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Título

CONTRIBUIÇOES DA PSICANALISE AS PESQUISAS EM SAUDE

Introdução

Desde o surgimento da psicanálise o campo científico tem experimentado diversos cortes em seus paradigmas, tensionando as verdades produzidas e com isso renovando as questões que envolvem o sujeito.
A descoberta freudiana do inconsciente dá credibilidade e legitimidade científica à experiência do sujeito ao fornecer material e recurso teórico extraídos da escuta clínica, colocando a verdade em outra cena (Prudente; Ribeiro, 2015). Tais acontecimentos reverberam mudanças de concepções sobre o que é o conhecimento e as relações entre verdade e saber, nos convocando a atualizar essas questões.
Na contemporaneidade, as transformações socioeconômicas marcadas pela intercessão entre o discurso da ciência e o modo de produção capitalista contribuem para o surgimento de novas formas de produção do conhecimento científico, advogando em defesa de uma produção de verdade verificada, ou seja, “ um conjunto das regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso e se atribui ao verdadeiro efeitos específicos de poder” (Foucault 1979/2017, p.53), uma disputa não em favor da verdade, mas do estatuto de verdade e do papel econômico-político que ela desempenha.
Assim, com o advento da verdade suprimida do lado do sujeito, tudo deve ser previsto, delimitado, estatizado, quantificável e baseado em evidências para assim ser prevenido e controlado em resposta ao paradigma problema-solução, encontrando a solução mais rápida e eficaz para todos. Neste sentido, quando falamos de ciência e verdade, hoje, um dos temas mais aprisionados a tais campos e que sofre forte influência do modelo biomédico é a saúde.
Isso nos coloca de saída um questionamento acerca das pesquisas em saúde: nos diversos referenciais e recursos teóricos-metodológicos há espaço para o imprevisível? Uma questão que não é datado por ser atual, mas porque localiza na atualidade a emergência das inquietações constituintes da pesquisa e da clínica no campo da saúde, permitindo pensa-la criticamente numa época onde o triunfo cientificista oferece a ilusão de toda a verdade.

Objetivos

Discutir as contribuições da psicanálise à pesquisa em saúde, revelando possíveis pontos residuais dos discursos e fraturas do saber.

Desenvolvimento

No que concerne ao modo de conceber e de fazer pesquisa, a psicanálise interpela o modelo que separa o sujeito do conhecimento – mas que apaga do saber produzido os resquícios do sujeito numa suposta objetividade e universalidade – do objeto cognoscível e demarca algo fundamental: a relação entre o investigador e seu objeto de estudo atravessada pelo desejo.
É fundamental a contribuição de Freud (1908) em Sobre as teorias sexuais das crianças ao revelar que as crianças em sua curiosidade edipiana são grandes pesquisadores ou inventores às grandes descobertas e, ao se defrontarem com os impasses de sua sexualidade empreendem como sujeito de desejo tentativas de elaboração frente essa angústia, uma busca da verdade em torno da diferença sexual. Podemos inferir que o objeto de pesquisa é, desse modo, um deslocamento objetal das nossas questões primeiras.
Por esta via cabe situar que o desejo de saber ao empreender uma pesquisa não se dá de modo neutro e desinteressado. Longe da neutralidade científica, a questão do pesquisador sobre o que lhe causa abre brechas para o saber inconsciente, um saber não todo.
Partindo dessas apostas, pensar na psicanalise como um referencial para a produção do conhecimento no campo da saúde é, sobretudo, interrogar a compreensão de saúde e doença proposta pela discursividade científica: a saúde como um ideal, e a doença como um problema que precisar ser localizado, descrito e medido, encontrando uma rápida solução para o mesmo, eliminando-o sem perda de tempo.
Na seara do pragmatismo desenfreado, o que resta é rechaçado, sem valor. Uma tentativa da ciência de nada querer saber sobre as falhas e negar o mal-estar inerente à nossa própria constituição. Uma completude imaginária que se arquiteta com a pretensão de solucionar os impasses da vida cotidiana pela montagem de uma engrenagem médico-estática e midiática com dupla função de difundir conceitos e inscrever estilos de normalização (Vieira, 2013). A contribuição da psicanálise faz-se importante uma vez que admite a não completude, reconhecendo nela um elemento estruturador do psiquismo e da cultura.
Ainda assim, a ciência, em uma concepção ideal de onipotência e onisciência, cria “próteses” para lidar com esse mal-estar fazendo crer que são soluções totais e assim cria outros mal-estares, afinal as soluções sempre são parciais. O que permite Alberti e Erlich (2008, p.54) dizer que na atual posição que o discurso da ciência ocupa de forma perfeitamente idealizada, é justamente tal assunção da impossibilidade que falta.
Calcada nos ideais de progresso, os achados científicos ganham estatuto de provisoriamente verdadeiros, podendo ser substituído por algo que confira maior fidedignidade. Freud (1933), ao ressaltar que o progresso no trabalho científico é o mesmo que se dá numa análise, nos adverte sobre a importância de conter nossas expectativas abrindo espaço para o surgimento do novo, do inesperado.

Considerações Finais

As contribuições da psicanálise com relação as pesquisas em saúde, balizadas pelos aportes clínicos e teóricos freudianos, possibilitam realizar novas leituras acerca da realidade que se apresenta marcada por regras que mais aprisionam que fazem avançar o saber, nos dirigindo a um caminho que não apague o abismo que há nos dualismos entra o sujeito e o objeto, o pensável e impensável, verificações e refutações. O que se constata é que os pontos residuais dos discursos, o que estranha a cada pesquisador, o resto, também faz parte da pesquisa como campo de produção de saber. É que o saber não é feito para compreender, ele é feito para cortar! (Foucault, 1979/2017, p.73).
Por fim, as formulações aqui colocadas nos permitem pensar que a qualquer problemática de pesquisa investigada no campo da saúde, a promessa de completude é alarme falso, já que o sujeito é incompleto pela própria condição de estar inscrito no mundo da linguagem. Nesse ponto a psicanálise aposta nas pesquisas qualitativas em saúde pois coloca a linguagem em jogo.

Palavras Chave

Pesquisa; Psicanálise; Saúde.

Area

Políticas e processos de formação de profissionais e pesquisadores

Autores

SAMARA VASCONCELOS ALVES, CAMILLA ARAÚJO LOPES VIEIRA, EUDES DUARTE FILHO