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Título

A EXPERIENCIA DE DOR CRONICA NA ADOLESCENCIA: UMA PESQUISA QUALITATIVA RELACIONADA A SUBJETIVIDADE PRESENTE NO FENOMENO DOLOROSO.

Introdução

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) caracteriza a dor crônica como um fenômeno multidimensional e subjetivo. Estudos na área apontam que a dor crônica é uma das principais causas de incapacidade, licenças médicas, absenteísmo ao trabalho e hiperutilização do sistema de saúde, configurando-se como um importante problema de saúde pública. Devido à grande demanda para tratamento, e à complexidade do fenômeno doloroso, um tratamento multidisciplinar faz-se necessário. Com efeito, o psicanalista com a especificidade do seu saber pode ser um dos integrantes da equipe. De acordo com a psicanálise lacaniana, a adolescência é uma etapa da vida que por si só se configura como uma fase de crise psíquica a ser atravessada por todos os sujeitos. Na transição da adolescência para a fase adulta, o adolescente se confronta com o abandono do corpo infantil, a escolha na partilha dos sexos e a separação da relação que o adolescente tinha com os pais na infância. Essas mudanças envolvem perdas, lutos e reconstruções que só serão realizadas com o engajamento do sujeito na via desejante, que se concretizará através de novos laços afetivos tanto na esfera da amizade como no amor e a sua imersão no campo profissional. A experiência de dor crônica ao longo do atravessamento da adolescência pode tanto enaltecer conflitos e embaraços relacionados à transição para a vida adulta como camuflar tais dificuldades. Para os adolescentes, a aceitação pelos pares, a autoimagem e a aquisição de habilidades para a conquista da independência são questões muito importantes. Entretanto, o processo de adoecimento muitas vezes pode causar isolamento social, alteração da imagem corporal, dificuldades no processo de aprendizagem e aumento da dependência na relação com os pais. Diante da complexidade inerente ao processo de transição da adolescência para fase adulta e a experiência de um adoecimento crônico, os serviços de assistência à saúde preocupam-se cada vez mais com a passagem dos pacientes da pediatria para os serviços de adultos. A criação de ambulatórios de transição que visam preparar o adolescente para a sua transferência aos serviços de saúde adulto deixam em evidência a necessidade de estudos específicos sobre a saúde do adolescente.

Objetivos

Analisar os mecanismos subjetivos envolvidos na experiência de dor crônica na adolescência e seu respectivo controle, investigar a função exercida pela dor no psiquismo do sujeito e o lugar que pode ocupar frente à dinâmica familiar.

Método

Pesquisa qualitativa interpretativa. Local: hospital de oncologia pediátrica. População: vinte e dois participantes ao todo, onze pacientes com idade entre 14 e 24 anos que finalizaram o tratamento quimioterápico e estão em seguimento no hospital, somente no ambulatório de dor; e suas respectivas mães. Coleta de dados: entrevista semiestruturada com três etapas; primeiro momento mãe e filho; no segundo somente a mãe e no terceiro somente o adolescente. Análise de dados: análise de conteúdo de Bardin à luz da teoria psicanalítica de Freud e Lacan.

Resultados

A partir da análise de conteúdo foram construídas quatro categorias: 1) Inibição na atualização vivida na adolescência dos conflitos inerentes ao processo constitutivo de separação do Outro familiar; 2) atravessamento na atualização vivida na adolescência dos conflitos inerentes ao processo constitutivo de separação do Outro familiar; 3) A posição inconsciente do sujeito frente à demanda do Outro; 4) A condição de supor a sustentação de um desejo próprio no futuro.

Considerações Finais

Por meio da análise preliminar, foi possível constatar que para além do peso do tratamento oncológico, a subjetividade dos pacientes e dos seus familiares interfere no quadro de dor crônica. Com o estudo foi possível identificar uma relação entre maior intensidade de inibição na atualização dos conflitos psíquicos vivida na adolescência inerentes ao processo constitutivo de separação do Outro familiar e maior dificuldade da equipe em controlar a dor. Também foi possível reconhecer uma relação entre menor condição de supor a sustentação de um desejo próprio no futuro, e maior intensidade dos fenômenos de paralisação na vida e ganho secundário com a dor. Os dados preliminares do presente estudo demonstraram uma problemática importante relacionada a separação de alguns pacientes em relação aos pais, ou seja, foi possível verificar a existência de uma demanda de cuidado anterior ao processo de transição para um serviço de saúde adulto. Ficou incerto se essa relação indiferenciada imaginária, entre mãe e filho é preexistente ao câncer, ou se a vivência de um câncer na infância ou adolescência desencadeou tal fenômeno. Espera-se que as respostas a esta investigação possam ajudar a equipe de saúde com a construção de estratégias ao longo do tratamento levando à melhora da adesão e diminuição de efeitos iatrogênicos com o tratamento. Jovens adultos sobreviventes de câncer, mesmo sofrendo de uma doença crônica como a dor, deveriam seguir com o seu processo de transição para a vida adulta, realizando conquistas tanto no âmbito profissional quanto amoroso, com o apoio adequado da equipe de saúde, deixando, assim, de se tornarem um importante problema de saúde pública contemporâneo.

Palavras Chave

adolescência, oncologia, dor crônica, psicanálise lacaniana, transição.

Area

Saúde do Adolescente

Instituciones

Graacc/Unifesp - São Paulo - Brasil

Autores

Maria Tereza Piedade Rabelo (Mestranda), Renata Petrilli (Doutoranda), Juliana Molina (Doutorado), Ana Laura Prates Pacheco (Pós-doutorado), Mariana Cabral Schveitzer (Pós-doutorado), Claudio Arnaldo Len (Livre-docência)