Datos del trabajo


Título

CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO: UM ESTUDO QUALITATIVO DAS NECESSIDADES INERENTES À SOBREVIVÊNCIA

Introdução

Além da constatação da instalação de uma doença de alta morbidade, o diagnóstico positivo do câncer traz a vivência da dor, da alteração da autoimagem, da proximidade da morte, do distanciamento da família e da vida laborativa. Neste contexto, os tumores de cabeça e pescoço ganham importância epidemiológica devido à crescente incidência dos tumores de cavidade oral, esôfago e laringe. Em todo o mundo os sobreviventes ao câncer aumentam devido ao diagnóstico precoce e ao tratamento multimodal. Em 2022 haverá mais de 18 milhões de sobreviventes ao câncer só nos Estados Unidos. Cerca de 60% dos diagnosticados com câncer vivem mais de 5 anos posteriormente, o que faz com que a sobrevida longeva deixe de ser o único indicador em oncologia, por ensejar a questão do prolongamento da vida ou do sofrimento humano. Sob um novo prisma, indaga-se sobre as possíveis mazelas da longevidade após a experiência da patologia oncológica e a consequente agressividade do tratamento, porém, considerando-se também a qualidade de vida das pessoas diagnosticada e tratada. Assim, emergem as críticas ao conceito tradicional de sobrevivência, dando causa à proposição de um conceito (ainda em construção) que tende à ampliação paradigmática. Em lugar dos critérios de tempo, da ausência de doença ativa, dos efeitos colaterais tardios, sugere-se uma definição pautada em parâmetros subjetivos (qualitativos) como bem-estar e qualidade de vida. Tendo em conta a interdependência entre diagnóstico, tratamento e sobrevida, não cabe mais a noção de sobrevivência apenas sob o critério temporal linear. A sobrevivência ao câncer se torna ainda mais complexa quando das alterações de imagem. Os tumores de cabeça e pescoço implicam em deformações anátomo-fisiológicas da região crânio-facial, afetando diferentes funções imprescindíveis ao cotidiano do indivíduo, como visão, audição, equilíbrio, fonação e deglutição. Neste contexto, destacam-se as experiências dos sobreviventes ao câncer de câncer de cabeça e pescoço, geralmente portadores de tumores mutilantes, causadores de alterações de alto impacto na vida prática dos mesmos.

Objetivos

Descrever as necessidades dos sobreviventes ao câncer de cabeça e pescoço sob as perspectivas dos próprios sobreviventes, de seus familiares, de enfermeiros oncológicos e de gestores de serviços de oncologia.

Método

Pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, tendo como referencial metodológico a hermenêutica-dialética e como referencial teórico o conceito de sobrevivência ampliada. Como técnicas de produção de dados adotou-se a entrevista semiestruturada para os grupos de depoentes de sobreviventes, familiares e gestores de serviços de oncologia; e o grupo focal para o grupo de depoentes dos enfermeiros oncológicos. O procedimento metodológico de tratamento dos dados obtidos envolveu: (a) leitura compreensiva; (b) identificação dos significados subjacentes às falas dos participantes; (c) problematização das ideias por meio da articulação entre os significados presentes nos depoimentos e os significados socioculturais; (d) elaboração de síntese entre os dados empíricos e informações provenientes de outros estudos acerca do assunto, oferecendo aportes teóricos; (e) elaboração de esquemas do processo de análise interpretativa, contendo categorias empíricas e suas correlações com categorias teóricas, gerando sínteses de sentidos.

Resultados

A categorização do material empírico apontou três abrangentes sentidos: a) Necessidades como consequências do impacto biológico da doença e seu tratamento, composta pelas subcategorias Necessidade de adaptações do hábito alimentar, Necessidade de adaptações da capacidade de comunicação oral, Necessidades de controle da dependência química e Necessidade de manejo dos efeitos provocados pelo impacto da doença e seu tratamento; b) Necessidades como consequências do impacto psíquico da doença e seu tratamento, composta pelas subcategorias Necessidade de estratégias de enfrentamento ante a possibilidade de recidiva, Necessidade de acolhimento institucional, Necessidade de suporte psicológico ante o diagnóstico, Necessidade de suporte psicológico para a sobrevivência e Necessidade de suporte psicológico para familiares; Necessidades como consequências do impacto socioeconômico da doença e seu tratamento, com as subcategorias Necessidade de restabelecimento da convivência social, Necessidade de reconhecimento da família como grupo social fundamental ao sobrevivente, Necessidade de informações e acessibilidade aos direitos sociais, Necessidade de reinserção no mundo do trabalho, Necessidade de suporte financeiro para o sobrevivente.

Considerações Finais

No cenário atual, descortina-se um futuro cada vez mais longevo para os pacientes oncológicos, o conhecimento sobre as necessidades específicas dos sobreviventes ao câncer de cabeça e pescoço é de fundamental importância para subsidiar a elaboração de políticas públicas que estejam compatíveis com as demandas impostas por esta nova e crescente realidade. No que diz respeito às necessidades dos sobreviventes, torna-se evidente a urgência de adequação das linhas de cuidado por meio de uma assistência fundada na concepção de integralidade da pessoa. Quem tem doença oncológica, ativa ou não, está vivo; quem está vivo precisa viver com todas as suas dimensões em equilíbrio ou em relação de compensação equitativa, uma vez que as consequências físico-clínicas, psico-emocionais e socieconômicas instauradas pela doença e seu tratamento se interpenetram e estabelecem uma rede complexa de exigências de cuidados e desafios para os sistemas de saúde, os quais requerem um enfrentamento objetivo e imediato.

Palavras Chave

Determinação de necessidades de cuidados de saúde; Necessidades e demandas de serviços de saúde; Neoplasias de cabeça e pescoço; Sobrevivência; Sobrevida.

Area

Doenças crônicas/condições crônicas

Autores

Rildo Pereira Silva, Carolina Menezes Rabelo , Antonio Tadeu Cheriff Santos, Joecy Dias Andrade, Liz Maria Almeida