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Título

CARTOGRAFIA COMO METODO DE INVESTIGAÇAO DOS MODOS DE INTERAÇAO DISCIPLINAR NA ATENÇAO PRIMARIA A SAUDE

Introdução

A Atenção Primária à Saúde (APS) constitui o nível de assistência à saúde, que representa a porta de entrada dos usuários na rede de serviços e como proposta de reorganização, tem-se a Estratégia Saúde da Família (ESF) que preconiza a formação de equipes multiprofissionais, formadas a fim de minimizar a fragmentação dos saberes.
Nenhum profissional, isoladamente, é apto para atender todas as demandas da população, sendo necessária atuação conectada entre os membros da equipe, o que acarreta em benefícios para os profissionais, através do enriquecimento do saber e para os pacientes, no sentido de uma assistência integral, que possibilite a resolução da complexidade dos problemas em saúde.
A fim de responder a esta complexidade, surge a necessidade de se trabalhar a multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade nas práticas dos serviços de saúde no âmbito da APS. Multidisciplinaridade baseia-se na definição de objetivos comuns compartilhados por todos os membros da equipe, não havendo sintetização das funções e sim o agrupamento de métodos e disciplinas isoladas. Quando essa interação é realizada de maneira a favorecer a cooperação entre os profissionais, alcança-se a interdisciplinaridade, que conduz os profissionais à modificação do seu conhecimento inicial, com atuação conjunta e enriquecimento dos saberes, culminando no alcance de um objetivo comum. Nesse contexto, há troca de saberes que ultrapassam os limites de cada área. A partir disso, surge o terceiro nível: a transdisciplinaridade que se caracteriza pelo desaparecimento das fronteiras que separam os conhecimentos específicos de cada profissão, possibilitado pela forte interação entre as disciplinas, produzindo-se uma macrodisciplina, a qual engloba a atuação conjunta e a agregação de conhecimentos com enfoque mais amplo.
O interesse em investigar o assunto proposto surgiu a partir da atuação do pesquisador como membro de equipe de ESF e da atuação individualizada dos profissionais, que se mostrou insuficiente para a resolução das demandas sensíveis à APS. Em meio aos desafios do campo de atuação, o “agir em saúde” se conceitua como maneira de modificação e reinvenção através da investigação do “que se passa entre”, nas dificuldades enfrentadas no cotidiano de prática da saúde a serviço dos indivíduos e coletividades, situação vivenciada na prática da APS. Assim, considerando a proximidade e inserção do pesquisador no cenário de estudo, optou-se pela cartografia como método de pesquisa, devido esta representar uma abordagem que visa acompanhar processos, tendo como pressuposto a figura do cartógrafo como atuante deste processo, não desejando manter-se neutro ou distante da investigação e da produção do conhecimento e da subjetividade, a qual tem como característica o movimento, a transformação, a processualidade.

Objetivos

Relatar a experiência da abordagem cartográfica na investigação do conhecimento dos profissionais de APS quanto aos modos de interação disciplinar: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, no tocante às características conceituais que distinguem esses termos, bem como na compreensão das vivências dos mesmos quanto aos modos de interação.

Método

Trata-se de um estudo de delineamento qualitativo sob a perspectiva da cartografia. Por meio da utilização de grupos focais, pretende-se compreender os modos de interação disciplinar nas práticas de profissionais da APS do município do norte de Minas Gerais.
O estudo encontra-se no período de ‘colheita’ dos dados. O planejamento inicial prevê a realização de quatro grupos focais com profissionais médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas, no entanto, cartografar é acompanhar processos e nesse movimento, também habitar um território existencial com a possibilidade de encontros diversos com a realidade vivenciada pelas equipes. Até o presente momento, dois grupos já foram realizados e as impressões discutidas aqui são pautadas em resultados parciais.

Resultados

Nos dois grupos realizados, houve a participação de seis e nove profissionais, respectivamente. A partir das análises das narrativas, observou-se que o conhecimento dos participantes acerca da conceituação e distinção dos três termos foi confusa. Em contrapartida, foi identificado que a prática desses profissionais permeia a multi e interdisciplinaridade, o que evidencia que a realidade das demandas força a interação entre os profissionais, os quais a realizam de maneira sutil, mas desconhecendo o embasamento teórico: "fazer, sem saber que está fazendo”. Diante das discussões, outros pontos foram levantados, como os fatores facilitadores e dificultadores do processo, bem como as perspectivas dos profissionais quanto práticas futuras. Isso foi possível por meio do entendimento da realidade como complexa e rizomática, o que significa que esta encontra-se em constante mutação, composta pelo plano das formas, o que se é instituído e binário, e das forças, que moldam e afetam as formas, sendo que esses planos se atravessam e percorrem diversas direções, caracterizando a multiplicidade e diversidade de conexões possíveis, aliado a isso, a compreensão, por parte do pesquisador, ocorreu devido inserção do mesmo, no campo de atuação dos participantes, o que possibilitou o acompanhamento do processo em investigação.
Por conseguinte, é necessário salientar a importância do método cartográfico na condução do presente estudo, pois a cartografia apresenta-se como uma maneira de realizar uma pesquisa-intervenção, com finalidade de acompanhar e também transformar a realidade investigada, em que o encontro do pesquisador com seu objeto de estudo representa um aspecto importante no processo de investigação, conhecimento e modificação. Isso ocorre devido à indissociabilidade entre pesquisa e intervenção na cartografia. Essa percepção tem embasado a postura do pesquisador desse estudo, que durante os grupos focais, além de coletar os dados necessários, preocupa-se em impulsionar a discussão sobre o tema e a auxiliar os participantes no processo de auto-reflexão da realidade e de suas práticas, coerente com a intervenção intrínseca e proposta pelo método da cartografia.

Considerações Finais

A partir das primeiras impressões do campo, observa-se a necessidade de educação permanente dos profissionais da APS quanto ao entendimento dos níveis de interação disciplinar, a fim de reforçar as práticas já realizadas e convidá-los a desenvolver outras ações, a partir da reflexão sobre fatores facilitadores e dificultadores desse processo. Ressalta-se a coerência entre o objeto de estudo e a escolha do método cartográfico de investigação, devido à inserção e participação do pesquisador/cartógrafo no campo de pesquisa e na produção do conhecimento.

Palavras Chave

Cartografia, Atenção Primária à Saúde, Comunicação Interdisciplinar

Area

Processo de trabalho e profissionalização