Datos del trabajo


Título

O PROCESSO DE CUIDAR DE PESSOAS EM MORTE ENCEFÁLICA: ESTUDO DE CASO INTERPRETATIVO

Introdução

Cuidar de pessoas com diagnóstico de morte encefálica (ME) é uma questão complexa, pois envolve a capacidade dos profissionais de saúde para lidar com familiares e enfrentarem as fragilidades organizacionais e assistenciais, que poderão repercutir na qualidade do cuidado a essas pessoas e seus familiares.

Objetivos

Explorar a experiência vivenciada por profissionais de saúde intensivistas, no processo de cuidar de pessoas em ME.

Método

Trata-se de um estudo de caso interpretativo, foi desenvolvido em uma instituição hospitalar pública, de grande porte, localizado em Goiânia-GO, Brasil. Participaram 22 profissionais dos quais seis eram enfermeiros, seis médicos e dez técnicos de enfermagem. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada e a análise temática interpretativa incluiu as etapas de redução, organização dos dados, identificação das unidades de significado, construção dos núcleos temáticos e interpretação dos resultados.

Resultados

Foram identificados os núcleos temáticos: A dimensão técnica do cuidar de pessoas em ME: avanços e dificuldades; O desafio para lidar com a morte e o morrer; A abordagem familiar no contexto da ME. Identificou-se que os avanços na dimensão técnica do cuidar favoreceram normatizar e implantar protocolos assistenciais para definição do diagnóstico de ME, com forte ênfase na possibilidade de captação de órgãos para transplante. Nesse contexto, os serviços de saúde, em especial as equipes intensivistas, tiveram que se tornar experts na definição precoce do diagnóstico de ME, sendo esta a situação com maior potencial para a captação de órgãos. No entanto, apesar da definição de diretrizes para esse tipo de atendimento, o processo para a conscientização do significado de ME como uma situação complexa, com demandas de cuidado tanto técnico quanto relacional humanístico, ainda representa um grande desafio para as equipes intensivistas. Para os profissionais, lidar com a morte e o morrer em situações de ME é um processo emocionalmente desgastante e angustiante para todos, que demanda apoio psicológico. Para alguns, após a conclusão do protocolo e confirmação de ME, o paciente passa a ser visto como um cadáver, um “objeto”, um corpo cujo coração bate apenas com o suporte de mecanismos artificiais. Para outros, lidar com a morte gera um sentimento de perda do paciente. Um dos momentos mais difíceis é quando se decide que os “aparelhos serão desligados”, pois a desconexão do ventilador é vista como uma medida crítica, delicada e angustiante, embora integre o protocolo de confirmação e, portanto, seja necessário que todos os membros da equipe se conscientizem de ser um procedimento necessário. Apesar de reconhecerem esta necessidade, sentem desconforto: “como se o paciente estivesse na beira do abismo e você fosse lá e empurrasse ele”. A família, muitas vezes não incluída no plano terapêutico nem acolhida corretamente, vivencia este complexo momento com grande dificuldade. As lacunas do cuidado decorrentes do distanciamento da equipe, da falta de empatia e da ausência de uma comunicação eficaz com os familiares prejudicam o estabelecimento de vínculo afetivo e a construção de uma relação de confiança com os familiares. Abordar a família com o propósito de comunicar essa notícia não é uma tarefa fácil, pois a maneira como isso será feito influenciará no processo de enfrentamento do luto e na tomada de decisão sobre a terapêutica. Assim, pontuaram a dificuldade de aceitação dos familiares e assinalaram a necessidade de serem melhor informados, em linguagem clara e objetiva, sobre o significado do diagnóstico e a conduta terapêutica.

Considerações Finais

Verificou-se que apesar de diversos avanços tecnológicos para confirmação deste diagnóstico, os profissionais ainda se consideram incapazes e inseguros para lidar com as questões inerentes à ME. Embora compreendam o conceito e os critérios diagnósticos, carecem de habilidades para lidar com segurança nessas situações, o que pode ser melhorado por meio de treinamentos, simulações realísticas e discussões de casos que ampliem o conhecimento sobre o tema e amenizem os equívocos mais frequentes. Considera-se primordial discutir o protocolo institucional com os membros da equipe multiprofissional, a fim de dirimir as dúvidas e aprimorar os protocolos para que todos possam atuar em sintonia, capacitados e seguros a prestar uma assistência de qualidade. Necessário também que as equipes intensivistas incorporem valores humanísticos ao processo de cuidar no sentido de não olhar somente para a esfera curativa e diagnóstica daquela situação, mas, também, para o paciente em ME e seus familiares, com a preocupação de suprir as necessidades psicossociais emanadas deste diagnóstico. É preciso cuidado para que, nesse momento, os profissionais não se tornem meros captadores de órgãos e saibam equilibrar aspectos biomédicos e humanísticos do cuidar em saúde, de modo que o cuidado seja centrado no paciente e na família. O paciente em ME precisa ser visto como uma pessoa, e não como um conjunto de órgãos a serem tratados, e isso demanda identificar quais estratégias têm sido eficazes para melhorar a humanização do cuidado e o acolhimento das famílias nessas situações. Paralelamente, as instituições de graduação e pós-graduação devem incluir a temática nas matrizes curriculares, pois o despreparo e a falta de conhecimento dos educandos prejudicará todo o processo de cuidar de pessoas em morte encefálica.

Palavras Chave

Morte encefálica; Unidades de Terapia Intensiva; Equipe de Assistência ao Paciente; Pesquisa Qualitativa

Area

Saúde e populações vulneráveis

Autores

NAILIN MELINA PIRES SEIXAS, VANESSA CARVALHO SILVA VILA