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Título

O VIVIDO DE MAES CUJOS FILHOS MORRERAM EM DECORRENCIA DE ACIDENTES DOMESTICOS NA INFANCIA

Introdução

Os acidentes estão entre as principais causas de morte em crianças e, parcela significativa, ocorre no domicílio, desafiando os conceitos tradicionais de segurança na infância. Como consequência do alto índice de mortes em decorrência de acidentes domésticos na infância têm-se os impactos na vivência familiar que podem desencadear implicações importantes no cotidiano das pessoas envolvidas. Em geral, a mãe é a principal figura atingida, em virtude de ser quem assume a maior parte das responsabilidades no cuidado do filho. Usualmente, estas vivenciam o processo de tristeza e também sentimentos como mágoa, raiva, ansiedade, medo, desespero, culpa, solidão, os quais precisam ser melhor estudados, a fim de fornecer subsídios para a atenção e cuidado ao enlutamento materno.

Objetivos

Desvelar o sentido do vivido de mães cujos filhos morreram em decorrência de acidentes domésticos na infância.

Método

Estudo de natureza qualitativa, fundamentado na fenomenologia existencial de Martin Heidegger, realizado no município de Floriano, Piauí, Brasil, com 10 mães cujos filhos morreram em decorrência de acidentes domésticos na infância. Realizou-se entrevista fenomenológica entre maio e junho de 2017. A analítica balizada no referencial metodológico heideggeriano envolveu dois momentos metódicos: a compreensão vaga e mediana e a compreensão interpretativa ou hermenêutica. O estudo foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (CAAE nº 62791616.0.0000.5214), e aprovado por meio do parecer nº 1.872.403.

Resultados

A análise compreensiva mostrou que as mães negaram sentir-se culpadas pela morte dos filhos, apesar dessa culpa lhes ser imputada, algumas vezes, por si e pela sociedade, representada por vizinhos e profissionais da saúde. Justificaram a ausência de culpa através da afirmação e reafirmação do cuidado que dispensavam ao filho antes da ocorrência do acidente. Compreenderam que a própria criança poderia ter sido capaz de evitar a morte, ao referir que era capaz ou acostumada a desenvolver a ação que a vitimou, ou que ela já tinha idade suficiente para entender os riscos que envolveram o acidente doméstico. Por outro lado, as mães consideraram que a criança poderia ter sido cuidada por outras pessoas e buscaram, assim, apontar culpados pela morte do filho, que podiam ser filhos mais velhos, esposo, sobrinha, vizinha ou o médico que atendeu à criança. Atribuíram também a Deus a responsabilidade pelo ocorrido, mostrando-se resignadas ao afirmar que a morte do filho aconteceu por uma vontade divina. Ao mesmo tempo, essas mães mencionaram a inexistência de culpados, atribuindo a ocorrência do acidente doméstico à fatalidade e ao destino. Ao significar o vivido da morte do filho, descreveram o acidente, os procedimentos, os cuidados fornecidos e os momentos finais em que o filho morreu. Relembraram como se sentiram ao saber da morte do filho e de como ainda não conseguiam entender o que aconteceu. Significaram que o sofrimento profundo diante da morte do filho foi vivido no passado, mais intensamente nos primeiros dias, meses e primeiro ano decorridos do falecimento. É revivido e vivenciado no presente, através da falta diária e das datas importantes e objetos/símbolos da criança. E anteciparam que tais sentimentos serão vivenciados no futuro, ao determinarem que a dor e a falta que sentem dos filhos nunca irá passar. Ao encarar o cotidiano após a morte dos filhos, as mães se compreenderam com medo, o qual trouxe limitações para suas vidas e de seus outros filhos. Referiram ainda a necessidade de ser fortes para enfrentar o sofrimento e expressaram a importância do suporte familiar e da espiritualidade. A análise hermenêutica desvelou que, existencialmente, o ser-aí-mãe-cujo-filho-morreu-em-decorrência-de-acidente-doméstico-na-infância encontrou novos modos de ser mãe, que possibilitaram a continuidade da relação com o filho. Preso ao passado, mostrou-se na impessoalidade, na impropriedade e na inautenticidade movido pela publicidade do cotidiano de ser mãe, cuja compreensão mediana revelou-se por meio do falatório. Desse modo, prendendo-se ao vigor-de-ter-sido-mãe-desse-filho-vivo vive o agora na ideia de não mais vir a ser o que era antes da morte do filho, o que a distância de uma existência autêntica. No discurso das mães, visualiza-se que o tempo de estar enlutado não é delimitado pelo passar dos dias. Ao contrário, nota-se que o tempo (cronológico) não apaga as lembranças, pois a presença do filho continua viva em seu existir-no-mundo. Ao negar a culpa pela morte da criança, destacou as funções maternas desempenhadas e mostrou-se ocupado e preocupado (de forma autêntica e inautêntica). No modo de ser da ocupação, o ser-aí-mãe significa a ausência da culpa diante da morte do filho, ao mostrar-se ocupado com o trabalho que fazia em casa, como cozinhar, lavar louça, entre outras atividades que visavam a organização doméstica e o bem-estar do filho, e fora do ambiente doméstico, para prover as necessidades financeiras. Absorvido no mundo que imediatamente vem ao encontro, o ser-aí-mãe se deparou com as ações que sabe-como suas, exercendo seu papel que já é desde sempre determinado como de sua responsabilidade e, assim, lhe é familiar. Após a morte, passou a ocupar-se do filho nas cerimônias destinadas à homenagem aos mortos e se mostrou no modo de uma preocupação reverencial. Desvela-se no modo de ser-para-a-morte cotidiano e impessoal, ao não aceitar que ele mesmo e o(s) filho(s) podem morrer. Nessa disposição, teme no modo do pavor, mas precisa ser forte para apoiar o marido e cuidar dos outros filhos. Para isso, oscila em cuidar e ser cuidado, por vezes de forma autêntica e, em outras ocasiões, inautêntica.

Considerações Finais

O desvelamento dos modos de ser das mães permitiu identificar que a morte de um filho é uma experiência complexa, capaz de alterar suas vidas e conduzir ao sofrimento intenso, multidimensional, dinâmico e duradouro. No contexto do processo de luto materno e na perspectiva para a promoção do cuidado, emergem, assim, as necessidades de ampliar a compreensão e os modos de acolhimento à dor da mãe enlutada, refletindo sobre a culpa enquanto constituinte do enlutamento materno, e acrescer as discussões acerca da morte, em especial no cerne da infância, de modo a diminuir preconceitos e tabus que cercam esse tema.

Palavras Chave

Morte. Criança. Acontecimentos que Mudam a Vida. Comportamento Materno. Relações Mãe-Filho. Luto.

Area

Outros

Instituciones

Instituto Federal do Piauí - Piauí - Brasil, Universidade Federal do Piauí - Piauí - Brasil, Universidade Federal do Piauí - Piauí - Brasil, Universidade Federal do Piauí - Piauí - Brasil

Autores

Maria Augusta Rocha Bezerra, Karla Nayalle de Souza Rocha, Silvana Santiago da Rocha, Diogo Filipe Santos Moura