "Ele conseguia me fazer sentir culpa, eu apanhava e achava que eu estava errada..." "Aí ele me bateu depois quis fazer sexo, ele sempre fazia isso, e foi aí que eu fiquei grávida da menina..". "Fiquei 22 anos casada com uma pessoa, sempre fui violentada, sempre fui ameaçada com arma na cabeça, obrigada a fazer o que eu não queria, não saia de casa, e a violência foi só aumentando..." "Minha irmã apanhava, aí ela foi embora de casa, daí quem começou a apanhar fui eu, porque ele era usuário de droga, meu pai não dava dinheiro, daí ele queria bater em todo mundo, gritava, corria atrás pra bater, os vizinhos nem se envolviam, acho que com medo também..." "Então a gente vai acumulando tudo, esse processo de agressão, de averbações, que uma hora chega no limite..." "Ele apareceu em casa e começou a me empurrar, me bater, puxar meu cabelo, fazer várias acusações e queria levar meu filho que não tinha nem três anos, tentou arrancar o menino do meu colo e um tapa que ele foi me dar ele acertou meu filho..".

Considerações Finais

O termo violência doméstica é utilizado para caracterizar todas as formas de violência praticadas no ambiente familiar. Nesse contexto cabe assinalar a importância do ambiente externo ao lar, em oferecer a proteção e o cuidado necessários para tratar as mulheres em situação de violência doméstica e as situações de estresse que as acompanham. A complexidade do transtorno de estresse pós-traumático aponta para a necessidade de tratamento multidimensional e diagnóstico precoce. Além disso, a violência contra a mulher requer um olhar ampliado para a prevenção, o acolhimento da mulher em todas as instâncias de atendimento, bem como a ampliação da oferta de serviços para a formação de redes de atenção especializada para as mulheres em situação de violência.

Palavras Chave

Violência doméstica; Estresse pós-traumático, Histórias de vida

Area

Violências e Saúde

Autores

Sergio Leão Bálsamo Sergio, Lúcia Rondelo Duarte LUCIA RONDELO