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Título

PRESENTEISMO EM TRABALHADORES DA ENFERMAGEM: COMPREENDENDO AS EXPERIENCIAS E OS FATORES RELACIONADOS

Introdução

No rol dos fenômenos indicativos de precarização das condições de saúde no trabalho, destaca-se neste estudo o conceito de presenteísmo, entendido como o ato de ir trabalhar mesmo estando enfermo ou ir ao trabalho apesar de uma condição de adoecimento que demandaria ao trabalhador sua ausência no trabalho ou absenteísmo (1). Os serviços de saúde representam um campo no qual esta situação é frequente, o que pode resultar em impactos negativos para as instituições de saúde, as pessoas atendidas e os próprios trabalhadores (2). Os profissionais da saúde podem estar mais sujeitos ao presenteísmo considerando as características de seu trabalho, que consiste no cuidado a pessoas em situação de vulnerabilidade e adoecimento, o que aumenta a responsabilidade e o compromisso em estar presente e produtivo no trabalho (3). Nesse sentido, estudos sobre o tema são necessários considerando-se a escassez de pesquisas qualitativas sobre presenteísmo entre trabalhadores da enfermagem no Brasil. Tais estudos são fundamentais a fim de conceder voz a esses profissionais para que expressem suas vivências sobre este fenômeno, propondo estratégias de transformação.

Objetivos

Este estudo teve como objetivo compreender as experiências de presenteísmo vivenciadas por profissionais da enfermagem, bem como os fatores relacionados à ocorrência deste fenômeno, a partir das perspectivas dos próprios trabalhadores.

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, tendo como referencial teórico o materialismo histórico-dialético no estudo da saúde dos trabalhadores (4-5). Foram realizadas entrevistas individuais e semiestruturadas com 16 profissionais da enfermagem, sendo três enfermeiras e treze técnicas(os) de enfermagem, com atuação mínima de seis meses na área e vivência de no mínimo um episódio de presenteísmo em seu exercício profissional. A coleta de dados foi realizada entre fevereiro e maio de 2018 e para acesso aos participantes foi adotada a estratégia bola de neve (6). Os primeiros informantes foram abordados por meio de convite inicial à rede de contatos das pesquisadoras, realizado via correio eletrônico, e a partir dos mesmos, outros potenciais participantes foram indicados. O número total de participantes foi definido por meio de amostragem por saturação teórica (7). As entrevistas realizadas, conduzidas por meio de um roteiro semiestruturado construído pelas autoras, foram gravadas, transcritas e inseridas no Software Atlas ti versão 8, visando sua organização e gerenciamento. Os dados foram analisados a partir da Hermenêutica-Dialética (8), em busca da articulação entre categorias empíricas e analíticas, gerando uma síntese interpretativa. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

Resultados

A partir da análise qualitativa, foram produzidas três categorias temáticas: “Adoecimento e presenteísmo: para além dos limites”, “Doente, mas presente: fatores que conduzem ao presenteísmo”, e “Fatores de redução do presenteísmo”. Os resultados indicaram que os trabalhadores da enfermagem ausentaram-se do trabalho apenas em casos de problemas de saúde considerados graves ou extremamente incapacitantes (cólica renal, dengue, lesão nos olhos ou mãos) ou que podiam ser transmitidos aos colegas de trabalho e pacientes (conjuntivite, herpes e viroses). Por outro lado, problemas de saúde não menos danosos não impediram os trabalhadores de comparecerem em suas atividades laborais, situação expressa em relatos como “fui trabalhar arrastada”. Dentre eles, destacaram-se os problemas respiratórios, gastrointestinais, osteomusculares e psíquicos, como estresse, ansiedade e depressão. Tal panorama indica que comumente os trabalhadores ultrapassam seus próprios limites físicos e mentais para estarem ativos no trabalho, situação que agrava um quadro de saúde já comprometido. Por conseguinte, para sobreviver ao presenteísmo, eles referiram automedicar-se a fim de cumprirem suas atividades. Dentre os fatores que resultaram no ato de irem trabalhar mesmo doentes, identificou-se: a preocupação com a sobrecarga dos colegas de trabalho, intensificada pela desproporção entre profissionais e pacientes atendidos; a incompreensão e pressão da chefia frente ao absenteísmo; escassez ou falta de substitutos no caso de ausência no trabalho; cultura institucional punitiva, gerando temor em apresentar o atestado médico, ser visto como um “mau funcionário” ou sofrer perda de benefícios laborais; e por fim, o medo de perder o emprego. Entretanto, os trabalhadores entrevistados também apontaram aspectos que contribuem para a redução do presenteísmo, dentre eles um ambiente de trabalho com relacionamento colaborativo entre colegas e chefias, bem como contextos nos quais o vínculo laboral é considerado mais estável. Nesse sentido, o presenteísmo não se refere unicamente à escolha do trabalhador: é, portanto, influenciado por aspectos relacionais, organizacionais, institucionais, econômicos e socioculturais que permeiam o cotidiano dos profissionais da enfermagem.

Considerações Finais

Os trabalhadores da enfermagem enfrentam diversas formas de precarização laboral, com impactos em suas condições de saúde, dentre eles a ocorrência de presenteísmo. Por tratar-se de um fenômeno multifacetado e com efeitos negativos na segurança do paciente e na saúde dos próprios trabalhadores, torna-se fundamental uma discussão permanente sobre o tema nos espaços de trabalho, propondo-se medidas de transformação. Neste sentido, melhores condições ambientais e materiais, promoção de uma cultura institucional colaborativa e transparente em termos de saúde e segurança no trabalho e, por fim, a criação de canais de discussão e reflexão sobre o tema, com participação ativa dos próprios trabalhadores, são medidas fundamentais para a superação desta realidade.

Palavras Chave

Enfermagem; Saúde do Trabalhador; Presenteísmo.

Referências:
1. Dew K, Taupo T. The moral regulation of the workplace: presenteeism and public health. Soc Healt Ill. 2009; 31(7): 994-1010.
2. Krane L, Larsen EL, Nielsen CV, Stapelfeldt CM, Johnsen R, Risør MB. Attitudes towards sickness absence and sickness presenteeism in health and care sectors in Norway and Denmark: a qualitative study. BMC Pub Health. 2014; 14:880.
3. Jonhs G. Presenteeism in the workplace: A review and research agenda. J Org Behavior. 2010; 31:519–42.
4. Laurell AC, Noriega M. Processo de produção e saúde: trabalho e desgaste operário. São Paulo: HUCITEC; 1989. 333 p.
5. Seligmann-Silva E. Trabalho e desgaste mental: o direito de ser dono de si mesmo. São Paulo: Cortez; 2011.624 p.
6. Faugier J, Sargeant M. Sampling hard to reach populations. J Adv Nurs. 1997; 26:790–7.
7. Fontanela BJB, Luchesi BM, Saidel MGB, Ricas J, Turato ER, Melo DG. Amostragem em pesquisas qualitativas: proposta de procedimentos para constatar saturação teórica. Cad Saud Publ. 2011; 27(2):389-94.
8. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14th ed. São Paulo - Rio de Janeiro: HUCITEC – ABRASCO; 2014.

Area

Outros

Instituciones

Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Minas Gerais - Brasil

Autores

Andreia Fabiana de Oliveira Alves, Adrielle Rosália Candido de Moraes, Mariana Donadon Caetano, Heloísa Cristina Figueiredo Frizzo, Tanyse Galon