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Título

A HISTÓRIA DAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES E SAÚDE NA PERSPECTIVA DE MULHERES CUIDADORAS DE UMA COMUNIDADE

Introdução

Em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, em meio a Estrada Real, Matias Barbosa, há uma profusão de personagens, em sua maioria mulheres, que exercem cuidados dentro das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). Com imensa legitimidade na comunidade onde residem, essas mulheres, também com forte influência e liderança comunitária, fazem com que esta cidade apareça na região como referência e busca de cuidados. Também a existência de um hospital antroposófico onde há formação de profissionais em regime de especialização, chama a atenção para esse contexto. Com tantas particularidades e riquezas, houve uma busca e, a partir de então, um grupo de pesquisadores apoiados em metodologias participativas e história oral/narrativas inicia uma busca, em relatos, de cuidadoras e de práticas. Ainda busca também, um fio condutor que explique essa intensidade e diversidade. Tal ação também se faz para dar visibilidade a essas práticas e sujeitos e ainda, fortalecer projetos comunitários de extrema relevância para a região como o término da construção do hospital antroposófico e de uma fundação para cuidados específicos aos mais necessitados.

Objetivos

O objetivo é tão somente entender de que modo as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde se incorporaram de forma tão legítima na comunidade, que elementos históricos podem justificar, que movimentos comunitários se fizeram. Ainda, é importante registrar as práticas, as pessoas que as desenvolvem e as histórias de cada uma delas. Enquanto busca, também se faz necessário escutar das pessoas o que elas gostariam de registrar. Essa necessidade é extremamente exigente, admite mudanças de trajetória e foco, redimensiona o trabalho que se legitima por ter esse caráter de diálogo e troca.

Método

O método utilizado é a história oral temática que conta com a roda de memória como principal procedimento e estratégia de pesquisa. As rodas são organizadas pelas próprias cuidadoras sendo consideradas um evento e uma oportunidade de encontro. Não há uma condução específica sendo que cada lembrança dispara uma outra lembrança, uma se apoia na outra e, juntas, fecham um círculo onde as memórias surgem espontaneamente e de forma participativa. Ainda foram feitas entrevistas com algumas cuidadoras que reuniam um conjunto de características relevantes: legitimidade, tempo de prática, pioneirismo, liderança e o simples desejo de contar experiências, práticas, aprendizados e cuidados. As rodas são filmadas e as entrevistas, gravadas e algumas, filmadas. Também é feito o registro fotográfico de documentos, relatórios, cadernos de receitas, orações, fotos de eventos e o que mais houver que possa ajudar a contar essa história de cuidado. Todas as participantes auxiliam não só na organização do encontro, mas na seleção do material, nas escolhas de outras participantes, nos caminhos de novas investigações e buscas.
A metodologia, como referido anteriormente é a história oral com técnicas de entrevista e ainda, técnicas das metodologias participativas vide caminhadas no território e linha do tempo. Autores como Ecléa Bosi, Paul Thompson, Carlo Gingzburg, Philippe Ariés, Mary Del Priore, Walter Benjamin, Jeanne Marie Gagnebin, Leonardo Boff, Carlos Rodrigues Brandão, Paulo Freire, Victor Valla e Eymard Mourão Vasconcelos auxiliam no entendimento e reflexões de realidades e contextos em que a história, a memória, o cuidado, a espiritualidade e a saúde se encontram.

Resultados

Os resultados ainda parciais apontam para a presença de um personagem que incentivou e aglutinou essas práticas de cuidado em torno da religiosidade e espiritualidade e saúde. Padre Antônio, franciscano, discípulo de Leonardo Boff e filiado à Teologia da Libertação atingiu as regiões mais carentes da cidade e democratizou a igreja, interiorizando as celebrações, incentivando reuniões e construções para festas e mobilizações coletivas: as pastorais. Ao todo, fundou núcleos em 20 comunidades e, em cada uma delas, havia lideranças e pessoas dispostas a aprender sobre práticas as mais diversas. Essas pessoas eram incentivadas a fazer formação e multiplicação via Universidade Federal de Viçosa, muito especialmente. Com o tempo, os cuidados foram ampliando para fora dos limites do estado e as mulheres viajavam longas jornadas para exercerem seus cuidados.
Mais importante que falar das práticas, tem sido relevante falar da história desse personagem que tudo começou, Padre Antônio. No campo, notou-se extrema necessidade de se entender a presença desse homem que durante 35 anos atuou de forma esperançosa e militante. Nesse sentido, esse elemento novo na história exige que a equipe redirecione seus esforços que antes, eram orientados para a descrição e entendimento das práticas e das pessoas que as exerciam. Com o aparecimento da história do Padre Antônio, notou-se que ele estava muito vivo na memória, em continuidades e em muitas lutas da comunidade por espços democráticos de cuidado e partilha. A comunidade em processo, em roda, redefiniu os rumos do contar essa história ou, ainda, a comunidade conta a sua história e decide o que deseja contar, o que deseja lembrar, o que deseja manter vivo.

Considerações Finais

Uma investigação de caráter dialógico e participativo que busca na palavra do sujeito, o sentido, a importância, deve se adaptar e acatar o que os sujeitos definem como essencial. Nesse caso, o que inicialmente era uma história de práticas de algumas lideranças, se torna, por desejo de sujeitos participantes, também, uma história do Padre Antônio. As rodas são encontros que se justificam não só como registro, mas como possibilidade de resgate de sonhos, esperanças, partilha de projetos. Nesse sentido, um hospital e, muito especialmente, uma fundação, sonho de Padre Antônio, é construída tijolo a tijolo com festas e contribuições das 20 comunidades que o Padre atuou. A intenção é publicizar esses registros, publicar um livro com o rico material produzido, incentivando projetos de cuidados das cuidadoras e visibilizando essa história de luta pela saúde, impregnada de espiritualidade, conscientização, participação e paixão.

Palavras Chave

educação popular em saúde, espiritualidade em saúde, história oral, metodologia participativa, memória, práticas integrativas e complementares em saúde

Area

Educação popular e saúde

Autores

Maria Amélia Mano, Julio Alberto Wong Un, Célia Sequeiros Silva, Iracema Benevides, Rosemery Iannarelli