Datos del trabajo


Título

EDUCAÇAO PROBLEMATIZADORA EM UM ESPAÇO CORPORATIVO: CONSTRUINDO SOLUÇOES POR MEIO DO DIALOGO

Introdução

Estabelecer uma articulação entre o mundo da educação e o mundo do trabalho tem sido um desafio, inclusive no âmbito do sistema privado. As empresas vêm assumindo para si a responsabilidade de formar um perfil de trabalhador que detenha uma gama de competências que respondam às demandas do concorrido mercado capitalista, por intermédio da educação corporativa (1). A equipe multidisciplinar de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) legitimanente é formada por especialistas desta área, sendo eles o enfermeiro do trabalho, técnico de enfermagem do trabalho, médico do trabalho, engenheiro de segurança do trabalho e técnico de segurança do trabalho e a tendência atual no ambiente corporativo é mobilizar a competência desses profissionais no marco de referência do enfoque da interdisciplinaridade e do trabalho em equipe. Quando as atividades de educação corporativa da empresa em que atuam são pontuais, bancárias, baseadas em cursos e treinamentos verticalizados, a desagregação da equipe acaba sendo acentuada, haja vista que este tipo de proposta de educação restringe o diálogo e a troca de conhecimentos. Por outro lado, se o modelo de educação corporativa preconizado é problematizador, horizontal, valoriza o diálogo e a troca de conhecimentos, há o fortalecimento do vínculo entre os profissionais que passam a ter olhar coletivo acerca dos problemas (2,3).

Objetivos

Analisar a construção de soluções dialógicas por meio de uma ação de educação problematizadora em um espaço corporativo.

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, participativa, metodologicamente estruturada em cinco encontros sequenciais, ocorridos ao longo de três meses com uma equipe de SST de uma empresa de energia elétrica brasileira, aos quais foi proposto dialogar sobre a Norma Regulamentadora N. 35 do Ministério do Trabalho e do Emprego – Trabalho em Altura (NR-35) a partir das etapas do Método do Arco de Charles Maguerez, a saber: 1) Observação da Realidade, 2) Levantamento dos Pontos-Chave, 3) Teorização, 4) Hipóteses de Solução, 5) Aplicação à Realidade (4). Participaram do estudo 12 profissionais e os diálogos foram analisados à luz do referencial teórico de Paulo Freire. A pesquisa obteve parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos sob n. 711.518. Nessa pesquisa não houve interesse em discutir a norma NR-35 ou as decisões do grupo sobre como implementá-la, mas sim, focalizar o olhar na concepção dos diálogos problematizadores emergidos.

Resultados

A partir das falas foi possível analisar que os diálogos proporcionaram aos participantes refletirem acerca da necessidade de um trabalho de maior proximidade entre eles, com enfoque interdisciplinar, colaborativo e resolutivo. Os diálogos são fortemente marcados pela evocação do termo “trabalho em equipe”. Durante os encontros, ficou evidenciado um fortalecimento dos vínculos, permeado de criatividade na busca de soluções. Os profissionais interagiam fazendo perguntas sobre as rotinas uns dos os outros, problematizavam e já iam sugerindo alternativas para otimizar os processos de trabalho. A busca de soluções, quando encontrada a partir do coletivo, tem uma maior tendência em alcançar êxito, na medida em que os participantes conhecem o dia-a-dia da empresa com suas normas, enlaces, questões político-profissionais, e discutem sob diferentes pontos de vista e com conhecimentos específicos sobre os problemas encontrados, mas não perdem o foco no palpável, no aplicável àquela realidade em que estão inseridos. A partir do diálogo foi possível ver o escopo dos problemas e encontrar formas de mudar a situação, transformando a realidade. Cabe ponderar, todavia, acerca da dialética apresentada em alguns diálogos. A situação de opressor-oprimido emerge ao pensar e repensar nas possibilidades de soluções aos problemas vivenciados, muitas vezes pautadas em soluções assistencialistas e não com uma opção de solução politizadora, libertadora. Para Freire (5), “o grande perigo do assistencialismo está na violência do seu antidiálogo, que, impondo ao homem mutismo e passividade, não lhe oferece condições especiais para o desenvolvimento”. Dialética, pois a equipe vivencia o antagonismo de buscar soluções que auxiliem os trabalhadores a se libertarem da situação de opressão vivenciada, pensando em possibilidades de ajudá-los a exercer plenamente seus direitos, mas também se colocando no papel de opressora quando desconfia do uso que o trabalhador as soluções encontradas e busca enquadrá-los em uma delegação imposta. Outro aspecto que muito chama a atenção diz respeito ao franco uso da pergunta, frequentemente utilizada como ponte para troca de conhecimentos sem demonstração de constrangimento. Algumas falas evidenciam que o uso das perguntas efetiva a troca de conhecimentos especialmente no escopo interdisciplinar, no qual, mesmo tratando-se de uma equipe de SST que tem responsabilidades em comum, ficou claro que situações aparentemente corriqueiras muitas vezes não estavam bem elucidadas. No diálogo pautado na pedagogia da pergunta, os conteúdos não são imposições a serem depositados nas pessoas, mas sim, um modo de trabalhar coletivamente a partir de inquietações, de diferenças, de dúvidas(2).

Considerações Finais

O diálogo permitiu encontrar resultados coletivos para uma série de questões que individualmente seria difícil concluir, colaborando com a soma de conhecimentos específicos, valorizando os participantes e consolidando as decisões tomadas pelo grupo. Os resultados obtidos demonstram uma necessidade do fortalecimento do trabalho em equipe contextualizado em um processo dialógico e problematizador, que colabora para a valorização dos membros da equipe e para o encontro de soluções palpáveis para as situações-problema vivenciadas, transformando a realidade em que estão inseridos.

Referências

1- Mello AL, Backes DS, Terra MG, Rangel RF, Nietsch EA, Salbego C. (Re) pensando a educação permanente com base em novas metodologias de intervenção em saúde. Revista Cubana de Enfermería. 2017 [acesso 2018 mai 20]; 33(3). Disponível em http://revenfermeria.sld.cu/index.php/enf/article/view/1104
2- Freire P. Pedagogia do Oprimido. 32ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
3- Goes M. Coletivo. In: Streck DR, Redin E, Zitkodki JJ. Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 84-86.
4- Bordenave JD. O processo de aprender e ensinar no trabalho. Rio de Janeiro: 1996.
5- Freire P. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.

Palavras Chave

Diálogo. Educação problematizadora. Educação corporativa. Equipe de Saúde e Segurança do Trabalho.

Area

Políticas e processos de formação de profissionais e pesquisadores

Autores

Murielk Motta Lino, Jussara Gue Martini