Datos del trabajo


Título

EXPERIENCIA DE SOBREVIVENTES DO CANCER UROLOGICO

Introdução

No Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata é o de maior ocorrência entre os homens; o de bexiga é a segunda neoplasia maligna geniturinária em frequência, sendo de duas a três vezes mais comum no homem do que na mulher. Os tumores urológicos, ainda que sejam considerados tumores com boas respostas a terapêutica, na grande maioria dos casos, seu diagnóstico não é isento de sofrimento. A sobrevivência ao câncer representa o estado ou o processo de viver depois do seu diagnóstico, vivendo com, durante e além dele. Porém, há uma escassez de estudos na literatura nacional e internacional da enfermagem oncológica sobre a temática do câncer urológico.

Objetivos

Analisar os sentidos atribuídos à experiência da sobrevivência ao câncer urológico.

Método

Definiu-se o referencial teórico da antropologia médica para interpretar a experiência em estudo e a metodologia narrativa. A antropologia médica busca integrar a saúde e a cultura, e considera que a saúde resulta da articulação entre o biológico e o cultural. A integração cultural do processo saúde-doença é concebida como experiência. A partir da metodologia da narrativa, a pessoa refaz sua experiência relacionada a determinado fato, de forma coerente e significativa, ainda que o faça indiretamente, pois revive sua experiência sob sua perspectiva. Por meio de uma narrativa, acessa-se a experiência do outro. O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa, tendo sido aprovado sob o protocolo CAEE nº 56732916.2.0000.5393, e todos participantes deram seu consentimento mediante assinatura do termo. Participaram do estudo 12 participantes com diagnóstico de câncer urológico sob seguimento terapêutico em um hospital público no interior de São Paulo. A coleta de dados ocorreu de novembro de 2016 a novembro de 2017, por meio de entrevistas semiestruturadas, audiogravadas, realizadas duas vezes com a maioria dos entrevistados, nas suas próprias residências ou nas dependências do hospital. Além de coletar as narrativas por meio de entrevistas, anotações foram incluídas ao diário de campo a respeito de mudanças no tom de voz, pausas, expressões faciais e risadas. Com base nas entrevistas, foram construídas as narrativas, segundo o modelo centrado na experiência, utilizando os modelos explicativos empregados pelos participantes. A análise dos dados narrativos fundamentou-se na análise temática indutiva, e esses foram integrados em duas sínteses narrativas temáticas.

Resultados

Em sua maioria, os participantes eram casados, católicos não praticantes, com ensino fundamental incompleto, renda mensal inferior a dois salários mínimos e residentes na cidade de Ribeirão Preto. As idades variaram de 39 a 69 anos. Constituíram modalidades de tratamento às quais foram submetidos: prostatectomia radical, orquiectomia, radioterapia, hormonioterapia, cistectomia, RTU e BCG, sendo que um participante se encontrava em vigilância ativa. A primeira narrativa, O itinerário diagnóstico do câncer urológico, destacou o processo de busca para identificação da anormalidade no corpo. Os sinais e sintomas indicativos de que o corpo não está saudável, o que foi observado pelos participantes como uma dor durante as relações sexuais, dor para urinar e sangue na urina, sinalizando alguma coisa muito errada no meio do caminho no corpo. A reação ao diagnóstico foi de surpresa, resultando em sentimentos de medo diante de uma doença que, de acordo com os conhecimentos dos participantes, era associada à morte. As etiologias para a doença no corpo são explicadas de diferentes maneiras e baseiam-se nas crenças aprendidas culturalmente. As narrativas expressam que, diante de uma doença grave, era necessário ter adesão aos tratamentos médicos propostos, embora gerassem sofrimento físico devido aos diversos e indesejáveis efeitos colaterais. A segunda síntese narrativa, As complicações no corpo e na vida após o câncer, descreveu as alterações causadas pela tentativa de eliminar o câncer por meio dos diversos protocolos terapêuticos, o que ocasionou sofrimento do corpo físico, social, tristeza e baixa autoestima. A incontinência urinária foi uma das complicações e ocasionou sofrimento na vida dos participantes, que segundo eles ficou como uma torneira estragada que não fecha e após isso não se tem alegria mais na vida. Com a disfunção erétil, outra complicação descrita, os pacientes descreveram o corpo como uma máquina que queimou o motor e quando coloca na tomada não funciona. Todas essas complicações do corpo por meio das terapêuticas levaram a uma perda de controle dos participantes sobre si. Dessa forma, houve sofrimento do corpo físico, que se encontrava privado da normalidade de suas funções fisiológicas, do social, por não conseguirem desenvolver suas atividades sociais como anteriormente. Sofreu também a esfera psicológica do corpo, em virtude da tristeza e baixa autoestima.

Considerações Finais

Buscou-se, no decorrer da elaboração deste estudo, apreender o sentido atribuído à experiência da sobrevivência para um grupo de sobreviventes do câncer urológico. Recorreu-se ao referencial da antropologia médica e à metodologia narrativa. As sínteses narrativas mostraram-se uma estratégia pertinente para identificar e descrever as dimensões subjetivas envolvidas na experiência durante a sobrevivência ao câncer urológico e de que forma a cultura influencia nesta percepção. Tendo em vista que alguns sobreviventes têm experiências únicas, singulares, e que complicações perduram ao longo de suas vidas, um planejamento de cuidados multiprofissional com ações que contemplem orientações capazes de auxiliar no manejo das repercussões físicas, sociais e emocionais ocasionadas pelos tratamentos oncológicos faz-se essencial.

Palavras Chave

Neoplasias urológicas; Antropologia Médica; Cultura; Pesquisa qualitativa; Enfermagem oncológica.

Area

Cultura e saúde

Instituciones

Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo - São Paulo - Brasil

Autores

Rhyquelle Rhibna Neris, Lucila Castanheira Nascimento, Márcia Maria Fontão Zago