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Título

Violência simbólica no cuidado à saúde de homens: a perspectiva Bourdieusiana

Introdução

O aumento crescente nas taxas de morbimortalidade de homens, no atual contexto da sociedade brasileira, reflete a cultura de dominação masculina, a qual reforça a ideia de que homens não necessitam de cuidados com sua saúde. Atrelado ao não reconhecimento, pelos profissionais atuantes em serviços de Atenção Básica (AB), da necessidade de atendimento a esta população, de maneira peculiar e individual, configura-se a violência simbólica, uma vez que esta não é coercitiva e nem mesmo física, mas, suave, insensível e invisível. Em razão da suavidade, sutileza e invisibilidade da violência simbólica, aspectos históricos e construções sociais são naturalizados e normalizados, vistos como autóctones e genuínos. Estudos demonstram que este cenário reflete as elevadas taxas de acometimentos à saúde masculina, fato que está ligado a questões comportamentais e relacionais de gênero e masculinidade, que levam o indivíduo/homem a assumir comportamentos prejudiciais a sua saúde. Para além de tais questões, é preciso recorrer ao entendimento dos fenômenos sociais e culturais, a partir do reconhecimento das influências recebidas das estruturas do campo da saúde. Desta maneira, tomando por referência o olhar teórico de Pierre Bourdieu, que reflete sobre as relações de gênero, sob a ótica do poder e da dominação, considerando as influências estruturais dos campos buscar-se-á analisar a violência simbólica perpetrada no cuidado prestado à saúde masculina no contexto da AB.

Objetivos

Reconhecer os processos de produção e de naturalização que denotam relações de poder e de violência simbólica na atenção à saúde masculina em serviços de AB, em uma capital brasileira.

Método

Estudo de abordagem qualitativa de caráter analítico, realizado em uma Unidade de Saúde da Família (USF) conjugada, do município de Cuiabá, Mato Grosso, onde atuam duas equipes. Foram sujeitos do estudo: profissionais atuantes na USF onde a pesquisa foi desenvolvida - 02 enfermeiros, 01 médico, 08 agentes comunitários de saúde e 11 homens usuários do serviço atendidos pelas equipes. O levantamento dos dados se deu por meio da técnica de observação participante e entrevista semiestruturada. A análise dos dados foi realizada por meio da aplicação da técnica de análise de conteúdo temático. A pesquisa integra um projeto matricial denominado “Condições de saúde da população masculina”, o qual foi submetido ao comitê de ética e pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller, sob o parecer de número 953.428, de 11/02/2015. Este resumo é fruto da dissertação de mestrado intitulada “O cuidado ao homem na atenção primária: uma análise na perspectiva Bourdieusiana”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso.

Resultados

A presença de poder e da violência simbólica no atendimento à saúde masculina foi observada na dinâmica da organização burocrática para os atendimentos no serviço de AB onde o estudo aconteceu A organização de agendamentos prévios, com fluxo que não corresponde à realidade do sistema de saúde, torna o processo moroso, conformando-se como barreira para o acesso do público masculino. Os profissionais detentores de poder no campo da saúde, conferido por meio do acúmulo de capitais, são colocados enquanto dominantes naquele espaço, sendo, por tal razão, o serviço organizado de modo a assegurar o poder simbólico concedido. Este processo, decorre da violência simbólica, pois de maneira sutil os profissionais reforçam o poder que detém ao determinar a dinâmica do serviço sem considerar as especificidades dos usuários. Além da estruturação de horários e a inflexibilidade das agendas, a violência simbólica é perpetuada no cotidiano dos serviços, pois, apesar dos profissionais reconhecerem que há adesão dos homens usuários, quando se realizam atividades voltadas especificamente a este público, tais ações não são incorporadas na rotina da unidade. Ademais, a naturalização do poder, a violência e a dominação simbólicas são implementadas nas relações entre profissionais e homens usuários do serviço de AB participantes do estudo, o que permite identificar que o habitus de classe, que prevê ações incutidas desde a formação profissional, redunde na violência simbólica. Esta, que é exercida de forma sutil e introjetada nos habitus profissionais, muitas vezes, é expressa também sob a forma de julgamentos e coibições de maneira arbitrária a qual muitos profissionais atuam. A arbitrariedade exercida por meio do poder simbólico conferido aos profissionais da saúde, suscita em aceitação por parte do público masculino, contudo, os resultados demonstram tentativas de resistência e reações dos agentes, evidenciadas durante as observações participantes, como por exemplo, o ato de “levantar-se e ir embora” quando sua privacidade, durante os atendimentos, era ameaçada de alguma forma, procedendo-se em uma reação dialética. Este fenômeno pôde ser identificado pela eficácia da dominação e violência simbólica na naturalização dos habitus profissionais, enquanto, foram percebidas reações sutis por parte dos homens quando, discretamente, manifestaram a não aceitação das disposições impostas pelo campo.

Considerações Finais

A análise dos resultados permitiu evidenciar a presença de relações de poder, assim como as diferentes faces da violência simbólica que se apresentam em relação aos homens usuários dos serviços de saúde na atenção básica. Ao analisar este serviço, em especial o cuidado à saúde masculina, identificou-se que o poder simbólico está presente nos profissionais, principalmente médicos e enfermeiros, que são privilegiados por possuir capital simbólico, que, independente do sexo, os colocam melhor posicionados neste campo, em comparação aos usuários dos serviços de saúde. Outrossim, os resquícios de reações demonstrados pelos homens devem ser desnaturalizados e valorizados, para que este público, que está presente no serviço, saia da invisibilidade e tenha suas necessidades reconhecidas e atendidas. Neste sentido, o habitus profissional deve ser reformulado por meio da educação, estrutura estruturante que tem poder remodelador.

Palavras Chave

Saúde do homem. Violência Simbólica. Dominação Masculina.

Area

Saúde do Homem

Instituciones

Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT - Mato Grosso - Brasil

Autores

Luanna de Arruda e Silva Dalprá, Áurea Christina de Paula Corrêa, Isabele Torquato Mozer, Renata Marien Knupp Medeiros, Kauna Meire Pereira Guerra