Datos del trabajo


Título

EXPERIÊNCIAS DE CASAIS COM PARTO DOMICILIAR: da escolha à vivência

Introdução

No século XVI, o parto era entendido como um ato feminino, no qual mulheres apoiavam emocionalmente outras mulheres, e as ajudavam a parir em suas próprias casas. As parteiras tradicionais da comunidade assumiam a assistência ao parto das mulheres que viviam ao seu redor. Com o passar dos anos e o desenvolvimento tecnológico, a assistência à saúde migrou-se para o modelo biomédico, o qual concebeu o parto como uma doença a ser tratada no hospital. Na atual condição obstétrica do Brasil, de cesáreas indiscriminadas e desrespeito à capacidade de autonomia da mulher, o parto domiciliar resgata a naturalidade do processo, mas acima de tudo a autonomia da mulher sobre seu corpo e suas decisões no processo de nascimento, evidenciando a necessidade de um processo de re-significação do sistema de saúde, tomando a mulher e família protagonistas do parto e nascimento. Hoje, o movimento de humanização do parto e nascimento retoma o domicílio como opção segura de local para o parto, desde que com equipe qualificada para a assistência. Neste contexto de medicalização do parto, os casais que tomam tal decisão passam por diversas dificuldades em todo o ciclo gravídico-puerperal.

Objetivos

Compreender os elementos que facilitaram e dificultaram a trajetória e vivência de casais com o parto domiciliar

Método

Trata-se de um estudo de casos múltiplos com abordagem qualitativa. O estudo de caso foi definido como um meio de organizar dados sociais, preservando o caráter unitário do objeto social estudado, com intuito de mapear, analisar e descrever o meio, as relações e percepções frente a um fenômeno ou episódio em questão (1). A pesquisa foi realizada em uma cidade do interior de São Paulo, Brasil, com população aproximada de 240 mil habitantes, com área de 1.136,907 km2 e densidade demográfica de cerca de 195 hab/km2 (2). A coleta de dados foi realizada de março a maio de 2017 (três relatos) e nos meses de novembro e dezembro de 2017 (dois relatos) totalizando aproximadamente 15 horas de gravação em áudio. O instrumento de coleta de dados foi inspirado na Metodologia de Investigação Comunicativa (3), a qual preconiza o diálogo igualitário, que considera as diferentes contribuições dos sujeitos em função da validade de seus argumentos, ao invés de valorizá-las com base em posições de poder que os sujeitos ocupam. Foi utilizado o relato comunicativo - entrevista diferenciada em que a análise é realizada com a participação dos sujeitos. A análise dos dados foi guiada pelo Método da Análise de Conteúdo.

Resultados

A análise dos dados empíricos culminou nas seguintes categorias: "Fugindo do modelo vigente de atenção ao parto", "Experiências familiares negativas com parto normal", "Movimento de busca de informações e empoderamento" e "Apoio (ou não) da família e dos amigos". Os resultados apontam que a falta de apoio da família e de amigos na decisão do parto domiciliar, assim como as experiências familiares negativas com o parto, foram aspectos que dificultaram a trajetória destes casais. Já as fontes de informação e empoderamento e o respeito da equipe à autonomia da mulher foram aspectos que trouxeram satisfação com a experiência vivida. A fuga do modelo vigente da atenção ao parto e nascimento não significa que o parto domiciliar seja um "mar de rosas". Como qualquer modelo em formação, o parto domiciliar necessita de constante reflexão sobre sua prática. Destaca-se a necessidade contínua de comunicação entre equipe e familiares no momento do parto, dado importante apontado pelos casais como perturbador quando a equipe não está sensibilizada a isso. Este potencial entrave indica a necessidade de alinhar a forma como a equipe se reporta ao casal, notadamente no que diz respeito à evolução do trabalho de parto que, independente do local onde ocorra, gera inseguranças as quais são intensificadas por tais circunstâncias. Realização de estudos acerca desse assunto é extremamente importante, visto que não se encontra na literatura tal abordagem. Todos os casais citaram o parto domiciliar como forma de fuga do sistema vigente de atenção ao parto que ocorre nos hospitais e identificou-se também que o parto domiciliar não garante 100% de satisfação e autonomia do casal.

Considerações Finais

Conclui-se que todos os casais entrevistados optaram pelo parto domiciliar após profundo estudo e busca de informações, considerando-se bem-sucedidos em suas vivências e tendo como ponto de destaque positivo elementos como autonomia de decisões, respeito da equipe envolvida e sentimentos de maior pertencimento e envolvimento com o processo de parir. Compreender se a autonomia do casal está sendo respeitada como um todo, assim como o que pode ser melhorado na prática do parto domiciliar é imperativo para que se entregue a excelência pretendida nesse modelo de assistência. Ao olhar os fenômenos parto normal e domiciliar percebemos que o Brasil ainda possui uma longa jornada de evolução à frente. Para as mulheres, a escolha do local de parto deve ser um direito explícito, um dever do sistema de saúde prover um ambiente livre de julgamentos, para que ela possa ser atendida com respeito, acolhimento e empatia independente das circunstâncias. Esta pesquisa apontou indícios de que quando a equipe de parto domiciliar não se comunica adequadamente, em especial com os familiares, não os colocando a par dos acontecimentos, estes se sentem excluídos do processo, aspecto que merece ser aprofundado em pesquisas posteriores. Também desperta a atenção para explorar a experiência de famílias com os filhos mais velhos que presenciaram o processo do parto, o que não é passível de se concretizar em âmbito hospitalar.

Referencias
(1) Goode W, Hatt P. Métodos em pesquisa social. São Paulo: Nacional; 1973.

(2) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [www.ibge.gov.br]. Contagem Populacional [Acesso em 30 mar 2017]. Disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=354890&search=sao-paulo|sao-carlos

(3) Gómez J, Latorre A, Sánchez M, Flecha R. Metodología Comunicativa Crítica. Barcelona: El Roure; 2006.

Palavras Chave

Parto humanizado; Acontecimentos que mudam a vida; Parto domiciliar; Família.

Area

Saúde da Mulher

Autores

Márcia Regina Cangiani Fabbro, Rafaela Roque Siani Hiene, Natália Salim, Nayara G. Baraldi