Datos del trabajo


Título

CONTRIBUIÇOES DA FENOMENOLOGIA PARA A COMPREENSAO DAS EXPERIENCIAS DE ENFERMIDADE E INCAPACIDADE EM TRABALHADORES COM DOENÇAS CRONICAS DE LONGA DURAÇAO

Introdução

Adoecimento crônico como uma experiência social é tema importante de estudo das Ciências Sociais. “(...) as condições crônicas impõem limites à vida”. Pensar em cronicidade envolve pensar em reorganização da vida e estratégias para se adaptar a certa condição”1. “A doença age como fator de ruptura de um fluxo cotidiano, fazendo com que a pessoa enferma e seus familiares necessitem de nova reorganização das suas atividades diárias”2. A doença traz consigo, além de danos nos níveis biológico e emocional dos indivíduos, novas formas de estar no mundo. Toma-se a condição de cronicidade como “experiência da enfermidade”. Esta última é definida como “um termo que se refere aos meios pelos quais os indivíduos e grupos sociais respondem a um dado episódio da doença”3. No tocante à saúde do trabalhador, sabe-se que, em tempos de avanços tecnológicos e de precarização das relações de trabalho4, novas doenças ocupacionais têm surgido (associadas ou não a estas tecnologias) as quais, trazem a necessidade de novas perspectivas para a compreensão da experiência de adoecimento e enfermidade em razão das relações de trabalho. Muitas vezes, ao buscarem tratamentos médicos, os trabalhadores sequer possuem a percepção de que seus problemas de saúde estão associados a questões ocupacionais. Assim, é através da análise dos contextos em que estes trabalhadores adoecidos estão situados, que é possível a compreensão da experiência de adoecimento e convivência com a (ou apesar da) doença5 e a construção de tecnologias em saúde voltadas à promoção, prevenção e reabilitação dos mesmos ampliando assim, esse campo da Saúde Coletiva. Ao se debruçar sobre a temática do “adoecimento crônico de trabalhadores”, compreende-se a Fenomenologia como referencial teórico metodológico adequado para auxiliar na compreensão da experiência de enfermidade e neste caso, no entendimento dos arranjos que se realizam, principalmente entre trabalhadores, amigos, familiares, empregadores e colegas de trabalho nos diferentes contextos do mundo da vida. Este trabalho busca discutir as contribuições da fenomenologia, enquanto referencial teórico-metodológico para a compreensão da experiência da enfermidade para estudos de trabalhadores acometidos por doenças crônicas.

Objetivos

Situar a Fenomenologia como um referencial teórico-metodológico para a compreensão das experiências de cronicidade e incapacidade para o trabalho.

Desenvolvimento

As sociedades brasileira e mundial vivem grandes desafios, como o aumento da longevidade, a precarização do trabalho, globalização, aumento da incidência das doenças crônicas, acidentes no trânsito e violência por causas externas6. Por incapacidade para o trabalho, compreende-se uma condição de saúde/doença, que extrapola o corpo biológico dos sujeitos, que os impedem de ser inseridos/incluídos no campo do trabalho. Trata-se de um fenômeno multidimensional, que agrega um somatório de fatores que estão no campo biológico e social7. Do ponto de vista fenomenológico, a experiência de enfermidade/cronicidade afeta a relação eu/mundo do sujeito, provocando processos de negociação da própria identidade. A partir deste ponto de vista, a experiência do adoecimento crônico deve ser tomada como experiência social1. A Hermenêutica se alia junto à fenomenologia “não somente como um método de acesso à compreensão das ações humanas, mas a base que sustenta toda a compreensão”, entendendo que “compreensão não é uma faculdade humana entre as outras, é o modo essencial que o homem tem de existir no mundo”8. A intersubjetividade aparece como um aspecto fundamental para a análise fenomenológica sendo, portanto, “processos de interação com os outros desenvolvidos na esfera cotidiana”8. No que diz respeito à ST, sabe-se que este campo foi parcialmente acolhido pela Saúde Pública tendo em vista que este campo vive o constante desafio técnico-operacional de promover, dentre outras questões, a assistência em todos os níveis da atenção, a formação permanente dos profissionais de saúde, os debates intergestores e a gestão participativa na busca por desenvolver práticas de saúde em contextos onde a política brasileira insiste em não considerar a categoria trabalho dentre os determinantes sociais dos agravos da população em geral9. Viver com e apesar da doença depende das relações intersubjetivas dos trabalhadores enfermos nas suas relações com colegas, gestores e instituições laborais. Tal aspecto merece ser considerado na perspectiva da incapacidade e da cronicidade de trabalhadores em ambientes de trabalho tendo em vista que, por “mundo da vida”, compreende-se todo o “cenário e também objeto de nossas ações e interações”, como também “o mundo intersubjetivo que já existia muito antes de nosso nascimento, que já foi experimentado e interpretado por outros, nossos antecessores, como um mundo organizado”10. Assim, o trabalho é um contexto do mundo da vida desses sujeitos que deve ser situado para se compreender quais os reflexos dessas interações para os trabalhadores acometidos por doenças crônicas de longa duração. Estudos qualitativos têm apresentado nas últimas décadas a potencialidade do uso do referencial teórico-metodológico da fenomenologia – hermenêutica para acessar as experiências de enfermidade nos contextos de trabalho11-14. Tais pesquisas apontam que o “mundo da vida” pode ser comparado analogicamente a um campo, onde os seres humanos interagem entre si a partir das suas experiências e o encara como realidade. Trata-se de um mundo já significado e experienciado por outros e que será assim sucessivamente. Nesse sentido, este é visto como um mundo organizado e já existe um estoque de experiências anterior a alguém. Tal estoque é compartilhado e compõe a experiência atual e novas de muitos e outros que virão. Assim, esse estoque se comporta como um sistema de referência10. Assim, dentro da perspectiva fenomenológica-hermenêutica, a doença pode ser compreendida como um “conjunto de elementos socioculturais que estão interligados entre si. Sickness se refere ao mundo da doença, isso é, um horizonte de significados, condutas e instituições associadas à enfermidade ou ao sofrimento”8. Tais, conhecimentos apresentados por estudos qualitativos com referenciais hermenêutico-fenomenológicos têm permitido o acesso às experiências de trabalhadores que convivem com doenças crônicas e as incapacidades que podem estar a elas associadas.

Considerações Finais

Ao propormos investigar a experiência de cronicidade e incapacidade com doenças crônicas de longa duração, percebemos que o referencial teórico-metodológico da fenomenologia-hermenêutica possui a potencialidade de permitir a compreensão das experiências vividas pelos trabalhadores e trabalhadoras nos diferentes contextos em que estão situados.

Palavras Chave

fenomenologia, incapacidade; cronicidade; saúde do trabalhador

Area

Deficiência, Inclusão e Acessibilidade

Autores

Gabriela Souza de Oliveira Sampaio, Jamille Baultar Costa, Jorge Alberto Bernstein Iriart, Marcelo Marcelo Eduardo Pfeiffer Castellanos , Monica Angelim Gomes de Lima, Robson da Fonseca Neves