Datos del trabajo


Título

PRINCIPAIS FATORES QUE MOTIVAM O VOLUNTARIADO NA ATENÇAO A SAUDE DOS POVOS INDIGENAS

Introdução

No Brasil o acesso universal e equânime aos serviços de assistência à saúde aos povos indígenas ainda é um desafio, considerando a dificuldade de inserção de unidades de saúde e equipes multiprofissionais em terras indígenas. A organização da sociedade civil de interesse público Expedicionários da Saúde (EDS) realiza Expedições na Amazônia Legal, promovendo saúde aos povos indígenas em locais remotos. Diante deste contexto, considera-se o papel do voluntariado fundamental para tornar os governos em todo mundo mais responsáveis e ativos. Pesquisas atuais, tem sinalizado grande interesse na compreensão dos fatores motivacionais entre voluntários, decorrente da constante preocupação com a escassez de recursos humanos para à saúde, principalmente em países de renda média e baixa.

Objetivos

Apresentar os principais motivos para o voluntariado que atua na atenção primária à saúde indígena, em lugares remotos do Norte do Brasil.

Método

Trata-se de um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, foi utilizada a observação participante. A pesquisa foi desenvolvida durante as Expedições da ONG dos Expedicionários da Saúde (EDS) no decorrer de 2017. A escolha dessa ONG se deu por conveniência, pautada nos seguintes critérios: apresentar uma estrutura de atendimento diferenciado e único no Brasil, por meio de um hospital de campanha móvel, o qual é logisticamente montado em áreas indígenas remotas e de difícil acesso; possuir uma equipe diversificada de voluntários com profissionais da saúde e de outras áreas; realizar assistência cirúrgica de pequeno e médio porte, bem como, mutirões de atendimentos multiprofissionais exclusivos à população indígena durante as Expedições. Além de já ter sido qualificada como OSCIP (Organização Sociedade Civil de Interesse Público), ser reconhecida como tecnologia social eficiente e se manter ativa há 14 anos. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP, sob CAAE nº 57641116.0.0000.5404, assim como, obteve previamente, a autorização da ONG dos EDS para a realização do estudo. Participaram do estudo 102 voluntários EDS, com idade acima de 18 anos, vinculados e ativos na ONG. Os critérios de inclusão para a participação dos voluntários foram: ter idades acima de 18 anos; ser voluntário cadastrado na ONG dos EDS; ter participado, no mínimo, de uma Expedição e atuar na equipe de saúde ou logística. O perfil da amostra, foi caracterizado pelo gênero, idade, estado civil, tempo de atuação na ONG e profissão. Associado a um roteiro de questões semiestruturadas, que abordou sobre a motivação do voluntariado para entrada, permanência e saída da ONG dos EDS; bem como, suas expectativas de aprendizado e percepções sobre o desafio do voluntário para atuar neste contexto, além, das dificuldades propriamente ditas, para a ONG executar suas atividades. Os voluntários EDS que aceitaram participar do estudo, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A forma e horários para participação no estudo, por meio de um questionário semiestruturado, foi pactuado entre a pesquisadora e o voluntário EDS. Considerando a conveniência, o espaço e a privacidade para o participante, bem como, para a otimização da coleta, todos os questionários foram aplicados e recolhidos durante as Expedições no decorrer de 2017. Os registros dos questionários semiestruturados, foram digitados na íntegra e analisados por meio da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), desenvolvida por Lèfreve & Lèfreve.

Resultados

O voluntariado apresentou prevalência do gênero feminino (53,9%), idade de 40,20 com desvio-padrão (±10,58), estado civil casado (53,9%) com tempo de atuação na ONG (em anos) de 3,74 com desvio-padrão (±3,42) entre as profissões, teve destaque os profissionais médicos (37,3%). O questionário semiestruturado apontou a solidariedade (47,05%) seguida do convite ou influência de outros voluntários (22,54%) e boa reputação e reconhecimento do trabalho da ONG, como principais interesses para a filiação de diversos profissionais a este voluntariado, que atende a saúde indígena no Norte do Brasil. Em relação a expectativa de aprendizado, teve destaque o conhecimento sobre a cultura indígena (38,23%), o aprendizado sobre a solidariedade, a gratidão, a humildade e o respeito ao próximo (31,37%), seguido da troca de experiências (18,62%). A motivação do voluntariado em permanecer neste tipo de trabalho, foi evidenciada pela missão e valores da ONG (35,29%), seguido da oportunidade de novas experiências de vida (20,58%) bem como, os resultados positivos das Expedições (17,64%). Entre os motivos que conduziria o voluntariado ao desligamento da ONG, foi mencionado a distorção de princípios e valores da ONG (50%), seguido da falta de tempo, devido aos compromissos pessoais e profissionais (25,49%) e conflitos interpessoais (19,60%). E como desafio para exercer o trabalho voluntário nesta ONG, foi relatado pela maioria, a disponibilidade da agenda pessoal e profissional (32,35%), a dificuldade e riscos no translado até as Expedições (16,66%) seguido do cumprimento de metas e objetivos da ONG (15,68%). Por fim, a maioria do voluntariado mencionou como maior dificuldade, para a ONG executar seu trabalho, a organização e logística das Expedições (61,766%), em sequência, a gestão do voluntariado e sustentabilidade da ONG (38,23%) bem como, o apoio e incentivo governamental (26,47%).

Considerações Finais

Este estudo teve como objetivo conhecer e compreender a motivação do voluntariado que atua na saúde indígena no Norte do Brasil, buscando a voz dos profissionais que se voluntariam neste tipo de trabalho. Para tanto, a opção pela observação participante e aplicação de questionários viabilizou o contato e a vinculação da pesquisadora no contexto de estudo e, em especial, com os povos indígenas que foram assistidos durante as Expedições.
Compreende-se que o estudo acrescenta ao dar voz ao voluntariado, ao identificar e compreender sobre o que motiva diversos profissionais, a doarem seu tempo e habilidades, para o desenvolvimento da atenção primária à saúde entre os povos indígenas, de diferentes etnias, no Norte do Brasil.

Palavras Chave

Motivação. Trabalho Voluntário. Organização Não Governamental. Saúde de Populações Indígenas.

Area

Outros

Autores

Cintia Rachel Gomes Sales, Maria Inês Monteiro