Datos del trabajo


Título

A trajetória de mulheres até o diagnóstico de endometriose

Introdução

A endometriose é uma doença que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, podendo ser definida como a presença de células e tecido endometrial fora da cavidade uterina. As principais manifestações dessa patologia podem variar entre irregularidades menstruais, dor pélvica crônica incapacitante e infertilidade. A severidade desses sintomas é um fator que contribui diretamente para a diminuição da qualidade de vida da mulher portadora de endometriose, afetando assim o seu bem-estar físico, mental e social. A mulher muitas vezes não tem suas queixas valorizadas e nem reconhecidas pelos profissionais, gerando frustração e causando impacto negativo na vida da paciente. Tendo em vista essa desvalorização e pensando no âmbito da desmedicalização da consulta ginecológica, a consulta de enfermagem pode contribuir para a consolidação de um modelo humanizado no atendimento à mulher.

Objetivos

Descrever a trajetória das mulheres desde o aparecimento dos sintomas até o diagnóstico da endometriose.

Método

Trata-se de pesquisa descritiva e qualitativa, em que participaram 10 mulheres diagnosticadas com endometriose, acima dos 18 anos, residentes no município do Rio de Janeiro. Estas foram captadas em grupos fechados de uma rede social da internet. Para esta estratégia de captação das participantes e realização das entrevistas, foram selecionados grupos fechados de uma rede social usando a expressão “endometriose”. Estes grupos continham componentes que expressassem, direta ou indiretamente, através das discussões no grupo ou comentários, que algumas de suas participantes receberam diagnóstico de endometriose. Após a seleção dos grupos fechados, as pesquisadoras solicitaram autorização para ter acesso ao grupo fechado de discussão. Assim, participando das discussões do grupo, fizeram a captação de mulheres que atendiam aos critérios de inclusão do estudo. Após a captação, as pesquisadoras fizeram contato por mensagem privada e marcaram um encontro em local púbico, escolhido pela mulher. O cenário da pesquisa foi um local público de escolha da participante. Apesar de ser local público, procuramos um local mais afastado, distante do trânsito de pessoas para tentar garantir o máximo de privacidade durante as entrevistas. O instrumento de coleta de dados foi um roteiro de entrevista semiestruturada. A primeira parte composta por perguntas fechadas ligada à caracterização e a segunda, com uma pergunta orientadora e tópicos que foram introduzidos ao longo da entrevista. No local da entrevista, foi oferecido o Termo de Consentimento livre esclarecido (TCLE). Utilizou-se um aparelho eletrônico para gravação, após o consentimento das participantes. Foram excluídas as mulheres que não residiam no Município do Rio de Janeiro e/ou mulheres assintomáticas. Atenderam-se as exigências do Conselho Nacional de saúde e o projeto foi aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa (CEP), sob nº 1.650.425. Para tratamento dos dados foi utilizada a análise de conteúdo temático/categorial.

Resultados

As mulheres relataram sintomas fortes desde a primeira menstruação trazendo repercussões negativas para a sua vida profissional, social e afetiva. Referiram que nunca tiveram um ciclo menstrual sem dor, sentindo cólicas fortes, incapacitantes e presentes mesmo fora do período menstrual. Alegaram que os medicamentos proporcionavam um alívio nas dores relacionadas à endometriose, mas que não eram suficientes para acabar totalmente com o sintoma ou curar a doença. Para elas, por muito tempo, eram sintomas normais do período menstrual. Também relataram repercussões negativas no trabalho, referiram ir trabalhar, mesmo durante as crises de dor e sangramento intenso e em uso de medicações em excesso, principalmente pelo medo de serem malvistas. Algumas mulheres tiveram que abandonar o emprego devido à dificuldade em lidar com os sintomas. Os mesmos também repercutiram negativamente em sua vida pessoal, pois causaram interrupção de momentos como festas e viagens devido às crises. Nos relacionamentos amorosos, ocorreram brigas e o afastamento do parceiro. No período de busca das mulheres com sintomas até o diagnóstico, estas vivenciaram diversas dificuldades como à desvalorização dos seus sintomas por parte dos profissionais. Caracterizaram esta situação como descaso e falta de interesse por parte dos mesmos. Alegaram que, para os médicos, eram sintomas normais do período menstrual e não davam importância aos seus relatos. Além da falta de interesse e paciência, alguns profissionais não associavam os sintomas referidos pelas mulheres à endometriose, mas sim a outras doenças como infecções, inflamações e doenças sexualmente transmissíveis. As entrevistadas referiram ainda peregrinação por diversos médicos sem sucesso. Apontaram falta de conhecimento dos profissionais de saúde sobre endometriose. Além de referirem que os médicos ainda não estão preparados para definir diagnóstico e tratar a endometriose. As entrevistadas relataram que, para ter o diagnóstico da endometriose, necessitaram pagar por consultas particulares com médicos especializados e investir em planos de saúde. Segundo elas, os planos de saúde ajudam a diminuir os custos com a doença. Uma vez que o diagnóstico via Sistema Único de Saúde (SUS) é um processo demorado e que não podem depender. Relataram que foi necessária a realização de diversos exames, e que muitas vezes, não foi possível confirmar o diagnóstico. De uma forma geral, referiram demora para o diagnóstico definitivo. Algumas mulheres obtiveram o diagnóstico rapidamente, caracterizando como sorte. Outras entrevistadas tiveram o diagnóstico de endometriose após diversas tentativas para engravidar sem sucesso. Relataram ainda que os profissionais só suspeitaram de endometriose, após a falha tentativa de investigação de outras patologias.

Considerações Finais

Conclui-se que a escuta ativa e olhar sensível dos profissionais de saúde às demandas dessas mulheres é de suma importância. Devem fazer os devidos encaminhamentos em tempo oportuno, em especial, os enfermeiros a fim de garantir a melhoria da qualidade de vida da mulher com endometriose.

Palavras Chave

Enfermagem. Endometriose. Ginecologia. Saúde da Mulher.

Area

Saúde da Mulher

Autores

VANESSA SILVA OLIVEIRA, CAMILLA FREITAS CUNHA, KAROLINE RANGEL NEVES, CARLA MARINS SILVA