Datos del trabajo


Título

EXPERIENCIAS DE PRESENTEISMO ENTRE TRABALHADORAS DOMESTICAS REMUNERADAS

Introdução

Como uma atividade expressiva no interior do mercado de trabalho a nível mundial, o trabalho doméstico é considerado uma das mais antigas e destacadas formas de emprego para o contingente feminino em todo o mundo (1). As trabalhadoras domésticas remuneradas, também conhecidas como “empregadas domésticas”, desenvolvem múltiplas funções a nível domiciliar, atuando única ou simultaneamente como faxineiras, cozinheiras, lavadeiras, passadeiras ou cuidadoras, entre outros serviços. Dentre as formas de precarização laboral que vivenciam, destacam-se a sobrecarga de trabalho, os baixos salários, situações de preconceito e desvalorização, bem como uma predominante inserção na informalidade, com baixo alcance de direitos trabalhistas (1-2). Este panorama laboral pode impactar nas condições de saúde desse grupo, incluindo a ocorrência de presenteísmo, fenômeno que consiste no ato de ir trabalhar mesmo estando enfermo ou em condição de adoecimento que demandaria a ausência no trabalho (3). Tal situação pode intensificar os processos de morbidade dos trabalhadores, sendo ainda escassos os estudos sobre essa temática, em especial no contexto do trabalho doméstico.

Objetivos

Por conseguinte, o presente estudo teve como objetivo compreender as experiências de presenteísmo entre trabalhadoras domésticas remuneradas, a partir das perspectivas das próprias trabalhadoras.

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, tendo como referencial teórico o materialismo histórico-dialético no estudo da saúde dos trabalhadores (4-5). Foram realizadas entrevistas individuais e semiestruturadas com 20 trabalhadoras domésticas remuneradas, registradas ou não registradas, com atuação mínima de seis meses no trabalho doméstico remunerado, com idade igual ou superior a 18 anos, e que relataram ter vivenciado no mínimo um episódio de presenteísmo. A coleta de dados foi realizada entre março e maio de 2018 e para a busca de participantes foi obtida permissão formal de uma instituição localizada na cidade de Uberaba-MG, ligada à prefeitura local, que oferta informações sobre demandas de emprego. A partir deste lócus, foram identificados informantes-chave que geraram outros contatos, permitindo o desenvolvimento da estratégia bola de neve (6). O número de participantes foi definido por meio de amostragem por saturação teórica (7). As entrevistas realizadas, conduzidas por meio de um roteiro semiestruturado construído pelas autoras, foram gravadas, transcritas e inseridas no Software Atlas ti versão 8, visando sua organização e gerenciamento. Os dados foram analisados a partir da Hermenêutica-Dialética (8), em busca da articulação entre categorias empíricas e analíticas, gerando uma síntese interpretativa. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

Resultados

Visando refletir as experiências de presenteísmo vivenciadas pelas trabalhadoras domésticas, quatro categorias de análise foram produzidas: “Prazer e sofrimento no trabalho doméstico”, “Presenteísmo: escolha ou precarização laboral?”, “Problemas de saúde relacionados ao Presenteísmo”, e “Entre a desesperança e a luta”. Os resultados mostraram que as trabalhadoras domésticas apresentam uma visão ambivalente sobre sua atividade, vista como fonte de orgulho e sustento, mas também como geradora de sofrimento e insatisfação. As falas desvelaram um cotidiano laboral marcado pela polivalência e sobrecarga de trabalho, relações conflituosas e dúbias com os patrões/empregadores, vivências de desvalorização, discriminação e violência, além da dupla jornada de trabalho (“fora e dentro de casa”), cujos impactos negativos afetam a vida laboral e pessoal. Sobre os fatores relacionados à ocorrência de presenteísmo, os resultados evidenciaram que não se trata de mera escolha individual das trabalhadoras. O ato de trabalhar mesmo doente decorre de aspectos como pressão dos patrões/empregadores, medo de perder o emprego ou ter prejuízo financeiro, preocupação com o sustento familiar, e autocobrança e senso de responsabilidade. Nesse contexto, o presenteísmo esteve ligado a problemas de saúde físicos e mentais, dentre eles o estresse, problemas osteomusculares, problemas respiratórios devido exposição a produtos químicos, e acidentes de trabalho envolvendo quedas, levando-as, portanto, a um agravamento do quadro de saúde. Destaca-se que as trabalhadoras referiram ausentar-se do trabalho apenas em casos de adoecimento considerado grave, automedicando-se nas demais situações a fim de evitarem o absenteísmo. Este cenário indica, portanto, que as trabalhadores domésticas comumente ultrapassam seus limites para manterem-se ativas no trabalho. Por fim, sentimentos de desesperança e escassez de informações sobre sindicatos, associações e direitos no trabalho indicaram algumas fragilidades nas estratégias de enfrentamento da precarização laboral. Entretanto, as trabalhadoras, reconhecendo sua luta cotidiana, apontaram a necessidade de transformação e melhorias em suas condições laborais, sobretudo o acesso aos direitos no trabalho e a valorização de sua atividade pelos governantes, empregadores e sociedade geral.

Considerações Finais

As trabalhadoras domésticas enfrentam formas históricas de precarização laboral manifestadas por desigualdades de gênero, cor, raça, classe e etnia, o que gera impactos em suas condições de trabalho e saúde, dentre eles a ocorrência de presenteísmo. Por conseguinte, espera-se que os resultados desta pesquisa contribuam para o avanço na elaboração de estratégias direcionadas às trabalhadoras domésticas, com vistas à valorização simbólica e concreta de sua atividade e promoção e proteção de sua saúde no trabalho. Além disso, torna-se fundamental a criação, divulgação e real cumprimento de direitos no trabalho doméstico, para que situações crônicas de desvalorização e precarização sejam substituídas pelo empoderamento e pela capacidade de transformação dessas mulheres.

Palavras Chave

Trabalho Doméstico; Saúde do Trabalhador, Presenteísmo.
Referências:
1. International Labor Organization. Domestic workers across the world: global and regional statistics and the extent of legal protection. International Labour Office – Geneva: ILO; 2013 [cited 2017 mar 10]. Available from: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/---publ/documents/publication/wcms_173363.pdf. Acesso em 10 mar 2017.
2. Brites JG. Trabalho doméstico: questões, leituras e políticas. Cad Pesq. 2013; 43(149): 422-51.
3. Dew K, Taupo T. The moral regulation of the workplace: presenteeism and public health. Soc Healt Ill. 2009; 31(7): 994-1010.
4. Laurell AC, Noriega M. Processo de produção e saúde: trabalho e desgaste operário. São Paulo: HUCITEC; 1989. 333 p.
5. Seligmann-Silva E. Trabalho e desgaste mental: o direito de ser dono de si mesmo. São Paulo: Cortez; 2011.624 p.
6. Faugier J, Sargeant M. Sampling hard to reach populations. J Adv Nurs. 1997; 26:790–7.
7. Fontanela BJB, Luchesi BM, Saidel MGB, Ricas J, Turato ER, Melo DG. Amostragem em pesquisas qualitativas: proposta de procedimentos para constatar saturação teórica. Cad Saud Publ. 2011; 27(2):389-94.
8. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14th ed. São Paulo - Rio de Janeiro: HUCITEC – ABRASCO; 2014.

Area

Outros

Instituciones

Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Minas Gerais - Brasil

Autores

Mariana Donadon Caetano, Andreia Fabiana de Oliveira Alves, Adrielle Rosália Candido de Moraes, Letícia Lopes Silva, Tanyse Galon