Datos del trabajo


Título

O manipulador de alimentos: considerações a partir do conceito de estigma

Introdução

A Organização Mundial de Saúde considera as Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) como uma importante causa de morbidade e mortalidade em todo o mundo tendo emergido, em muitos países, como um progressivo problema econômico e de saúde pública. Dentre os fatores determinantes de surtos de DTA destacam-se as práticas inadequadas de higiene pessoal dos manipuladores de alimentos, considerados, para efeito de inspeção sanitária, qualquer pessoa que entra em contato com substâncias alimentícias durante o processo de produção de alimentos. Nessa perspectiva, estudos relacionados à temática fortalecem o discurso do manipulador de alimentos como sendo o principal responsável pela ocorrência de DTA em detrimento de outros fatores e apresentam o treinamento destes como uma solução preventiva. A rotulação do manipulador de alimentos como fundamental agente na transmissão das DTA é a origem da análise que procuramos apresentar a partir da perspectiva teórica do interacionismo simbólico. Esta abordagem sociológica entende os processos de interação social entre indivíduos ou grupos mediados por relações simbólicas e, assim, atribui importância ao sentido que as coisas têm para os indivíduos oriundo desta interação. Assim, o significado é um produto social que surge das atividades dos indivíduos a partir das suas interações.

Objetivos

Refletir, a partir da noção de estigma de Erving Goffman, sobre a construção de uma identidade dos manipuladores de alimentos associada à ideia de culpabilidade na transmissão das DTA.

Desenvolvimento

A noção de estigma nos ajuda, nas situações cotidianas do trabalho, a pensar na possível criação de uma característica distintiva ao grupo de manipuladores de alimentos, conhecida ou não por estes, estigmatizada. Na obra de Erving Goffman: “Estigmas: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada”, o autor argumenta que os meios de categorizar as pessoas e os atributos concedidos aos membros de cada uma das categorias são determinados pela sociedade. Os ambientes sociais constroem significados através da interação nas rotinas de relações com outras pessoas e instituem de modo pouco reflexivo expectativas normativas em relação à conduta de grupos ou das pessoas, individualmente. Os estudiosos do interacionismo simbólico investigam como as pessoas criam significados durante interação social, como eles se apresentam e constroem o próprio ego ou" identidade", e como são definidas as situações de co-participação com outros. O argumento de que a identidade de um determinado grupo é construída a partir dos parâmetros e expectativas estabelecidas pelo meio social é que orienta nossa análise. Assim, estudos no campo da Alimentação e Nutrição e das Ciências dos Alimentos ao enfatizar o papel do manipulador de alimentos como principal via de contaminação alimentar, remete a noção de possível inadequação de práticas de higiene levando à contaminação dos alimentos pelo manipulador associada ao estigma como um mal que pode ser propagado por este grupo de trabalhadores. A informação transmitida por estes estudos pode confirmar aquilo que outras informações, como por exemplo, a baixa escolaridade, baixa renda familiar per capita e nível de conhecimento nem sempre satisfatório em Boas Práticas de Fabricação de alimentos, nos dizem sobre o indivíduo, complementando a imagem que temos dele, características tidas como sendo negativas. Não é preciso que os indivíduos envolvidos na interação social, os estigmatizados e os tido como normais, se conheçam pessoalmente. É comum nos deparar com aqueles que ainda não estão na prática profissional com discursos que imputam ao manipulador de alimentos a responsabilidade pela contaminação alimentar. Ao mesmo tempo, observamos uma ‘condescendência’ ao identificar nos estudos uma referência ao protagonismo desse grupo de trabalhadores na produção de um alimento seguro. Esse atributo que visa valorizar os manipuladores, na realidade, está desqualificando-o. Afinal, por meio de treinamentos persistentes eles devem preencher os padrões comuns que lhes são exigidos. Essas análises preliminares sinalizam como a desvalorização de um grupo social contribui para a condição maléfica que a ele é atribuído e seu efeito de descrédito contribui na formação de um estigma. Esse processo coloca em segundo plano, no caso do Brasil, outros fatores relacionados às condições de produção de um alimento de responsabilidade do Estado e dos empregadores, como a política de educação de um país e as condições de trabalho aos quais esses trabalhadores estão sujeitos, dentre outros.

Considerações Finais

através destas observações, buscamos dar visibilidade à possível construção de uma identidade social dos manipuladores de alimentos estigmatizada pelos discursos produzidos nos ambientes sociais por não responderem positivamente às expectativas dos órgãos de fiscalização sanitária, dos acadêmicos, dentre outros. Conforme Goffman, como se estivesse sendo destruída a possibilidade de atenção para outros atributos inerentes ao grupo de manipuladores de alimentos. Essa reflexão, no entanto, não se esgota aqui. Faz-se necessário, por exemplo, analisar como o manipulador de alimentos, enquanto estigmatizado, desenvolve sua ação social. Acreditamos que ampliar teoricamente as análises sobre os fatores relacionados à veiculação das DTA, em especial, a culpabilidade atribuída aos manipuladores de alimentos, contribui para um olhar mais reflexivo sobre o tema ao apontar a construção de um estigma para explicar a ocorrência de fenômenos que dependem, prioritariamente, de outros fatores.

Palavras Chave

Estigma; Higiene; Interacionismo simbólico; Manipulador de alimentos.

Area

Alimentação e Nutrição

Autores

Leonardo Teixeira de Souza, Fabiana Bom Kraemer, Shirley Donizete Prado