Datos del trabajo


Título

Práticas de autoatenção alimentares utilizadas por pessoas com estomia por câncer colorretal e a família

Introdução

Atualmente, as principais causas de adoecimento e óbito das pessoas no mundo são as doenças e agravos não transmissíveis, dando destaque ao câncer que corresponde mais de 20% desta estimativa. No Brasil, em relação ao câncer de colón e reto, estima-se que no biênio de 2018-2019 ocorram quase 19 mil casos em mulheres e mais de 17 mil casos em homens para cada ano, sendo o segundo mais frequente entre as mulheres e terceiro entre os homens1. Se deparar com o diagnóstico de câncer colorretal (CCR) é enfrentar um problema multiplicado, uma vez que o diagnóstico de uma doença estigmatizada como o câncer causa um impacto significativo a pessoa doente e ele ainda necessita se deparar com a estomia intestinal, sendo ela um dos principais tratamentos para a doença. Desse modo, a estomia exige da pessoa e sua família adaptações a nova rotina diária relacionadas aos cuidados com o estoma e periestoma, bem com o manuseio de dispositivos coletores e adjuvantes. O CCR mesmo sendo uma doença que exige adaptações voltadas aos cuidados e tratamentos do modelo biomédico, as pessoas podem escolher entre realizar ou não o tratamento, tomando decisões de acordo com a sua experiência, influenciadas por suas crenças e valores, ou ainda por sua condição econômica, social, cultural ou política. Desse modo, utilizou-se o conceito de práticas de autoatenção2 (PAA) para fundamentar este estudo. As PAA são representações e práticas utilizadas pela população, tanto individual quanto social para diagnosticar, explicar, dirigir, controlar, aliviar, suportar, curar, resolver ou prevenir os processos que afetam sua saúde em termos de real ou imaginário, sem a intervenção central, direta e intencional de curadores ou profissionais de saúde, mesmo quando estes podem ser a referência da atividade de autoatenção; envolve também na decisão da automedicação e o uso de um tratamento autônomo ou relativamente autônomo. Trata-se da descrição do que fazem, usam e dizem os sujeitos e seus grupos sociais para cuidar de seus padecimentos, não dos curadores biomédicos, tradicionais ou alternativos.

Objetivos

Esse estudo tem como objetivo compreender as práticas de autoatenção alimentares utilizadas por pessoas com estomia por câncer colorretal e a família.

Método

Os dados apresentados são resultados parciais da tese “Práticas de autoatenção a pessoa e família frente ao câncer colorretal” que é uma pesquisa qualitativa, baseado no referencial teórico da Antropologia Interpretativa de Geertz3 e Médica de Menéndez2. O estudo foi realizado com 11 pessoas com câncer colorretal e 12 familiares, que corresponderam a 23 participantes ao total. Estes participantes foram selecionados no serviço especializado ao atendimento de pessoas estomizadas e incontinentes, localizado no sul do Rio Grande do Sul, que após ao convite e aceitação foram entrevistados em seus domicílios. A coleta dos dados ocorreu no período de maio a julho de 2017, posteriormente a aprovação do Comité de Ética e Pesquisa sob o protocolo de número 2.063.328. Utilizou-se como técnica de coleta de dados a entrevista em profundidade, observação participante e o mapa mínimo das relações. Os dados foram organizados e processados mediante o software WebQda e utilizou-se da análise temática4.

Resultados

Após a cirurgia por CCR as pessoas passaram a realizar PAA relacionadas a estomia intestinal. Ao se tratar de uma doença do trato digestivo, a alimentação e o funcionamento do intestino, pela estomia, passa a ser considerado um termômetro capaz de regular sua saúde. Assim, a utilização de alimentos que promovem o funcionamento intestinal, como o mamão e alface foram considerados importantes a fim de manter a consistência das fezes adequadas na visão dos participantes. Ademais, a ingestão de amido de milho com água e o jejum prolongado foram considerados PAA utilizadas para evitar o funcionamento do intestino e estomia em ambientes públicos, permitindo que as pessoas consigam realizar suas atividades sem medo de barulhos e vazamento das fezes no dispositivo coletor fora do domicílio. Todavia, esta prática pode ser prejudicial à saúde, necessitando de um acompanhamento nutricional e psicológico, porém como são PAA, a maioria não são ditas aos profissionais de saúde, sendo uma informação presente apenas no seu contexto social. O odor das fezes também é considerado um problema para pessoas com estomia, sendo utilizado como PAA a introdução de chás aromáticos, como a camomila, erva-doce e hortelã para diminuir o desconforto e preocupação com o cheiro das fezes. Os gases contidos dentro do dispositivo coletor também causam constrangimento quando há pessoas próximas e que desconhecem do funcionamento da estomia, para isso passam a diminuir a ingestão de bebidas gasosas. A utilização de um suco indicado pelo serviço para melhorar a atividade intestinal e aumentar o sistema imunológico foi identificado como PAA relativa, uma vez que fazem adaptações, escolha ou substituições de alguns alimentos prescritos na preparação do suco de acordo com suas preferencias pessoas.

Considerações Finais

O estudo evidenciou que a experiência de adoecimento por CCR vai além do biológico, pois as pessoas utilizam de diferentes estratégias e práticas inseridas no seu contexto social e cultural para suprir suas necessidades de saúde, o que incluem diferentes PAA utilizadas frente a estomia intestinal.

1.INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA - INCA. Estimativa 2018: Incidência de Câncer no Brasil. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro: INCA, 2017.130p
2.MENÉNDEZ, E. L. Sujeitos, saberes e estruturas: uma introdução ao enfoque relacional no estuda da saúde coletiva. São Paulo: Editora Hucitec, 2009. 437 p.
3.GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 323 p.
4.BRAUN, V.; CLARKE, V. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, v. 3, n. 2, p. 77-101, 2006.

Palavras Chave

câncer colorretal; atitude frente à saúde; experiência; família; práticas de autoatenção; antropologia médica; enfermagem; pesquisa qualitativa.

Area

Cultura e saúde

Autores

MICHELE CRISTIENE NACHTIGALL BARBOZA, ROSANI MANFRIN MUNIZ, RAQUEL CAGLIARI, ALINE COSTA VIEGAS, DANIELA HABEKOST CARDOSO, DEBORA EDUARDA DUARTE AMARAL, JULIANA AMARAL ROCKEMBACH, LUIZ GUILHERME LINDERMANN