Datos del trabajo


Título

CONDIÇOES DE TRABALHO DA ENFERMAGEM: UM DETERMINANTE NOS ACIDENTES OCUPACIONAIS?

Introdução

Pressupondo que saúde envolve a garantia de condições dignas de vida e trabalho, instiga-se a discussão da correlação entre os determinantes sociais de saúde que acompanham o trabalhador e a ocorrência de acidentes de trabalho. O trabalho da equipe de enfermagem caracteriza-se pela prestação do cuidado integral ao paciente, desenvolvendo diversas atividades bem como procedimentos que apresentam graus variados de densidade teórica e complexidade tecnológica, além de risco de exposição a material biológico. É considerado acidente de trabalho a intercorrência derivada da atividade profissional do trabalhador, pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalhador segurado especial, podendo provocar lesões físicas, alterações funcionais, causar morte, perda ou redução da capacidade de trabalho.

Objetivos

Analisar a influência do determinantes social de saúde ‘condições de trabalho’ sobre a ocorrência de acidentes de trabalho em profissionais de enfermagem.

Método

Pesquisa qualitativa, exploratória, realizada por entrevistas à 10 profissionais de enfermagem com histórico de acidentes de trabalho. A coleta de dados foi em um ambulatório de especialidades que realiza testagem rápida de sorologias em caso de acidentes com material biológico. Esta pesquisa foi aprovada por Comitê de Ética em Pesquisa sob parecer de número 2.140.948.

Resultados

Dos 10 profissionais de enfermagem entrevistados, todos eram do sexo feminino; 09 técnicas de enfermagem e 01 enfermeira. Condições de trabalho são consideradas o conjunto de elementos, como material, de trabalho, situação psíquica, biológica e social que, influenciados e determinados por vários fatores de ordem econômica, técnica e organizacional, se relacionam, constituindo o meio e a forma em que se desenvolve a atividade laboral. Refletindo sobre este conceito, pode-se pensar como condições de trabalho diversos fatores, sendo que, os que mais destacaram-se nas respostas dos entrevistados foram questões de remuneração, jornada de trabalho, atendimento ao trabalhador, oferta de capacitações e materiais de proteção individual. Dos 10 profissionais entrevistados 09 mostraram-se insatisfeitos com a sua remuneração, ressaltando que o salário não seria suficiente para seu sustento caso não tivessem uma outra fonte de renda. Revelaram, também, que em decorrência dos riscos e responsabilidades que carregam consigo, expressaram ainda mais a insatisfação e o sentimento de desvalorização. Notou-se que, apesar da grande identificação que todos os profissionais entrevistados têm com as atividades diárias da enfermagem, há uma sensação de desvalorização profissional referente à remuneração salarial, considerada aquém das necessidades econômicas, bem como do merecimento dos profissionais diante das responsabilidades de suas tarefas. Este desvelamento por parte dos profissionais de enfermagem nos transporta ao fato já conhecido pela categoria, que é a procura por dupla vinculação de trabalho, e da confirmação das questões de remuneração salarial. Ao questioná-los sobre o número de horas semanais de trabalho formal e informal obteve-se diversas respostas quanto o número de horas trabalhadas, sendo unânime a participação em diversas atividades extra ocupacionais, seja para manter a organização da casa ou complementar a renda. Assim, a jornada de trabalho semanal – incluindo trabalho formal e informal – entre os entrevistados variou entre 70 a 80 horas. Diante da rotina de trabalho dos profissionais de enfermagem e o interesse quanto a saúde do trabalhador, é comum perceber que as instituições contratantes geralmente cumprem as exigências instituídas legalmente, para minimização dos acidentes de trabalho e conservação da saúde do trabalhador. Quando questionados sobre a oferta e uso de EPIs e treinamentos, 90% dos entrevistados relataram a oferta e o uso dos equipamentos de proteção e 100% relataram que possuem treinamentos constantes. Pôde-se perceber que, no contexto destes trabalhadores entrevistados, houve farta oferta de EPIs, bem como de treinamentos e educação continuada para o uso dos mesmos. Partindo da concepção que as condições de trabalho fazem parte do fator condições de vida, seria imprudente não relacioná-los. As condições de vida do cidadão em meio a comunidade, são fatores que regem as características de suas ações. A relação entre a equipe, materiais disponíveis, gestão, incentivo ao trabalhador, número de horas trabalhadas, relações familiares, bem como as condições salariais, são fatores que andam atrelados ao trabalhador em toda a sua rotina, e não somente nos ambientes ou momentos favoráveis.

Considerações Finais

Os resultados emergidos deste estudo revelam que a enfermagem é vigorosamente ocupada por mulheres, submetidas a uma carga horária de trabalho exaustiva, com responsabilidades ocupacionais e domésticas. É notório que há satisfação diante da escolha e execução da profissão, no entanto, o ambiente de trabalho é visto apenas como ambiente de trabalho, não se agregam e discutem os fatorem externos que acompanham o trabalhador e sua rotina. As informações coletadas vão, ainda, ao encontro de uma histórica luta da categoria profissional pela aprovação do seu piso salarial, batalha esta que acontece desde 2000, e até hoje se arrasta em marcha lenta para conquista e valorização dos profissionais de enfermagem. Fica evidente, também, que contrariando diversas produções científicas cujas inferências apontam para a insuficiência ou negligência no uso de EPI por parte do profissional como principal causa de acidentes, os trabalhadores entrevistados possuíam total apoio neste sentido, o que alerta para outras condições como prováveis influenciadoras dos acidentes – a exemplo da sobrecarga de trabalho, cansaço, baixa remuneração e pouco apoio da instituição. Assim, torna-se necessário repaginar a condução dos ambientes de trabalho, levando em conta fatores além dos impostos pelas normativas profissionais diretas e não abrangentes dos determinantes e condicionantes sociais do trabalhador, pois o mesmo faz parte de uma sociedade que lhe influência de diversas formas.

Palavras Chave

Saúde do Trabalhador; Enfermagem; Condições de Trabalho; Acidentes de Trabalho.

Area

Processo de trabalho e profissionalização

Instituciones

Universidade do Vale do Itajaí - Santa Catarina - Brasil

Autores

Karoline Paiva Mendonça, Thaís Fávero Alves, Pollyana Bortholazi Gouvea, Raphael Nunes Bueno, Daniela Cristina Rático de Quadros