Datos del trabajo


Título

GRUPOS TERAPEUTICOS E REABILITAÇAO PSICOSSOCIAL NA PERSPECTIVA DOS USUARIOS DE SAUDE MENTAL

Introdução

É sabido que a loucura foi vista sob diferentes maneiras nas sociedades, sob perspectiva negativa, depreciativa e excludente¹. No entanto, no decorrer dos anos alguns movimentos começaram a surgir com a intenção de melhorar a atenção aos indivíduos em sofrimento psíquico e de instituir políticas de saúde mental para qualificar a assistência e garantir os direitos desses usuários. Assim, surge o movimento de reforma psiquiátrica brasileira em meados de 1978 e posteriormente se consolidaram adquirindo muitas conquistas legais nesse âmbito². Tal movimento instituiu uma rede de atenção psicossocial composta por uma diversidade de pontos de atenção em saúde mental, sendo um destes o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que, por meio do trabalho interdisciplinar, direciona suas ações para a reabilitação psicossocial, por meio da inserção social, criação de vínculos, momentos de interação, respeitando as potencialidades e fragilidades de cada indivíduo³. Os CAPS têm caráter territorial e comunitário, realizam ações intersetoriais e oferecem diversos tipos de atividades terapêuticas como oficinas terapêuticas, atividades comunitárias, atividades artísticas, orientação e acompanhamento do uso de medicação, atendimento domiciliar e aos familiares dos usuários, psicoterapia individual ou em grupo, dentre outras. A nova configuração dos serviços de saúde mental fez dos atendimentos grupais o principal recurso terapêutico, neste contexto é reconhecido como um espaço potente para a exploração da subjetividade, ao possibilitar que os membros reproduzam neste ambiente os papéis que ocupam no dia a dia de suas relações4.

Objetivos

Conhecer as motivações dos usuários para a participação no grupo terapêutico.

Método

Trata-se de pesquisa qualitativa e descritiva, realizada num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do sul do Rio Grande do Sul. Para a coleta de dados foram utilizados a observação participante de dois grupos terapêuticos desenvolvidos no serviço: Grupo de Medicação e Grupo de Expressão que constavam com a presença de 24 usuários aproximadamente; e a entrevista semiestruturada com 6 usuários escolhidos a partir da observação. Foram respeitados os preceitos éticos que envolvem as pesquisas com seres humanos da resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde5e do código de ética dos profissionais de Enfermagem6. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, sob parecer nº. 454.117. Os resultados foram analisados a partir da análise de conteúdo7.

Resultados

Espaços como o CAPS, foram criados para serem substitutivo às internações hospitalares, sendo este um serviço aberto e lugar de referência para o tratamento de pessoas em sofrimento psíquico, onde é possível produzir relações sociais pautadas por princípios e valores que visam à construção de estratégias de um cuidado integral e não fragmentado. Neste contexto, os depoimentos demonstraram que os usuários ao acessarem o serviço do CAPS, a partir da participação em grupos terapêuticos, têm como motivação a sua não hospitalização, pois estes usuários sentem-se acolhidos, sendo este um espaço social e subjetivo em que os sujeitos podem ser eles mesmos e buscar o seu caminho em sua vida cotidiana em sociedade. Diferente do que acontece no modelo asilar, onde o usuário é visto como doente, e excluído de qualquer participação que não seja de objeto inerte e mudo8. Deste modo, os depoimentos demonstram que, para os usuários dos grupos terapêuticos, frequentar o CAPS é uma forma de libertação, pois muitos já passaram por várias internações, e relataram que nestes períodos houve falta de atenção e descaso. Outra motivação que leva os usuários a frequentarem o serviço de saúde mental e os grupos terapêuticos é que estes se sentem-se incentivado a buscar novas formas de relacionar-se, seja no grupo familiar, no seu bairro ou no trabalho. O serviço viabiliza a relação entre a família e usuário e entre o usuário e a instituição, incentivando a participação dos familiares, profissionais, e da comunidade nos projetos propostos a fim de gerar uma parceria9. Neste contexto o usuário encontra no serviço um lugar de apoio, onde ele reconhece que mudanças significativas surgiram a partir da participação nos grupos terapêuticos. Outro motivo citado pelos usuários, em entrevista e durante a observação, para frequentar o grupo terapêutico do CAPS, foi a convivência com os outros membros do grupo. Pode-se constatar, através dos depoimentos, que o cuidado ao portador de sofrimento psíquico está vinculado a uma ação prática e a um serviço social, que o estímulo para permanecer nos grupos não é somente uma forma de garantir atendimento médico ou a receita de psicofármacos e sim um espaço de trocas, reflexão, suporte e lazer.

Considerações Finais

O CAPS é um dispositivo assistencial voltado para as ações de atenção integral, é um espaço onde o usuário tem a possibilidade de reconstruir a sua trajetória e fortalecer sua autonomia, sendo uma oportunidade de organizar suas vidas. Em suma, a participação no grupo terapêutico proporciona, a partir da troca de vivências e do compartilhamento de medos e ansiedades, que o usuário possa reconstruir sua trajetória e suas significações.

Palavras Chave

Enfermagem; Saúde Mental; Serviços de Saúde Mental; Reabilitação.
Referências:
1 Desviat M; Ribeiro V (transl). A reforma psiquiátrica. 2 ed. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2015, 196p.
2 Amarante P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1998.
3 Costa J. P. et al. A reforma psiquiátrica e seus desdobramentos: representações sociais dos profissionais e usuários da atenção psicossocial. Psicologia e Saber Social, 2016; 5 (1), p. 35-45. Disponível em:< http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/15855>. Acesso em 15 maio. 2018.
4 Guanaes C; Japur M. Grupo de Apoio com Pacientes Psiquiátricos Ambulatoriais em Contexto Institucional: Análise do Manejo Terapêutico. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2001;14 (1), p. 191-99. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/prc/v14n1/5218.pdf >. Acesso em: 09 maio. 2018.
5 Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012: Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília; 2012. Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html>. Acesso em 19 maio. 2018.
6 Conselho Federal de Enfermagem(COFEN). Resolução COFEN nº 564 de 2017. Aprova a reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Disponível em: < http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017_59145.html>. Acesso em: 19 maio. 2018.
7 Bardin L. Análise de Conteúdo. 70 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
8 Salles M.M; Barros, S. Transformações na atenção em saúde mental e na vida cotidiana de usuários: do hospital psiquiátrico ao Centro de Atenção Psicossocial. Saúde em Debate, 2013; 37(97), p. 324-335. Disponível em:<https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/sdeb/v37n97/v37n97a14.pdf>. Acesso em: 10 maio. 2018.
9 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial.
Disponível em: <http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf >. Acesso em: 10 maio. 2018.


Area

Saúde Mental

Instituciones

Universidade Federal de Pelotas - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Dariane Lima Portela, Janaína Quinzen Willrich, Claribel Couto da Cruz