Datos del trabajo


Título

ENFERMEIRO GESTOR UNIVERSITÁRIO: LIMITES E POSSIBILIDADES

Introdução

As universidades públicas federais diferenciam-se de outras instituições pela articulação e indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, sendo influenciadas e influenciadoras da sociedade por meio da pesquisa, que subsidia o ensino e retorna para a sociedade através da extensão universitária1. Dentro deste contexto, tem-se a gestão universitária, compreendida como o conjunto de ações e interações administrativas relacionadas ao funcionamento da instituição, exercida pelo docente universitário2. Este docente enfermeiro, ao assumir este cargo passa a atribuir às suas funções de ensino, pesquisa e extensão, também atividades de cunho gerencial, ampliando suas responsabilidades para além da sala de aula e contribuindo para o alcance da missão educacional e social da universidade3. Com o aumento de sua carga de trabalho e responsabilidade, o enfermeiro docente gestor pode passar a viver conflitos internos e externos que desafiam o equilíbrio de suas diversas atribuições4.

Objetivos

Compreender os limites e possibilidades da gestão universitária realizada por enfermeiros gestores do curso de graduação em enfermagem de uma universidade pública.

Método

Pesquisa qualitativa com aporte teórico-metodológico da Teoria Fundamentada nos Dados, vertente straussiana5, que busca através de uma análise sistemática dos dados a compreensão dos fenômenos sociais a partir dos significados das relações e interações entre as pessoas em determinado contexto. O cenário estudado foi o Departamento de Enfermagem de uma universidade pública ao sul do Brasil e a coleta dos dados realizada no período de maio a setembro de 2016 através de entrevistas abertas e individuais registradas em gravação de áudio digital de voz, e posteriormente transcritas na íntegra. Os participantes foram convidados a participar do estudo via e-mail, e as entrevistas realizadas em local de escolha destes. Compuseram a amostragem teórica 19 participantes distribuídos em dois grupos amostrais. O primeiro grupo, escolhido intencionalmente, foi formado por enfermeiros docentes que ocuparam atividades de chefia de departamento, tendo como questão norteadora: “Como você significa a gestão universitária realizada por docentes gestores lotados no Departamento de Enfermagem desta universidade?”. A partir da análise concomitante dos dados do primeiro grupo amostral, elaboração dos memorandos e diagramas5, emergiu a seguinte hipótese: a gestão departamental está diretamente relacionada à gestão institucional universitária. Assim, novos questionamentos surgiram e organizou-se o segundo grupo amostral, composto por docentes gestores do Departamento de Enfermagem que ocuparam cargo de coordenadores e subcoordenadores do curso de enfermagem e enfermeiros docentes que atuavam em cargos de gestão em outros espaços dentro da universidade. Este grupo teve como questões norteadoras “Como você significa a gestão universitária realizada por docentes gestores lotados no departamento de enfermagem desta universidade?” e “Como você vivencia a relação e interação da micro-gestão do curso de enfermagem e da macro-gestão universitária enquanto gestor?”. Após análise das entrevistas desvelou-se que ambas as gestões são independentes, mas suas ações implicam em repercussões para ambos cenários de gestão. Os critérios de inclusão para ambos os grupos foram: enfermeiros docentes universitários lotados no departamento de enfermagem com regime de trabalho de dedicação exclusiva, que já tenham assumido cargos de gestão universitária ou que estivessem, no mínimo, há seis meses nesses cargos e enfermeiros docentes universitários aposentados que já atuaram em cargos de gestão universitária. Os critérios de exclusão foram: docentes gestores ou ex-gestores afastados do trabalho, por quaisquer motivos, durante a coleta de dados. O software NVivo® foi utilizado para organização dos dados durante a análise comparativa e codificação dos dados. O processo de análise seguiu a codificação aberta, codificação axial, norteado pelo modelo paradigmático de três componentes: “Condição”, que responde a questões sobre por que, quando e como determinado fenômeno acontece; “ação-interação”, compreende a resposta expressa aos eventos ou situações problemáticas, bem como as pessoas se movimentam através de um significado; “consequência” que expressa os desfechos e resultados previstos ou reais e, por último, a fase de integração onde emergiu o fenômeno “Articulando coletivos complexos por meio da gestão universitária para formação qualificada de novos enfermeiros”. Alcançou-se a saturação teórica dos dados a partir da repetição de informação, ausência de novos elementos relevantes para o objetivo do estudo e consolidação teórica em suas propriedades e dimensões. Optou-se, aqui, aprofundar os dados de “ações-interações”, considerando os limites e possibilidades evidenciados nesse processo que promovem relação importante dos meios para os fins e compreensão do fenômeno central. Foram atendidos os preceitos éticos da Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sob parecer número 1.468.660 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética nº 54254116.1.0000.0121.

Resultados

Os achados evidenciaram que o enfermeiro gestor, por meio das ações e interações no ambiente educacional universitário, está exposto a estímulos ao longo da sua trajetória docente, que estão interligados aos processos e estruturas das demandas educacionais e sociais da universidade. Embora a gestão universitária seja inerente aos docentes, encontram-se aspectos práticos, legais e políticos, bem como a correlação de forças no contexto ideológico que, em certos momentos, exigirá posições político-pedagógicas dentro deste contexto, que requerem conhecer e reconhecer limites e possibilidades para romper com linearidade do cenário em seu entorno, que é veloz, dinâmico e complexo. Destacaram-se questões de sobrecarga de funções técnicas advindas da alta demanda de solicitações burocráticas, corresponsabilização na captação de recursos e relações interpessoais, que envolvem diferentes expectativas, necessidades, desejos, prioridades e visões, seja de docentes ou discentes. Ressaltou-se, ainda, nas competências gerenciais, autonomia, perfil empreendedor, conhecimento das questões voltadas ao ensino de Enfermagem e liderança, possibilitando o desenvolvimento de parcerias, apoio mútuo e comunicação nas causas coletivas.

Considerações Finais

As ações-interações vivenciadas por enfermeiros gestores são permeadas por limites advindos das demandas sociais e educacionais da universidade, com sobrecarga de funções técnicas e burocráticas, tendo como possibilidades melhoria na articulação de aspectos políticos, práticos e legais com uma postura autônoma, capaz de exercer liderança e realizar parcerias com conhecimentos do ensino de Enfermagem para o desenvolvimento das ações de gestão universitária de forma eficaz, com impacto positivo na formação de enfermeiros com qualidade.

Palavras Chave

Docente de Enfermagem; Educação em Enfermagem; Organização e Administração; Universidades; Teoria Fundamentada

Area

Outros

Autores

Kamylla Santos da Cunha, Alacoque Lorenzini Erdmann, Selma Regina de Andrade, Carolina Kahl, Maria Eduarda Grams Salum, Greici Capellari Fabrizzio