Datos del trabajo


Título

O DESAFIO DA INTEGRALIDADE NO TRABALHO EM UTI: CONTRIBUIÇOES DO SERVIÇO SOCIAL NA PERSPECTIVA DA DETERMINAÇAO SOCIAL DA SAUDE

Introdução

O Movimento de Reforma Sanitária Brasileira (MRSB) compreende a saúde como Determinação Social, resultante das condições de vida e de trabalho, reflexo das formas de organização social da produção; Esta premissa aponta que a concepção do processo saúde-doença é historicamente determinada, sendo ainda definidora de práticas e de modelos de atenção à saúde, carregados de ideologias e intencionalidades com potencial de ampliar ou restringir a relação entre saúde e sociedade, e efetivar respostas que privilegiem as necessidades do capital ou as reais necessidades da classe trabalhadora, contendo forte dimensão política. Partindo desta compreensão, defendemos o potencial que a integralidade carrega em fortalecer a luta da reforma sanitária, posto que busca organizar as práticas para apreensão ampliada das necessidades, o que requer a estruturação do processo coletivo de trabalho para abrir possibilidades de problematizar contextos individuais enquanto parte de uma totalidade social (MATTOS, 2006). Nesse sentido, organizar e produzir ações centradas nas reais necessidades dos usuários vai requerer das equipes o conhecimento de tais necessidades, espaços de planejamento e discussões coletivas, monitoramento das ações e participação dos usuários e familiares, abrindo grandes possibilidades à contribuição do/a Assistente Social para pautar a saúde na perspectiva da determinação social, apontando as relações sociais contraditórias e suas expressões na vida dos sujeitos, com vistas a ampliar o horizonte da atenção à saúde. (SILVA; MENDES, 2013)

Objetivos

Debater, a partir da atuação de Assistentes Sociais como membros da equipe multiprofissional da unidade de terapia intensiva de um hospital universitário, as possibilidades de contribuição destes profissionais para a efetivação da integralidade na direção da Determinação Social da Saúde.

Método

Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, que toma o método histórico-dialético como perspectiva para análise do real, posto que pela sua profundidade, direciona possibilidades de ações concretas para transformação da realidade. Articula as técnicas de pesquisa documental, bibliográfica e empírica, esta última tendo como instrumentos para coleta de dados o roteiro semi-estruturado, onde foram entrevistados/as seis Assistentes Sociais com experiência profissional junto à equipe multiprofissional da UTI.

Resultados

Refletir o trabalho realizado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) requer elucidar as condições objetivas que envolvem a atuação em equipe multiprofissional e interdisciplinar à luz da concepção ampliada de saúde, evidenciando que, ainda que importantíssima, a alta densidade tecnológica, mesmo em UTI, não é suficiente para assegurar atenção à saúde em sentido ampliado. Ao estruturar um processo de trabalho a partir da dimensão biológica, a UTI se coloca como o espaço do curativo por excelência, consolidando relações de poder/saber que reforçam a histórica hegemonia do saber médico, o que leva a uma secundarização da concepção ampliada de saúde e a estruturação do processo de trabalho voltado a saberes fragmentados e ultraespecializados, onde os equipamentos se tornam o principal instrumento de trabalho da equipe, muitas vezes não deixando lugar para o exercício da clínica ampliada. Em contraposição a biologização da saúde e medicalização da vida, a busca de efetivação da integralidade da atenção no contexto da UTI exige enfatizar que, embora as necessidades em saúde dos usuários em UTI requisitem o curativo como uma dimensão do cuidado, esta não é a única. O usuário não se reduz a portador de uma patologia, é um sujeito de direitos, é parte integrante do processo do cuidado, e precisa ser considerado em sua história de vida inerente as relações sociais estabelecidas na sociedade, as quais inclusive concorreram para que esteja ocupando um leito de UTI. Ao fundamentar sua ação na compreensão ampliada das necessidades em saúde, Assistentes Sociais, na condição de participe de equipe multiprofissional em UTI podem construir possibilidades de problematizar os limites de uma assistência focada em procedimentos e assegurar visibilidade aos usuários enquanto sujeitos de direitos com necessidades sociais diversas, que em geral interferem no processo saúde-doença. A pesquisa revelou que o cotidiano de trabalho do/a Assistente Social na UTI reflete o embate entre os projetos de saúde, que se expressam na concepção de saúde presente na equipe multiprofissional, nas práticas que se estruturam a partir do modelo biomédico hegemônico, e nas requisições postas ao Serviço Social, que em geral tem sido solicitado para colaborar com o cumprimento das normas institucionais.

Considerações Finais

Consideramos que embora o espaço da UTI se constitua como lócus de ações de alta densidade tecnológica, a estruturação de um trabalho pautado na lógica da clínica ampliada pode se fazer presente, a depender do modelo assistencial adotado. Os resultados expressam que é a lógica do modelo médico-hegemônico, voltado ao curativo individual, que direciona o processo de trabalho das equipes, e que, portanto, restringe as possibilidades de problematização de uma concepção ampliada de saúde pautada na determinação social. Desta compreensão, se afirma o principal desafio a atuação do Serviço Social neste espaço: contribuir para que o trabalho da equipe se estruture na direção da integralidade. Para tal, o Serviço Social pode contribuir ao negar sua inserção mediada por demandas que meramente reafirmam a lógica biomédica de intervenção no processo saúde- doença; ao buscar se apropriar da concepção da Determinação Social da Saúde pautada pelo MRSB, para questionar e tensionar a racionalidade hegemônica; ao problematizar as necessidades imediatas e se voltar para coletivização das demandas; ao pautar as reais necessidades dos usuários, dando visibilidade a saúde enquanto questão política; ao se articular ao projeto societário das classes que vivem do trabalho; atuando no fortalecimento da direção social da profissão presente no projeto ético-político da categoria. Apostar na articulação das equipes, nas práticas interdisciplinares, democráticas e participativas, onde a apreensão da perspectiva crítica de análise do processo saúde-doença e o desvelamento da questão social possam abrir possibilidades de pautar intervenções na trilha de valores humanos e politização da saúde é caminho para efetivação da integralidade, enquanto prática que defende os preceitos do MRSB.

Palavras Chave

TRABALHO EM UTI; INTEGRALIDADE; DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE; SERVIÇO SOCIAL.

Area

Determinação Social

Autores

GILIANE ALVES CARVALHO, MARIA DALVA HORÁCIO DA COSTA