Datos del trabajo


Título

INTEGRALIDADE E HANSENIASE: A TRAJETORIA ASSISTENCIAL DE ADOLESCENTES ATINGIDOS PELA DOENÇA

Introdução

O direito a saúde é garantido constitucionalmente e se dá a partir do acesso as ações e serviços que reduzam o risco de adoecimento a partir da promoção, proteção e recuperação da saúde. A busca pela reformulação do sistema de saúde brasileiro que garantisse o acesso e atendimento universal e igualitário a partir de um conceito ampliado de saúde e das necessidades básicas da população culminou na criação do Sistema Único de Saúde (SUS). As Leis 8.080/90 e 8.142/90 dispõem sobre os princípios doutrinários do SUS (Universalidade, Integralidade e Equidade), diretrizes do sistema, regulamentam as ações dos serviços de saúde além de discorrer sobre o controle social1,2,3. A integralidade é compreendida como um conjunto vinculado de ações e serviços de prevenção e cura que podem ser individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade da assistência2. Segundo Mattos4 o conceito de integralidade é considerado polissêmico e pode-se observar nas práticas dos profissionais de saúde, na organização de serviços e nas políticas públicas. Diversas doenças expõem o indivíduo a necessidades complexas de saúde de ordens fisiológicas e psicossociais. Dentre estas se tem a hanseníase, uma doença infecciosa, dermatoneurológica e de grande importância para a saúde pública que ainda hoje, carrega a marca do estigma e exclusão 5. A população menor de 15 anos com hanseníase possui particularidades, pois é nessa faixa etária que ocorre o crescimento, desenvolvimento, mudanças e adaptações e o processo de adoecimento pode interferir na construção da vida. Tais singularidades devem ser levadas em consideração nas práticas dos profissionais de saúde, na organização dos serviços e na formulação das políticas públicas de controle da doença6. Dessa forma se faz necessário estudar a trajetória assistencial desse grupo e identificar se as suas necessidades de saúde estão sendo atendidas de forma integral.

Objetivos

Descrever a trajetória assistencial de usuários menores de 15 anos diagnosticados com Hanseníase no município de Recife-PE na perspectiva da Integralidade

Método

Estudo de natureza qualitativa, do tipo descritivo, realizado no município do Recife-PE. A Rede Municipal de Atenção à Saúde possui oito unidades de referências para tratamento da hanseníase, destas, três foram selecionadas para serem os locais da pesquisa pela maior demanda de usuários nessa faixa etária. O período do estudo foi de agosto 2016 a julho 2017. Os participantes do estudo foram usuários que adquiriram a hanseníase antes dos 15 anos de idade, e seus responsáveis. Foram entrevistados três usuários, dos quais um foi excluído da análise pela fragilidade de informações fornecidas pelo sujeito e seu responsável. A escolha dos participantes se deu a partir de sujeitos chaves encontrados pelas Unidades de Referência. Os critérios de inclusão foram: adolescente menor de 15 anos em tratamento para hanseníase, acompanhados nas unidades de referência da cidade do Recife. Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas com roteiros elaborados pelas autoras e de investigação dos prontuários, buscando identificar a trajetória percorrida pelo usuário na busca por cuidado. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Os dados foram sistematizados e analisados a partir da análise de conteúdo de Bardin7. Foram identificadas unidades de sentido que evidenciaram as principais falas entre os discursos dos sujeitos. Os dados foram organizados e classificados em categorias analíticas pré-estabelecidas de acordo com o referencial teórico dos Sentidos da Integralidade de Mattos4, sendo as categorias: Integralidade nas práticas dos profissionais de saúde; Integralidade como modo de organizar as práticas e Integralidade na política de controle da hanseníase. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Complexo Hospitalar PROCAPE/ HUOC.

Resultados

Na primeira categoria, relacionada às práticas dos profissionais de saúde, foram relatadas situações associadas à baixa qualificação profissional para o diagnóstico precoce da doença, sobretudo na atenção básica, e falta de acolhimento por alguns profissionais. No entanto, também foi identificada uma escuta qualificada e atitudes acolhedoras. Já na categoria referente à organização do serviço foram relatados problemas relacionados ao acesso e continuidade do cuidado e a referência e contrarreferência dentro da rede de atenção à saúde, além de situações positivas no que se refere ao acesso à assistência as necessidades específicas do indivíduo com hanseníase. Já com relação à política de controle da hanseníase foram relatados problemas relacionados a adoção de medidas de controle da doença, como a realização dos exames de contatos e a aplicação da vacina BCG nos casos necessários. Ambas as medidas não foram adotadas, deixando em dúvida a existência de outros casos na família das adolescentes.

Considerações Finais

O adolescente com hanseníase demanda um cuidado que transcenda a lógica biologicista e abranja suas necessidades biopsicossociais e desejos. As lacunas identificadas na trajetória das usuárias significaram prejuízos no diagnóstico, tratamento e prevenção de incapacidades, bem como no acompanhamento integral. Para atingir o princípio da integralidade é preciso centralizar o usuário como foco das ações da Rede de atenção à saúde.

Palavras Chave

INTEGRALIDADE, HANSENÍASE, ADOLESCENTE

Area

Saúde Coletiva

Instituciones

universidade de pernambuco - Pernambuco - Brasil

Autores

RAPHAELA DELMONDES NASCIMENTO, ANA MARIA ARAÚJO LOYOLA, ANDREA CARLA REIS ANDRADE, DANIELLE CHRISTINE MOURA SANTOS