Datos del trabajo


Título

CAMINHOS PARA ERRADICAÇAO DA EPIDEMIA DE HIV/AIDS: UMA ANALISE A PARTIR DA SOCIOLOGIA DAS EMERGENCIAS E DO TRABALHO DE TRADUÇAO

Introdução

Ao nos aproximarmos da quarta década da epidemia brasileira de HIV/aids, o contexto epidêmico no país ganha contornos de extrema complexidade. Em 2016, o Brasil apresenta quadro de reemergência e perfil de epidemia concentrada em HSH, usuário de drogas, jovens gays e profissionais do sexo, de diminuição dos investimentos internacionais e de acirramento de setores conservadores em relação às políticas públicas, com refreamento da abordagem da epidemia com base nos direitos humanos. Ao mesmo tempo, a Organização das Nações Unidas afirma que é possível erradicar a epidemia de HIV/aids até 2030. Diante dessa realidade, Richard Parker interroga: “E porque o Brasil parece, pelo menos em alguns discursos, estar caminhando na contramão?” (1). Em face da atual conjuntura da epidemia de HIV e aids no Brasil, corroboramos a afirmação do autor de que, para conhecer a realidade do HIV e da aids, é necessário reconhecer as pessoas afetadas por ela e conhecer as histórias que elas têm para contar. Dessa forma será possível compreender a real dimensão da epidemia no contexto de vida e trabalho das pessoas que lidam com ela cotidianamente, assim como identificar caminhos para o seu enfrentamento mais próximos da realidade das comunidades.

Objetivos

Esta pesquisa teve por objetivo geral conhecer e analisar experiências de pessoas que vivenciam a epidemia HIV/aids no contexto atual de adoção de estratégias terapêuticas para alcançar metas nacionais e internacionais de erradicação da epidemia até 2030.

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, fundamentada nos procedimentos metodológicos da sociologia das emergências e no trabalho de tradução, aportados por Boaventura de Souza Santos. A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética com parecer 1.908.896. O campo da pesquisa foi produzido em um Serviços de Assistência Especializada no estado Rio Grande do Norte. A estratégia de entrevistas com Histórias de Vida Focais ou Temáticas, que abordam um só tema ou questão no curso da sua experiência de vida do narrador, foi adotada considerando que essa modalidade permite elaborar uma versão da história mais complexa, compondo um texto polifônico sobre o tema de interesse da pesquisa (2). Foram entrevistados cinco profissionais e quatro usuários do serviço de saúde. O exercício interpretativo das histórias de vida foi realizado com base na Sociologia das Emergências, no Trabalho de Tradução e na Ecologia de Saberes, a partir de Boaventura de Sousa Santos (3,4). A sociologia das emergências é a investigação das alternativas que cabem no horizonte das possibilidades concretas, juntando ao real, que é amplo, as possibilidades e expectativas futuras que ele comporta. Ela consiste em proceder a uma ampliação simbólica dos saberes, práticas e agentes de modo a identificar neles as tendências de futuro, onde se pode atuar para maximizar as possibilidades de esperança em relação às possibilidades de frustração. Possui dois objetivos: 1. conhecer melhor as condições de possibilidade da esperança; e 2. definir princípios de ação que promovam a realização dessas condições (2). O Trabalho de Tradução é o procedimento que permite criar inteligibilidade recíproca entre as experiências do mundo, as disponíveis e também as possíveis, que a sociologia das emergências revela (3). O Trabalho de Tradução entre as narrativas dos sujeitos que produzem saberes e práticas locais e as narrativas oficiais que produzem saberes globais, a partir do trabalho argumentativo, baseou-se na análise do material empírico produzido na pesquisa em diálogo com o referencial teórico adotado.

Resultados

Os resultados apontaram que, numa perspectiva local, profissionais e usuários de forma quase unânime afirmam a inviabilidade do fim da epidemia até 2030, mas indicam que seja possível sua erradicação desde que se empreenda uma expansão da garantia dos direitos sociais e das ações e programas de prevenção combinada. Nesse sentido, aproximam-se da necessidade de superação da visão de cuidado pautado pelo êxito técnico em favor de uma abordagem pautada pelo sucesso prático, em contraponto ao discurso oficial global e nacional corroborando o referencial proposto por Ayres (5), também adotado na pesquisa. A prevenção foi identificada como a etapa do cuidado mais negligenciada e mais sujeita a retrocessos no que se refere ao HIV/aids, ao mesmo tempo que foi verificada uma diversidade de saberes práticos a ela associados. Na análise dos resultados, identificamos a insuficiência da representação gráfica de prevenção combinada adotada pelo Ministério da Saúde apresentada no diagrama “Mandala de Prevenção Combinada” e, com base no referencial da ecologia de saberes, produzimos a ampliação de seu conteúdo com incorporação de outros aspectos do cuidado aplicáveis à prevenção e, desta forma, propomos uma representação gráfica alternativa para a mandala da prevenção combinada que foi denominada de “Mandala Ecológica da Prevenção Combinada”. Esta proposição configura-se, assim, como uma das contribuições advindas da análise dos resultados desta pesquisa.

Considerações Finais

A partir do exercício interpretativo de aproximação entre diferentes saberes, concluímos haver necessidade de colocar as pessoas, as comunidades e, em especial, o direito à prevenção no centro das respostas para o enfrentamento da epidemia de HIV/aids, se quisermos empreender a reinvenção do presente, mais que projetar um futuro.

REFERÊNCIAS

1. Parker, R. O fim da Aids? Rio de Janeiro: ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, 2015. Disponível em: http://abiaids.org.br/o-fim-da-aids/28618
2. Aceves, J. Un enfoque metodológico de las histórias de vida. En Proposiciones, v. 29. Santiago de Chile: Ediciones SUR, 1999. Disponível em: <http://www.sitiosur.cl/r.php?id=422>. Acesso em: 24 jun. 2016.
3. Santos, BS. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência, 2002. 4. ed. São Paulo: Cortez.
4. Santos, BS. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
5. Ayres, JRCM. Uma concepção hermenêutica de saúde. Physis, 2007, v. 17, n. 1, p. 43-62.

Palavras Chave

Atenção à Saúde, Histórias de Vida, Sociologia, Trabalho de Tradução, Prevenção do HIV

Area

Saúde Coletiva

Autores

Màrcia Cavalcante vinhas Lucas, Elizabethe Cristina Fagundes de Souza, Ana Gretel Echazú Böschemeier